A Corte Constitucional decidiu a favor das comunidades camponesas, negras e indígenas, que tinham interposto recursos judiciais, diante da intenção do governo de voltar a usar o polêmico herbicida.
A alta corte determinou que as autoridades ambientais e a polícia "antecipem um processo de consulta prévia" com os moradores dos territórios a ser fumigados.
"É preciso que se apresentem fórmulas de concertação ou acordo com a comunidade e que esta manifeste através de seus representantes autorizados sua conformidade ou inconformidade", diz a sentença divulgada nesta quarta-feira (19).
Os juízes fixaram o prazo de um ano, prorrogável por até seis meses, para que os funcionários cheguem a um acordo com as comunidades, o que na prática impede que as fumigações possam ser retomadas durante o governo de Duque, que encerrará seu mandato de quatro anos em agosto, sem opção de ser reeleito.
Além disso, as aspersões aéreas são rejeitadas pelos camponeses que cultivam coca e ambientalistas, que alegam que o glifosato causa doenças, destrói cultivos tradicionais e contamina a água.
A Colômbia, primeiro fornecedor mundial de cocaína, suspendeu em 2015 as fumigações antidrogas por recomendação da Organização Mundial da Saúde, que alertou para o possível efeito cancerígeno do herbicida.
A justiça colombiana subordinou sua retomada a uma política oficial que minimize o impacto do glifosato.
Duque pretendia cumprir as exigências dos juízes e retomar o quanto antes as fumigações, mas a decisão da Corte Constitucional joga por terra suas intenções.
Em 2020, a Colômbia tinha 143.000 hectares de cultivos de coca, planta que serve de matéria-prima para a cocaína, segundo o mais recente relatório da ONU.
O governo, que vincula o narcotráfico ao recente repique da violência após o processo de paz com a guerrilha das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), em 2016, intensificou o programa de erradicação manual de narcocultivos.
No entanto, insistia na necessidade de adotar a fumigação com glifosato para reduzir sensivelmente a área cultivada com coca.
A ONG Human Rights Watch comemorou a decisão dos juízes.
"A aspersão de coca com glifosato é uma política ineficiente e uma ameaça aos direitos humanos básicos. Nunca deveria ser realizada - e muito menos - sem consultar devidamente as comunidades afetadas", escreveu no Twiiter Juan Pappier, porta-voz da entidade.
BOGOTÁ