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Estado de Minas CALI

Petro, ex-guerrilheiro que quer mudar a tradição de poder na Colômbia


23/02/2022 10:45

Um exército de guarda-costas vigia a multidão que grita seu nome. O ex-guerrilheiro Gustavo Petro, favorito nas pesquisas para a presidência da Colômbia, está confiante de que desta vez nem mesmo o "fantasma do assassinato político" afugentará a ascensão da esquerda "progressista".

Com 61 anos, estatura mediana e óculos grossos, Petro desafia a longa tradição dos governos liberais e conservadores após abandonar a luta armada e assinar a paz em 1990.

Muito ativo nas redes sociais, denuncia a desigualdade e a pobreza, os danos ambientais e a violência endêmica de mais de meio século.

Após um discurso em Jamundí, Petro falou à AFP na cidade vizinha de Cali (sudoeste). O ex-prefeito de Bogotá pretende ser eleito no primeiro turno das eleições presidenciais em 29 de maio. Se conseguir, será um marco em um país historicamente dominado pela direita.

Escoltado por uma dezena de veículos blindados, o candidato se considera um sobrevivente de "uma longa tradição de assassinatos políticos" que só no século XX matou cinco candidatos à presidência.

Petro se distancia dos governos da Venezuela e da Nicarágua e se alinha ao "progressismo" de Luiz Inácio Lula da Silva, no Brasil, e do recém-eleito Gabriel Boric, no Chile.

No entanto, garante que retomará as relações com Caracas - rompidas desde 2019 - e abrirá a fronteira para "preencher o vazio que os grupos mafiosos ocupam hoje".

O ex-guerrilheiro do M-19 volta aos ringues após perder em 2018 para o atual presidente, Iván Duque.

Pergunta: Por que sua candidatura representa uma ruptura?

Resposta: A oligarquia colombiana está prestes a ser derrotada, que é basicamente uma elite política e econômica que excluiu a maioria do país.

A fome, por meio de uma política econômica desastrosa, se espalhou na Colômbia (...) Os percentuais de pobreza aumentaram, a economia continua fragilizada (...) E todo aquele clima de desilusão, desencanto, com um projeto muito autoritário, quase fascista, do Uribismo (força no poder) é o que gerou as condições para a mudança política.

P: Você tem medo de ser assassinado?

R: Não para de aparecer como um flash, quando me misturo na multidão, quando estou no palanque numa praça cheia, que alguém poderia atirar(...) mas procuro evitar pensar nisso. Nenhum esquema de segurança pode garantir que o candidato não seja eliminado. Na Colômbia há uma longa tradição de assassinato político (...) Então a possibilidade existe. Espero que não aconteça (...) Aspiramos a vencer no primeiro turno, mas tanto o fantasma da fraude quanto o fantasma da morte estão conosco.

P: Qual seria sua diferença em relação a Venezuela, Nicarágua e Cuba?

R: Um novo progressismo está surgindo na América Latina (...) que tem a ver com uma diferença fundamental e que não é basear as economias na extração de matérias-primas não renováveis (...) que prejudicam a humanidade e que não é mais sustentável para um processo econômico. E fortalecer ainda mais os processos de desenvolvimento com base no conhecimento e na produção. Esse eixo pode ser perfeitamente configurado (...) com Lula, com Boric que já está posicionado, e espero que com meu nome.

Acho que marcaria as lutas sociais e o progressismo latino-americano de uma maneira diferente do que fizeram Daniel Ortega e (Nicolás) Maduro, que basicamente continuam a estabelecer uma ideia retórica esquerdista baseada na extração de petróleo; com base em ter uma república das bananas que aprisiona qualquer tipo de opositor.

P: Qual seria sua política em relação aos Estados Unidos?

R: Existem assuntos comuns a serem abordados. Um deles é a solução para a crise climática (...) Existe uma política comum que tem a ver com a floresta amazônica, que é uma das grandes absorvedoras de CO2, que tem a ver com novos formas de tecnologia na agricultura e na indústria (...) Temos que ver como dar um salto para uma economia descarbonizada, livre de petróleo.

P: Quais seriam suas primeiras decisões como presidente?

R: A assinatura de contratos de exploração (de petróleo) na Colômbia cessaria (...) porque queremos iniciar a transição energética, a transição na mobilidade e os processos de descarbonização da economia. A fome aqui está trazendo maiores níveis de insegurança e acho conveniente estabelecer um programa imediato e urgente de combate à fome (...) e poder reequilibrar a sociedade com seu grande potencial agrícola e produtor de alimentos.

P: E o tráfico de drogas?

R: O glifosato foi um grande fracasso na Colômbia. Além de envenenar nossas terras e nossas águas, o custo de fumigar um hectare com glifosato é maior do que o custo de dar terra fértil ao agricultor. Essas políticas são mais efetivas (...) com um aparato de prevenção, de atenção ao consumidor por parte do Estado.

Uma política pacífica de desmantelamento do narcotráfico também poderia ser estabelecida concomitantemente com base em submissões coletivas à justiça que implicassem em benefícios legais em troca da não repetição. Essa política é obviamente feita com base no fato de que a cocaína é ilegal e acredito que no mundo continuará sendo assim durante meu governo.


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