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Estado de Minas AL-BAB

No ferro-velho ou na refinaria, a dura realidade do trabalho infantil na Síria


22/11/2021 16:06

Aos 15 anos, Mohamad Majzum já esqueceu da sua infância. Órfão da guerra na Síria, ele teve que abandonar a escola e trabalha 12 horas por dia em um depósito de ferro-velho para alimentar dois irmãos menores e uma irmã.

Todas as manhãs, às 06h em ponto, ele se dirige ao trabalho onde funde metal em um grande caldeirão durante o dia inteiro. À noite, volta para casa e se certifica de que seus irmãos e irmã fizeram o dever de casa e lhes prepara a comida.

"Sou pai e mãe", contou à AFP, com o rosto e o corpo cobertos de fuligem, em um depósito de ferro-velho em Al Bab, cidade do norte da Síria.

"Trabalho para que eles possam continuar com seus estudos porque não devem ser privados da escola como eu", acrescenta.

Após uma década de guerra na Síria, cerca de 2,5 milhões de crianças estão fora da escola e 1,6 milhão corre o risco de evasão, segundo o Unicef, Fundo das Nações Unidas para a Infância, que declarou o 20 de novembro como o Dia Internacional dos Direitos das Crianças.

Noventa por cento das crianças vivem na pobreza e mais de 5.700, algumas sem ter completado sete anos, foram recrutadas para lutar no conflito, segundo o Unicef.

Na falta de dados oficiais, estima-se que a quantidade de crianças trabalhadoras aumentou de forma permanente desde o início da guerra, em 2011.

- "Sofrer como eu" -

"É evidente que o trabalho infantil aumentou na Síria (...) por causa da covid-19 e da crise econômica, cada vez pior", diz à AFP a porta-voz do Unicef, Juliette Touma.

Ela destaca que as crianças trabalhadoras na Síria "estão expostas a condições absolutamente terríveis".

Mohamad Majzum, procedente da cidade de Maarat al Nooman, na província de Idlib (norte), controlada por extremistas e rebeldes, teve que deixar a escola aos nove anos para ajudar sua família depois que seu pai morreu em um bombardeio lançado pelo regime de Damasco.

Sua mãe morreu há dois anos. Então, fugiu juntamente com os dois irmãos e a irmã para Al Bab, cidade controlada por milícias sírias pró-turcas.

Ali, vivem em um apartamento de dois quartos com as paredes perfuradas por tiros e mobiliado com apenas alguns colchões.

Seu salário semanal corresponde a apenas 5 dólares, mas ele se vira para dar comida e material escolar para seus irmãos.

"Trabalho para eles. Queria que chegassem a ser médicos ou professores, não que sofressem como eu", afirma.

Mas uma grande quantidade de crianças sírias têm poucas chances de ter uma vida digna.

Amer al Shayban tem 12 anos. Ele trabalha em uma refinaria rústica em Al Bab. Vestindo um casaco preto e um gorro vermelho para se proteger do frio, extrai, ajoelhado na lama, pedaços de carvão que guarda em um saco plástico. Curvado pelo peso do saco, o leva para alimentar um forno que emite fumaça tóxica.

- "Sonhos destruídos" -

"Sonho em ter um caderno e um lápis e poder ir à escola. Mas, sou obrigado a trabalhar", diz Amer, que nunca aprendeu a ler ou escrever.

Abordado pela AFP na refinaria, conta que é o principal provedor da família.

"Trabalho tanto no verão quanto no inverno na refinaria para ajudar meus pais. Meu peito dói por causa da fumaça", confidencia.

Quando seu dia termina, vai a pé até o acampamento de deslocados internos próximo, onde mora com os pais e cinco irmãos menores. Os maiores morreram durante um bombardeio do regime perto de Aleppo.

Seu pai sofre de diabetes e tem as artérias bloqueadas, e sua família subsiste com o seu salário.

O mais velho de quatro irmãos, Nadim al Nako, de 12 anos, perdeu as esperanças de poder voltar à escola, que abandonou há dois anos para ajudar o pai, que é ferreiro.

Ele trabalha como um maçarico, com a chama a apenas alguns centímetros do rosto, moldando panelas e frigideiras em sua pequena forja em Al Bab.

"Hoje a escola não me interessa mais, nem nenhuma outra coisa (...) A guerra destruiu nossos sonhos", lamenta.


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