O aumento da Selic, em linha com as expectativas do mercado, é o sétimo consecutivo no ano e o segundo desta magnitude depois da alta de outubro.
Assim, a taxa de referência situou-se em um nível que não registrava desde meados de 2017.
"A inflação ao consumidor continua elevada. A alta dos preços foi acima do esperado, tanto nos componentes mais voláteis como também nos itens associados à inflação subjacente", isto é, sem considerar os componentes de maior variação, informou o Copom em um comunicado divulgado ao final de sua reunião de dois dias.
O comitê ponderou, ainda, um ambiente externo "menos favorável", com uma inflação persistente e "a possibilidade de uma nova onda da covid-19" após o aparecimento da variante ômicron, que aumenta as incertezas sobre a recuperação das principais economias do mundo.
O aumento tinha sido previsto pelo Copom em sua reunião do fim de outubro, quando também elevou a Selic em 1,5 ponto percentual, o maior salto da taxa de referência desde dezembro de 2002.
Um amplo consenso no mercado antecipava a decisão, segundo consulta entre mais de uma centena de instituições econômicas, realizada pelo jornal econômico Valor.
O comitê previu, ainda, outro ajuste da mesma proporção na próxima reunião, em fevereiro.
- Ciclo de alta -
O BCB iniciou o ciclo de altas em março, quando elevou pela primeira vez a taxa de juros depois de mantê-la em um mínimo histórico de 2% durante um semestre para promover a recuperação da economia, impactada pela pandemia.
Mas a inflação descontrolada acelerou o ritmo de aumentos da taxa de referência. Em 12 meses até outubro, o índice de preços ao consumidor subiu 10,67%. Desde janeiro, a alta foi de 8,24%.
As cifras estão muito longe da meta atual, estabelecida pela autoridade monetária em 3,75%, e de seu teto, em 5,25%. E as estimativas para a inflação ao final deste ano estão acima dos 10%, segundo o boletim Focus do Banco Central.
O banco Itaú antecipou a alta desta quarta-feira, considerando que "a pressão inflacionária segue intensa e disseminada".
"A manutenção do ritmo de ajuste de 1,5 p.p. e a elevação da Selic para patamar significativamente contracionista ajudarão no processo de desinflação", informou o banco.
- Recessão e metas superadas -
A estratégia de ajuste monetário do Banco Central acendeu o alerta sobre o impacto no crescimento que, segundo especialistas, será sentido nos próximos meses em uma economia já em retrocesso.
No terceiro trimestre, o PIB brasileiro sofreu contração (-0,1%) pelo segundo trimestre consecutivo, após uma queda (-0,4%) entre abril e junho. Enquanto isso, a indústria registrou em outubro sua quinta queda de atividade ininterrupta (-0,6%), e o desemprego continua alto, em 12,6%.
Apesar disso, a nota do BCB "é importante quando comenta sobre o ciclo de ajuste, que vai avançar significativamente em território contracionista", destacou Camila Abdelmalack, economista-chefe da Veedha Investimentos.
Mário Sérgio Telles, gerente de Política Econômica da Conferência Nacional da Indústria (CNI), disse à AFP que "o impacto direto [do aumento dos juros] diz respeito ao encarecimento do crédito às empresas, que, por sua vez, eleva os custos financeiros, seja para o capital de giro, seja para investimentos".
Com prognósticos de expansão de apenas 0,51% em 2022, ano eleitoral em que o presidente Jair Bolsonaro (PL) vai tentar a reeleição, vários economistas destacam que o combate à inflação deveria incluir outras ferramentas sem depender exclusivamente das taxas de juros.
Daqui para frente, alerta o Itaú, os níveis atuais das taxas não serão "suficientes para garantir a convergência da inflação para a meta em 2022".
As projeções situam a inflação em 5,02% ao ano em 2022, segundo o boletim Focus. Se a previsão se confirmar, seria o segundo ano consecutivo em que se superaria a meta fixada pela autoridade monetária.
BRASÍLIA