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Estado de Minas CARACAS

Venezuela sai da hiperinflação, mas população ainda não sente mudança no bolso


13/01/2022 16:55

"A hiperinflação acabou, mas talvez só na sua casa", diz Humberto Reco, um aposentado de 75 anos, em um mercado popular de Caracas, sem esperar que os preços deixem de subir descontroladamente como ocorreu nos últimos quatro anos.

A Venezuela continua sendo o país com a maior inflação do mundo. Em 2021, o índice fechou em 686,4%, segundo o Banco Central do país (BCV). Esse índice, contudo, representa menos de 50% por mês, o que, segundo o conceito tradicional, fecha o ciclo hiperinflacionário iniciado em 2017.

Reco, no entanto, acredita mais nos preços do que nos indicadores. "Em linhas gerais, realmente não vejo melhora", reafirma o aposentado nos corredores do Mercado Municipal de Chacao, na região metropolitana de Caracas.

A Venezuela fechou 2017 com uma inflação de 862%, que disparou no ano seguinte para 130.000%. Em 2019, registrou 9.585% e, em 2020, quase 3.000%.

Segundo o conceito tradicional do americano Philip Cagan, de 1956, a Venezuela está saindo da hiperinflação porque registrou durante 12 meses um índice mensal inferior a 50%.

Não obstante, segundo a visão dos também economistas americanos Carmen Reinhart e Kenneth Rogoff, de 2011, ainda falta "um pouquinho", pois seu parâmetro é uma taxa anualizada abaixo de 500%, explica à AFP o economista e professor da Universidade Metropolitana de Caracas, Hermes Pérez.

"Continua sendo o dado mais elevado do mundo", insiste o especialista. "Se nos restringimos à inflação de 2021, se a comparamos com [o restante] da América Latina", com cifras que não excedem os dois dígitos, "continua sendo, com muita folga, a mais elevada".

A dolarização que acontece na prática e que tomou o lugar do desvalorizado bolívar local, e que é produto da própria hiperinflação, contribuiu para derrubar o indicador. Também ajudaram a redução do déficit fiscal e a estabilidade da taxa de câmbio após a flexibilização dos rígidos controles em 2018, mas os economistas coincidem em afirmar que é preciso realizar reformas mais profundas para ver mais avanços.

Pérez, que foi chefe da mesa de câmbio do BCV, assinala que a entidade deve deixar de emitir dinheiro para financiar a estatal Petróleos de Venezuela (PDVSA), que há anos está em condições precárias.

Os analistas estimam que a Venezuela pode fechar 2022 com uma inflação de entre 120% e 300%.

- 'Inflação em dólares' -

A desaceleração, no entanto, não é perceptível para o cidadão comum. O aposentado Reco, inclusive, se queixa que "nem mesmo" o pouco que tem em divisa é suficiente, e fala de "inflação em dólares".

O economista e diretor da empresa de consultoria Ecoanalítica, Asdrúbal Oliveros, estima que a Venezuela registra aumento nos preços em dólar superiores aos padrões internacionais.

A empresa garante que os custos em divisas subiram 40% em 2021, em relação a 2020.

"As pessoas dizem que a cada dia a coisa fica mais apertada, e eu digo: 'não, a cada minuto a coisa fica mais feia... e com F maiúsculo", garante Manuel Quijada, um vendedor de hortaliças de 67 anos, que admite aumentar os preços semanalmente.

Algumas pessoas no mercado de Chacao afirmam que os preços sobem todos os dias; outros, dependendo da temporada. O aumento varia de ponto em ponto.

Apesar de tudo, Marina Dusei, de 62 anos, sente que pode organizar melhor o seu orçamento, sobretudo com a estabilidade que manteve o valor do dólar entre 4,5 e 5 bolívares nos últimos seis meses. Antes, poderia disparar em questão de horas.

"Já não saímos para comprar o que gostamos, mas o que está fazendo falta", assinala a mulher, que assegura que sua renda é insuficiente para fazer compras.

De qualquer forma, ela vê a situação um pouco melhor do que há três anos, quando, no meio da hiperinflação, a escassez era desenfreada. "Penso que podemos seguir melhorando", comenta com otimismo.


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