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Estado de Minas CIDADE DO CABO

Desmond Tutu, símbolo da luta contra o apartheid na África do Sul, morre aos 90 anos


26/12/2021 19:38 - atualizado 26/12/2021 19:43

O arcebispo anglicano Desmond Tutu, um símbolo da luta contra o apartheid na África do Sul, vencedor do Prêmio Nobel da Paz, morreu neste domingo (26) aos 90 anos, o que provocou uma série de homenagens a um dos últimos ícones de sua geração.

Tutu, que vinha se afastando da vida pública nos últimos anos, será lembrado pelo humor sensato, o sorriso carismático e, principalmente, por sua incansável luta contra as injustiças sociais.

Seu funeral acontecerá em 1º de janeiro na Catedral de São Jorge da Cidade do Cabo, sua ex-paróquia, e encerrará uma semana de eventos e atos de luto, declarou sua fundação em um comunicado.

Até lá, os sinos tocarão todos os dias por dez minutos em sua homenagem e as bandeiras do país voarão a meio mastro, declarou o presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, que horas antes, ao ouvir a notícia, afirmou que Tutu seria lembrado como "um homem de extraordinária inteligência, integridade e invencibilidade contra as forças do apartheid".

Líderes e ex-líderes de todo o mundo prestaram homenagens ao religioso. O presidente e a primeira-dama dos Estados Unidos, Joe e Jill Biden, que se disseram "inconsoláveis pela morte de Desmond Tutu", consideraram que seu "exemplo transcende fronteiras e encontrará eco ao longo dos tempos".

"O arcebispo Desmond Tutu foi um mentor, um amigo e um farol moral, para mim e para tantos outros", declarou o ex-presidente dos Estados Unidos Barack Obama, outro prêmio Nobel da Paz.

O presidente do Conselho Europeu, em representação dos 27 países da UE, Charles Michel, prestou homenagem a "um homem que deu a sua vida pela liberdade com um profundo compromisso com a dignidade humana", enquanto o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, o chamou de "uma forte inspiração para gerações em todo o mundo".

O papa Francisco destacou o papel de Tutu na "promoção da igualdade racial e na reconciliação". O Dalai Lama, um velho amigo de Tutu, elogiou "um grande homem inteiramente dedicado ao serviço de seus irmãos e irmãs".

- "Nação Arco-íris" -

Após a chegada da democracia em 1994 e da eleição de seu amigo Nelson Mandela como presidente, Desmond Tutu, que criou o termo "Nação Arco-Íris" para a África do Sul, presidiu a Comissão da Verdade e da Reconciliação (CVR), criada com a esperança de virar a página do ódio racial.

"Arch", diminutivo de arcebispo em inglês, tinha problemas de saúde por um câncer de próstata diagnosticado em 1997 e não falava mais em público, mas nunca esquecia de acenar para as câmeras durante suas aparições.

Ele faleceu tranquilamente às 7H00 (2H00 de Brasília), de acordo com várias pessoas próximas à família entrevistadas pela AFP.

A Fundação Mandela afirmou que a morte de Tutu é uma "perda incomensurável".

"Para tantas pessoas na África do Sul e no mundo inteiro, sua vida foi uma bênção", afirmou a fundação, que o chamou de pensador, líder e pastor.

As homenagens também vieram do grupo de personalidades conhecido como "The Elders", uma organização criada em 2007 por Mandela e da qual Tutu foi o primeiro presidente.

"The Elders perderam um amigo querido, com um sorriso contagioso e senso de humor travesso que encantaram a todos. O mundo perdeu uma inspiração - mas cujas realizações nunca serão esquecidas".

Desmond Tutu ganhou fama nos momentos mais complicados do apartheid quando, como líder religioso, comandou passeatas pacíficas contra a segregação e para pedir sanções contra o regime de supremacia branca.

Como o presidente queniano Uhuru Kenyatta lembrou neste domingo, Tutu "inspirou uma geração de líderes africanos a abraçar formas não violentas na luta pela libertação".

Ao contrário de outros ativistas da época, sua posição o salvou de ser preso e sua luta pacífica foi reconhecida com o Prêmio Nobel da Paz em 1984.

Fiel a seus compromissos, Desmond Tutu foi um duro crítico dos sucessivos governos do Congresso Nacional Africano (ANC na sigla em inglês), movimento e partido que lutou contra o apartheid antes de chegar ao poder. Também criticou o ex-presidente Thabo Mbeki, assim como a corrupção e as falhas na luta contra a aids.

Em todas as áreas criticou o 'status quo' em temas como raça, direitos dos homossexuais e, inclusive, expressou apoio ao movimento a favor da morte assistida.

E encarou a morte de frente.

"Eu me preparei para minha morte e deixei claro que não desejo ser mantido vivo a qualquer custo", afirmou em um artigo publicado no jornal The Washington Post em 2016.

"Espero ser tratado com compaixão e ter permissão para passar à próxima fase da jornada da vida da maneira que escolhi", completou.

Desmond Tutu deixa uma viúva, Nomalizo Leah Shenxane, e quatro filhos.


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