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Tanzaniano Abdulrazak Gurnah leva o Nobel de Literatura


07/10/2021 19:44 - atualizado 07/10/2021 19:50

O romancista Abdulrazak Gurnah, nascido na Tanzânia e que mora há meio século no Reino Unido, foi anunciado nesta quinta-feira (7) como o vencedor do Prêmio Nobel de Literatura, por seus textos sobre o período colonial e pós-colonial no leste da África e o destino difícil dos migrantes.

Gurnah, que cresceu na ilha de Zanzibar, mas chegou à Inglaterra como refugiado no fim da década de 1960, foi premiado por sua escrita "empática e sem concessões dos efeitos do colonialismo e do destino dos refugiados presos entre culturas e continentes".

Ele é o primeiro autor africano a vencer o prêmio literário de maior prestígio do mundo desde 2003, e o quinto do continente no total.

"É algo maravilhoso. Sinto-me invadido (pelas emoções) e muito orgulhoso. Foi algo completamente inesperado", contou à AFP em entrevista por telefone, em que disse que ganhar o Nobel foi uma "imensa honra" e uma grande "alegria".

Gurnah publicou 10 romances, além de livros de contos. É conhecido, sobretudo, pelo livro "Paradise" ("Paraíso"), de 1984, ambientado no leste da África durante a Primeira Guerra Mundial. À época, foi finalista do Booker Prize de ficção.

Nascido em 1948, ele começou a escrever aos 21 anos, durante o exílio na Inglaterra. Apesar de o suaíli ser sua língua materna, sua ferramenta literária é o inglês.

- "Não chegam com as mãos vazias" -

Em sua primeira entrevista à Fundação Nobel, Gurnah pediu uma mudança no olhar da Europa sobre os refugiados da África e a crise migratória.

"Muitas dessas pessoas que vêm, vêm por necessidade, e também porque, francamente, têm algo a dar. Elas não chegam com as mãos vazias. Muitas pessoas talentosas e cheias de energia que têm algo a dar", afirmou.

Embora a Academia o situe na tradição literária de língua inglesa, "é necessário destacar que rompe conscientemente com as convenções, transformando a perspectiva colonial para valorizar as populações locais", afirmou o júri do Nobel.

Sua obra se afasta das "descrições de estereótipos e abre o nosso olhar para um leste da África culturalmente diverso, que não é bem conhecido em muitas partes do mundo", completou.

"Sou um observador (...) Escrevo o que acontece no mundo em que vivo e atualmente (a questão migratória) é o grande assunto, a grande preocupação do mundo em que vivo", explicou Gurnah à AFP. "É a história do nosso tempo", acrescentou.

Até sua recente aposentadoria, ele era professor de Literatura Inglesa e Pós-Colonial na Universidade de Kent, em Canterbury. Também é reconhecido como um grande especialista na obra do Nobel de Literatura nigeriano Wole Soyinka e do queniano Ngugi wa Thiong'o. Este último era apontado como um dos favoritos este ano.

Gurnah é o primeiro autor negro africano a vencer o prêmio mais importante da Literatura mundial desde Soyinka, em 1986.

- Promessa -

O prêmio surpreendeu muitos críticos e editoras, que admitiram não ter o escritor em seu radar. Até o editor de Gurnah na Suécia, Henrik Celander, afirmou que não imaginava sua vitória no Nobel.

Com um histórico de vencedores dominado por homens ocidentais em seus 120 anos de existência, a Academia Sueca havia assumido o compromisso de tornar o prestigioso prêmio mais diversificado, prometendo ampliar seus horizontes geográficos.

Dos 118 vencedores do Nobel de Literatura, 95 são europeus, ou norte-americanos, 80% do total. Além disso, são 102 homens e 16 mulheres.

Após o escândalo #MeToo que abalou a Academia e provocou o adiamento do prêmio de 2018 por um ano, a instituição afirmou que ajustaria seus critérios para ter maior diversidade geográfica e de gênero.

Duas mulheres foram premiadas desde 2018: a romancista polonesa Olga Tokarczuk, no mesmo ano, e a americana Louise Gluck no ano passado.

Em 2019, o prêmio foi atribuído ao austríaco Peter Handke, uma opção polêmica por seu apoio ao ex-presidente sérvio Slobodan Milosevic, que enfrentava acusações por genocídio quando morreu em 2006.

O romancista chinês Mo Yan havia sido o último vencedor não europeu e americano, em 2012.

A Academia Sueca recebe entre 200 a 300 candidaturas até o fim de janeiro. Durante o verão (hemisfério norte, inverno no Brasil), a lista é, então, reduzida para cinco finalistas.

Os cinco membros do Comitê Nobel da Academia estudam a obra dos cinco autores antes de submeter sua escolha ao plenário da Academia, que escolhe um vencedor antes do anúncio em outubro. As deliberações permanecem em sigilo por 50 anos.

A temporada Nobel continua na sexta-feira (8), com o anúncio do prêmio da Paz, e se encerra na segunda-feira (11) com a categoria Economia.

Devido à pandemia da covid-19, pelo segundo ano consecutivo o vencedor receberá o prêmio em seu país de residência.


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