Serguei Tikhanovsky, um videoblogger de 43 anos que está detido há um ano e meio, foi condenado a 18 anos de prisão por "organização de distúrbios em larga escala, incitação ao ódio na sociedade, distúrbios públicos e obstrução à Comissão Eleitoral".
Pouco depois do anúncio do veredicto, a líder da oposição bielorrussa, Svetlana Tikhanovskaya, denunciou uma "vingança" do regime.
No julgamento também foram anunciadas as penas de outros opositores, como Mikola Statkevitch, de 65 anos e candidato à presidência de 2010, e que já havia sido detido em outras ocasiões. Ele foi condenado a 14 anos de prisão.
Artiom Sakov e Dimitri Popov, que trabalhavam para Tikhanovsky, passarão 16 anos na prisão. Vladimir Tsyganovitch, criador de conteúdos críticos ao governo no YouTube, e Igor Lossik, jornalista opositor de 29 anos, foram condenados a 15 anos de prisão.
- "Não vamos parar" -
"Meu marido, Serguei Tikhanovsky, é condenado a 18 anos de prisão. O ditador se vinga publicamente de seus opositores mais fortes", escreveu Tikhanovskaya no Twitter
"O mundo inteiro observa. Não vamos parar", completou.
Contatada pela AFP em Bruxelas, a opositora disse estar determinada a continuar a luta pela democracia em seu país e confiou na unidade da Europa contra o "ditador" Lukashenko.
"Não temos tempo para chorar, nem para pensar demais", declarou após a condenação de seu marido, com quem só pode se comunicar por meio de breves mensagens transmitidas pelo seu advogado, segundo afirmou.
"Meu marido, um homem corajoso, excepcional, se tornou um inimigo pessoal de Lukashenko", disse, convencida de que não vai cumprir toda a pena.
A União Europeia (UE) denunciou as condenações "severas e sem fundamentos" contra os opositores e ameaçou com novas sanções contra Belarus.
Os Estados Unidos exigiram o fim da "repressão" no país. "Nenhum desses indivíduos, nem o povo bielorrusso, merece uma repressão tão dura", declarou o secretário de Estado americano Antony Blinken.
Já a nova ministra alemã das Relações Exteriores, Annalena Baerbock, denunciou "vereditos escandalosos" que "desonram o estado de Direito e as obrigações internacionais em Belarus".
Serguei Tikhanovsky ficou famoso com seus vídeos no Youtube nos quais chamava Lukashenko de "barata" que precisava ser esmagada. Foi detido em maio de 2020 quando planejava se apresentar às eleições presidenciais que aconteceram em agosto.
Tikhanovskaya, 39 anos, substituiu o marido "por amor" na campanha e conseguiu mobilizar, para surpresa geral, milhares de manifestantes em protestos sem precedentes contra o governo, que foram violentamente reprimidos.
Esta professora de inglês se viu obrigada a partir para o exílio pouco depois das eleições presidenciais. Desde então, ela viaja pelo mundo e visita chefes de Estado e de Governo de países ocidentais para aumentar a pressão sobre o presidente bielorrusso.
- Acusações "imaginárias" -
Tikhanovsky e o resto dos acusados estavam sendo julgados a portas fechadas desde junho. Poucas informações foram divulgadas sobre o processo e os advogados da defesa foram ameaçados de perder o direito de exercer a profissão se falassem sobre o caso.
"Considero que (as acusações) são imaginárias e com motivação política", afirmou no fim de maio Tikhanovsky em uma carta enviada à emissora alemã Deutsche Welle.
Marina Adamovitch, esposa de Mikola Statkevitch, contou nesta terça-feira à rádio Liberty que tem confiança de que "o veredito não será aplicado".
Nos últimos meses, a justiça bielorrussa já havia condenado dois importantes opositores: o ex-executivo do setor bancário e candidato à presidência Viktor Babariko e sua diretora de campanha, Maria Kolesnikova, com 14 e 11 anos de prisão respectivamente.
A sentença contra Tikhanovsky é a mais elevada pronunciada contra líderes da oposição.
A ONG Viasna afirma que Belarus tem atualmente 912 presos políticos.
União Europeia (UE), Estados Unidos e outros países ocidentais adotaram sanções contra as empresas bielorrussas e funcionários do regime de Lukashenko, que tem o apoio de Moscou, seu principal aliado.
No início de dezembro, o Ocidente voltou a anunciar sanções contra Minsk por ter orquestrado uma crise migratória em sua fronteira com a Polônia, como vingança e para desestabilizar a UE, algo que o regime nega.
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MOSCOU
Marido da principal opositora em Belarus condenado a 18 anos de prisão
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