"Quero que todo o mundo saiba. Não temos nada a ver com isso", declarou o presidente em uma entrevista ao canal Vesti, depois que a Polônia e outros países ocidentais acusaram Moscou de ter orquestrado com Minsk o envio de migrantes à fronteira.
O presidente russo responsabilizou os países ocidentais pela crise, ao afirmar que suas políticas no Oriente Médio estimulam o desejo dos emigrantes de viajar ao continente europeu.
Para resolver a crise, Putin recomendou que os líderes europeus conversem com o presidente bielorrusso Alexander Lukashenko, como, segundo ele, estava disposta a fazer a chanceler alemã Angela Merkel.
"Não devemos esquecer de onde vêm as crises associadas aos imigrantes [...] foram criadas pelos próprios países ocidentais, incluindo os europeus", disse.
A líder da oposição bielorrussa Svetlana Tikhanovskaya, que fugiu do país depois de reivindicar a vitória nas eleições presidenciais do ano passado, escreveu no Twitter, em referência a Lukashenko: "Não pode existir nenhum diálogo com o ditador que tenta chantagear os países democráticos".
Belarus afirma que quase 2.000 pessoas - incluindo mulheres e crianças - permanecem na área de fronteira. A Polônia cita, no entanto, entre 3.000 e 4.000 e alega que a cada dia chegam mais migrantes.
- Barracas e aquecedores -
Os migrantes, curdos em sua maioria, estão bloqueados na fronteira entre Polônia e Belarus sob temperaturas próximas de zero grau. Para enfrentar o frio, eles aguardam em barracas e queimam lenha.
A situação é cada vez mais preocupante. A Polônia não permite que atravessem a fronteira e acusa Belarus de impedir a saída do grupo da região.
Neste sábado, as autoridades bielorrussas anunciaram a entrega de barracas e aquecedores às pessoas bloqueadas, uma medida que pode prolongar a presença dos migrantes na fronteira da União Europeia (UE).
Há vários meses, os migrantes tentam atravessar a fronteira, mas a crise foi agravada na segunda-feira, quando centenas de pessoas tentaram entrar ao mesmo tempo na Polônia e foram impedidas pelos guardas.
Neste sábado, a polícia polonesa informou que encontrou o corpo de um jovem sírio na floresta próxima da fronteira. "As causas da morte ainda não foram determinadas", afirma um comunicado.
Este óbito elevaria a 11 o número de vítimas fatais da crise migratória, segundo diversas ONGs.
A UE acusa Belarus de organizar os deslocamentos de migrantes, com a emissão de vistos e até voos fretados, com o objetivo de provocar uma crise migratória na Europa, em resposta às sanções internacionais contra o governo de Lukashenko.
- Novas sanções -
De fato, na próxima semana, o bloco europeu pretende ampliar as sanções.
O vice-presidente da Comissão Europeia, Margaritis Schinas, afirmou em uma entrevista ao jornal francês Le Figaro que as sanções serão "aprovadas e aplicadas".
Ele explicou que as medidas serão adotadas, entre outros, contra a companhia aérea estatal Belavia, acusada de fretar voos para migrantes da Turquia para Minsk.
Por outro lado, o principal conselheiro de política externa do presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, afirmou à AFP que "esta crise não tem nada a ver com a Turquia".
Já a companhia aérea privada síria Cham Wings Airlines anunciou neste sábado que estava interrompendo seus voos para Minsk.
"Devido à situação difícil na fronteira entre Belarus e Polônia, e porque a maioria dos passageiros de nossos voos a Minsk são cidadãos sírios, decidimos suspender nossos voos" para a capital bielorrussa a partir deste sábado.
A empresa assinalou que tomou essa decisão por "não poder diferenciar" entre os migrantes e os demais, de acordo com um comunicado.
A tensão é cada vez maior na fronteira e os dois países mobilizaram suas tropas. Na sexta-feira, Belarus advertiu que responderia a qualquer ataque contra seu território.
Apesar da pressão do Ocidente, Lukashenko pode contar com o apoio da Rússia. Tropas aéreas dos dois países organizaram na sexta-feira "exercícios de combate" perto da fronteira entre Belarus e Polônia.
Porém, o apoio de Moscou a Minsk costuma ser cauteloso. Em uma entrevista, Putin disse não saber nada sobre as ameaças feitas durante a semana por Lukashenko sobre cortar o trânsito do gás russo através de Belarus com destino à Europa.
"Honestamente, esta é a primeira vez que ouço isso", disse o presidente russo. "Nunca me falou sobre isso [...] Provavelmente ele poderia fazê-lo, mas não seria bom".
"É claro que vou falar com ele sobre isso, se ele simplesmente não disse isso por irritação", acrescentou.
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MOSCOU
Putin diz que Rússia não tem relação com a crise na fronteira entre Polônia e Belarus
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