"Parece técnico, mas é necessário um passo administrativo e, então, não pode existir certificação do gasoduto e, sem certificação, o Nord Stream 2 não pode começar a operar", afirmou Sholz.
"Não podemos aceitar o reconhecimento (das regiões pró-Rússia), e por isto é tão importante reagir agora e rápido", declarou.
O chanceler alemão advertiu para a possibilidade de anunciar "outras sanções", em caso de agravamento da situação na fronteira ucraniana. Disse ainda que confia na aprovação de medidas punitivas "fortes" contra a Rússia, por parte da União Europeia.
Apesar das declarações, Scholz pediu mais oportunidades para a diplomacia, de modo a evitar uma "catástrofe".
"É o objetivo de todos os nossos esforços diplomáticos", frisou.
O ministro ucraniano das Relações Exteriores, Dmytro Kuleba, saudou a suspensão, "política e moralmente justificada". A Casa Branca também celebrou a decisão da Alemanha e disse que os Estados Unidos anunciarão, ainda hoje, suas próprias sanções à Rússia.
O presidente Joe Biden "deixou claro que, se a Rússia invadisse a Ucrânia, atuaríamos com a Alemanha para garantir que o Nord Stream 2 não avançasse. Tivemos estreitas consultas com a Alemanha durante a noite e agradecemos por seu anúncio. Continuaremos com nossas próprias medidas hoje", disse a secretária de Imprensa da Casa Branca, Jen Psaki, no Twitter.
Poucas horas depois de o presidente russo, Vladimir Putin, ter reconhecido a independência das regiões pró-Rússia do leste da Ucrânia, Washington anunciou as primeiras sanções limitadas. Elas foram dirigidas, especificamente, contra os territórios separatistas de Donetsk e Lugansk.
Por meio de uma ordem executiva, Biden proibiu qualquer novo investimento, comércio, ou financiamento, por parte de americanos, para, de, ou dentro dessas regiões pró-Rússia.
- Muitas críticas desde o início
O Nord Stream 2 foi concluído em novembro passado, mas ainda não entrou em operação. Seu projeto provocou dúvidas econômicas e geopolíticas desde o começo.
O início da operação dependia de uma certificação da agência reguladora alemã de energia, que estava analisando o possível desrespeito a dispositivos das legislações alemã e europeia.
Agora, o governo alemão decidiu dar um passo à frente com a suspensão, consequência dos últimos eventos na fronteira entre Rússia e Ucrânia.
O projeto estará sujeito a uma "reavaliação" política por parte do Ministério da Economia, devido à nova "situação geopolítica" apresentada após o reconhecimento de Moscou das províncias ucranianas pró-russas, explicou o chanceler.
O Nord Stream 2 se estende por 1.230 quilômetros sob o Mar Báltico e tem capacidade de 55 bilhões de metros cúbicos de gás por ano. Segue o mesmo percurso que o Nord Stream 1, que funciona desde 2012.
O gasoduto evita o território ucraniano e aumentará o abastecimento de gás russo à Europa, no momento em que a produção própria registra queda.
O Nord Stream 2 enfrenta entraves desde que foi lançado, estando no centro das batalhas geopolíticas e econômicas desde sua concepção.
Durante vários anos, o projeto opôs Estados Unidos e Alemanha, mas também os europeus entre si, bem como Rússia e Ucrânia.
Promovido pela gigante russa Gazprom e orçado em mais de 10 bilhões de euros, o projeto foi cofinanciado por cinco grupos europeus do setor energético: OMV, Engie, Wintershall Dea, Uniper e Shell.
Principal promotor do gasoduto dentro da UE, a Alemanha defende que a ajudará a alcançar a transição energética, na qual embarcou. Ao mesmo tempo, tornará seu território um "hub" de gás europeu.
Mas os críticos do projeto foram muitos.
A Ucrânia, em primeiro lugar, teme perder a receita que obtém com o trânsito do gás russo e ficar mais vulnerável em relação a Moscou. Mais cedo nesta terça, o presidente Vlodimir Zelensky reiterou seu pedido de uma suspensão "imediata" do projeto.
Os Estados Unidos foram contra desde o início, devido ao risco de enfraquecimento econômico e estratégico da Ucrânia, assim como ao aumento da dependência da UE do gás russo, que poderia dissuadir os europeus de comprar o gás de xisto que os americanos esperam vender para o bloco.
Por causa das ameaças de sanções americanas, várias empresas também se retiraram do projeto, em particular as seguradoras.
O presidente Joe Biden iniciou seu mandato com uma postura extremamente hostil ao Nord Stream 2, em linha com seus antecessores. Inesperadamente, porém, o governo americano anunciou no final de maio de 2021 que estava desistindo de impor sanções à Nord Stream 2 AG, responsável pela operação do gasoduto. Removeu-se, assim, um obstáculo essencial para seu comissionamento.
Após várias semanas de intensas negociações, os Estados Unidos anunciaram, em julho de 2021, um acordo com o governo alemão para encerrar a disputa.
O tema divide até mesmo os europeus, com a Polônia e os países bálticos temendo ver a UE se curvar às ambições russas.
Mesmo na Alemanha, o Nord Stream 2 nunca foi uma unanimidade. Por muito tempo, contou com a oposição dos Verdes, antes de entrarem no governo.
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