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Estado de Minas MANÁGUA

Morre Hugo Torres, um dos opositores presos na Nicarágua


12/02/2022 21:39

O ex-guerrilheiro Hugo Torres Jiménez, um dos 46 opositores ao governo de Daniel Ortega presos desde o ano passado na Nicarágua, morreu neste sábado (12), após ter sido preso no ano passado com outros opositores pelo governo chefiado pelo homem que ele próprio resgatou.

"Comunicamos com profundo pesar o falecimento do nosso pai adorado", disseram seus filhos em um obituário difundido pelo bloco opositor Unidade Nacional Azul e Branco (UNAB), que Torres integrava.

Detido desde 13 de junho de 2021 no presídio de El Chipote, Torres Jiménez fazia parte do grupo de 46 opositores detidos no ano passado, após terem sido acusados pelo governo Ortega de conspirar contra ele, com o apoio de Washington, e os considerou "criminosos".

Em dezembro, Torres Jiménez foi levado a um hospital por complicações de saúde, segundo pessoas próximas.

"Por vontade próxima expressa do nosso pai, não será celebrada honraria fúnebre, nem (haverá) cerimônias públicas", acrescentou a família.

Em um comunicado, a OEA "considera abominável o fato de manter presos políticos com doenças terminais sem assistência médica necessária".

"Durante meses (Torres) esteve privado de liberdade em condições desumanas e submetido a um processo penal sem garantias", acrescentou pelo Twitter o Escritório do Alto Comissariado para os Direitos Humanos das Nações Unidas (OACNUDH).

- "Uma doença" -

"Vilipendiado e tratado como um criminoso, Hugo morreu de tristeza e por saber que toda a sua vida heroica foi pisoteada por aqueles pelos quais arriscou sua vida tantas vezes", escreveu no Twitter a poetisa Gioconda Belli, que vive no exílio.

"As traições são o câncer mais difícil que um homem íntegro e bom como Hugo pode sofrer", acrescentou Belli.

Horas depois, o Ministério Público informou que a morte de Torres foi "por causa de uma doença" e que tinha pedido "a suspensão definitiva" de seu julgamento por razões humanitárias, um pedido que tinha sido aceito.

"Desde o momento que apresentou deterioração em seu estado de saúde, foi transferido para um hospital da capital para ser atendido de forma adequada, onde sempre esteve acompanhado" por seus três filhos e seu genro, detalhou o MP.

- O camarada -

Torres, de 73 anos, era vice-presidente da opositora União Democrática Renovadora (Unamos), antes conhecida como Movimento de Renovação Sandinista (MRS, centro esquerda), criada em 1995 por militantes em desacordo com a condução política de Ortega.

Sua organização, assim como muitas outras da oposição, se reuniam sob o UNAB.

Também foi um guerrilheiro sandinista de destaque e general reformado do Exército. Em 1974, arriscou a vida em uma operação para libertar um grupo de presos políticos da ditadura de Somoza, entre eles Ortega.

"Há 46 anos arrisquei a vida para tirar Daniel Ortega da prisão", lembrou Torres em um vídeo que deixou gravado antes de ser preso em junho, acusado de menosprezo à integridade nacional.

No poder desde 2007 e líder da Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN), Ortega tem como vice-presidente sua esposa, Rosario Murrillo. Ele conseguiu o quarto mandato consecutivo em novembro do ano passado, após as prisões de 46 opositores, entre eles sete possíveis adversários.

A pedido do governo, todos foram acusados pelo Ministério Público de menosprezar a integridade nacional e promover a ingerência estrangeira.

Entre eles, 18 já foram considerados culpados pela justiça nas últimas duas semanas e sete foram condenados a penas entre 8 a 13 anos de prisão.

- Governo é responsabilizado -

Segundo a ex-guerrilheira e exilada dissidente sandinista Mónica Baltodano, Torres morreu no hospital, para onde foi levado como prisioneiro em 17 de dezembro.

"Seus companheiros tiveram que ajudá-lo várias vezes porque, devido ao grau de inflamação de suas pernas, quase não conseguia se mover sozinho (...) Nesse dia, Hugo sofreu um longo desmaio", detalhou.

"Ortega também é responsável por esta morte", afirmou a ex-guerrilheira, que também lamentou a partida "de um herói, de um verdadeiro herói das lutas contra as ditaduras que dominaram a Nicarágua (...), de Somoza e agora a ditadura de Ortega, que é uma ditadura brutal e criminosa", disse Baltodano ao canal 100 Noticias, transmitido pela internet.

O grupo Unamos já tinha denunciado em janeiro passado que a saúde de Torres tinha se deteriorado na prisão e exigiu ao governo que informasse sobre sua situação.

"Foi submetido a torturas físicas e psicológicas no centro de detenção", manifestou-se o Unamos neste sábado.

A maioria dos opositores presos é de pessoas idosas, que apresentaram complicações de saúde.

A maior parte está na prisão de polícia da Direção de Auxílio Judicial (DAJ) em Manágua, conhecida como El Chipote, e alguns poucos cumprem prisão domiciliar.

- Luta contra Somoza -

Torres participou de duas operações guerrilheiras de grande repercussão durante a luta contra a ditadura da dinastia Somoza, que governou por quase meio século até ser deposto por uma revolução armada do FSLN em 1979.

"Tenho 73 anos de idade, nunca pensei que nesta etapa da minha vida, estaria lutando de forma cívica e pacífica contra uma nova ditadura", disse antes de ser preso.

"Se havia um herói daquela luta, essa pessoa era Hugo Torres", disse seu companheiro e dissidente sandinista Julio López.

"É uma vergonha" que "tenha tido que morrer como prisioneiro e que seu carcereiro seja aquele que livrou das prisões do somocismo", repudiou.

"Ânimo, que a história está do nosso lado", foi a última mensagem de Torres aos nicaraguenses.


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