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Estado de Minas PARIS

Para o pintor britânico David Hockney, o confinamento foi uma bênção


08/10/2021 13:01

O artista britânico David Hockney, um trabalhador incansável, percebe agora os meses de confinamento na França como uma bênção, uma oportunidade para aprofundar sua observação da natureza.

"Adoro observar", disse o pintor de 84 anos à AFP.

"Se você olhar o mundo, é realmente lindo. Mas é preciso ter a cabeça limpa, há muitas coisas que te impedem de ver", acrescentou.

Hockney concedeu uma entrevista à AFP no Musée de l'Orangerie de Paris, que exibirá a partir de 13 de outubro o mais recente fruto desta incansável tarefa: "A year in Normandie" ("Um ano na Normandia", em tradução livre).

É um enorme friso impresso de 91 metros, montado a partir das cerca de 220 obras que realizou durante 2020, o ano do confinamento.

Um aceno e uma homenagem ao grande mestre impressionista francês Monet, cujas lendárias "Nenúfares" ocupam as salas vizinhas.

"Quando o confinamento aconteceu, eu não me importei nenhum pouco", explicou Hockney, elegantemente vestido com um terno xadrez colorido, boné bordado e seus familiares óculos de plástico, desta vez em amarelo.

"Estávamos em um local isolado e eu trabalhei todos os dias porque não tinha visitas. Os visitantes me incomodam", confessou.

Todos os esboços preparatórios foram feitos com um iPad, sua ferramenta de trabalho preferida há anos.

"Já deixei de lado a fotografia", explicou. Hoje "todo mundo é fotógrafo. Todo mundo tem um celular no bolso. A fotografia se tornou muito chata".

Ele adora desenhar na tela do iPad, o que o livra de pintar da maneira tradicional, segundo explicou.

"É uma técnica nova. Não creio que haja muitas pessoas que a utilizem".

- "Não podem cancelar a primavera" -

As cores vivas do campo normando foram uma inspiração, mas também uma fonte de repouso para Hockney, que se mudou para a França em 2019 após três anos de frenesi em Londres, "logo depois de terminar um vitral para a rainha Elizabeth II na Abadia de Westminster".

O primeiro dia na Normandia foi dedicado à contemplação de um "pôr do sol maravilhoso no estuário do Sena". "Tivemos a claridade de Van Gogh", contou.

Quando a primavera chegou à Normandia, Hockney começou a reproduzir em detalhes as flores, os brotos de uma grande variedade de árvores frutíferas.

"Eles cancelaram as Olimpíadas, mas não podem cancelar a primavera", disse com malícia.

Então chegou o verão, com suas maçãs brilhando ao sol. Era o momento de se afastar, de se distanciar da paisagem.

"Depois vem o outono, a queda das folhas, e finalmente o inverno, com um pouco de neve", que o pintor "esperava".

Essa neve tão esperada finalmente chegou em janeiro de 2021. Naquele dia "a luz não chegou antes das 8h30; por volta das 9h15 eu disse a mim mesmo que ia ficar na cama, mas de repente começou a nevar. Acho que capturei esse momento. Durou cerca de 35 minutos. À tarde, tudo havia derretido".

É um trabalho de 360º em torno de sua casa, explica Cécile Debray, diretora da l'Orangerie.

Aos 84, com seu retrato pixelizado da realidade, Hockney resolve o que Monet buscava desesperadamente: "Capturar um momento".


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