O alto representante da UE para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança, Josep Borrell, assinalou que falou por telefone com o ministro bielorrusso Vladimir Makei sobre "a situação humanitária precária" na fronteira entre Belarus e Polônia, que representa o limite oriental da UE.
"A situação atual é inaceitável e tem que acabar. As pessoas não devem ser utilizadas como armas", afirmou Borrell em um tuíte.
De acordo com a declaração bielorrussa sobre a conversa, Makei insistiu que as sanções contra Minsk são "inúteis" e "contraproducentes".
Milhares de migrantes procedentes do Oriente Médio acampam na fronteira entre a UE e Belarus, o que provocou o agravamento das relações entre o bloco e os Estados Unidos, de um lado, e Belarus e sua aliada Rússia, do outro.
Os países ocidentais acusam o regime do presidente bielorrusso Alexander Lukashenko de organizar deliberadamente a crise, estimulando os migrantes a seguir para este país e depois transportá-los até a fronteira com a Polônia.
Belarus nega essa acusação e culpa o Ocidente. O presidente da Rússia, Vladimir Putin, também rejeita qualquer relação com o caso e pede que Bruxelas dialogue diretamente com Minsk.
- "Cansados e doentes" -
No maior acampamento, perto da cidade bielorrussa de Bruzgi, as autoridades calculam a presença de 2.000 migrantes e refugiados, incluindo mulheres grávidas e crianças.
Contactado pela AFP por telefone, Bakr, um iraquiano de 28 anos, disse que esteve na fronteira há seis dias depois de viajar de Bagdá a Minsk via Dubai, como parte de uma viagem organizada por uma agência de turismo.
"Estamos todos cansados e doentes", insistiu ele.
Sangar, um caminhoneiro de 30 anos do Curdistão iraquiano, disse que estava na fronteira com sua esposa e três filhos, um dos quais tinha oito anos e teve ambas as pernas amputadas. "Quero ir para qualquer país que concorde em receber meus filhos", afirmou.
As autoridades de Belarus fornecem ajuda, incluindo barracas e aquecedores, gesto que antecipa uma presença quase permanente na fronteira.
De acordo com organizações humanitárias, pelo menos 10 migrantes morreram até o momento.
As ONGs alertam que a situação está se transformando em uma crise humanitária na medida em que as temperaturas caem abaixo de 0 °C, e pedem uma desescalada.
A organização polonesa Medycy na Granicy (Médicos na Fronteira), anunciou neste domingo que estava suspendendo as suas operações depois que cinco veículos utilizados por suas equipes foram danificados por desconhecidos.
A Polônia se nega a permitir que os migrantes entrem em seu território e acusa Belarus de impedir o retorno dessas pessoas a seus países de origem.
O ministro do Interior, Mariusz Kaminski, informou no sábado que os migrantes ouviram um boato de que a Polônia permitiria a passagem na segunda-feira e que ônibus seriam enviados da Alemanha para o transporte.
O governo polonês enviou mensagens de texto a todos os telefones celulares estrangeiros ao longo da fronteira para denunciar "uma absoluta mentira sem sentido. A Polônia continuará protegendo sua fronteira".
- "Medidas concretas" -
Os ministros das Relações Exteriores da UE se reunirão na segunda-feira para ampliar as sanções contra Belarus, após as medidas impostas pela repressão aos opositores do regime de Lukashenko, que governa o país há quase 30 anos.
Borrell afirmou que serão adotadas sanções contra "todos aqueles envolvidos no tráfico ilegal de migrantes a Belarus, incluindo companhias aéreas, agências de viagens e funcionários governamentais".
"Lukashenko se equivoca, acredita que, adotando represálias, nós vamos dar o braço a torcer e que as sanções seriam eliminadas. Acontece justamente o contrário", disse Borrell à publicação francesa Journal du Dimanche.
Por pressão da diplomacia dos países europeus, a Turquia proibiu que iraquianos, sírios e iemenitas viajem para Belarus. E a companhia aérea síria Cham Wings cancelou os voos para Minsk.
O primeiro-ministro polonês, Mateusz Morawiecki, urgiu a Otan a tomar "medidas concretas" contra a crise.
"Não nos basta expressar publicamente nossa preocupação. Precisamos agora de medidas concretas e o envolvimento de toda a aliança", declarou em entrevista à agência polonesa PAP.
Washington anunciou que o secretário de Estado, Antony Blinken, conversou com o homólogo polonês, Zbigniew Rau.
"As ações do regime de Lukashenko ameaçam a segurança, semeiam a divisão e buscam desviar a atenção das atividades da Rússia na fronteira com a Ucrânia", declarou o porta-voz do Departamento de Estado americano, Ned Price.
VARSÓVIA