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Estado de Minas MIAMI

Crise na Nicarágua dispara migração para os EUA


28/09/2021 10:21

Ángel Rocha acaba de começar uma nova vida em Miami. Uma vida que não queria, repleta de incertezas, porém mais segura do que a que deixou na Nicarágua, onde uma crise política, social e econômica fez com que muitos cidadãos fugissem para os Estados Unidos.

Este ex-estudante de Ciências Políticas da Universidade Politécnica de Manágua estava na mira do regime de Daniel Ortega desde os protestos antigovernamentais de abril de 2018, cuja repressão deixou mais de 300 mortos, centenas de presos e 100.000 exilados.

Um dia, naquele mesmo mês, foi preso na universidade.

Rocha conta que foi espancado e queimado com um isqueiro. Depois de perder a consciência, ele acordou com um pé pisando a sua cabeça, em uma poça de seu próprio sangue.

Esse episódio não o intimidou. Pelo contrário, foi então que se juntou à oposição Aliança Cívica.

Seu ativismo o levou à prisão por 17 horas em setembro de 2020, e mais uma vez ele seguiu em frente.

Mas esse ano, quando o regime sandinista começou a prender líderes da oposição antes das eleições de novembro, incluindo vários de seus colegas da Aliança Cívica, ele decidiu deixar a Nicarágua.

"Eu pensei: sou jovem e estou em um país que caminha para a violência, a crise humanitária, o desemprego e a instabilidade", lembra na sala onde agora reside em Miami, Flórida, acolhido por um amigo nicaraguense.

- Êxodo -

Entre janeiro e agosto de 2021, as autoridades dos EUA interceptaram quase 41.500 nicaraguenses em sua fronteira sul que tentavam entrar ilegalmente no país. O número foi de cerca de 1.100 pessoas no mesmo período de 2020.

Esse êxodo, o maior nas últimas décadas entre a Nicarágua e os Estados Unidos, atingiu o pico em julho: 13.456 migrantes, quase o dobro do número de maio.

"Estão chegando meninos, estudantes. Muitos deles participaram dos protestos de 2018", explica Anita Wells, membro da Aliança Nicarágua-Americana pelos Direitos Humanos (NAHRA), que ajuda os migrantes do país centro-americanos em seus trâmites legais.

Segundo ela, a repressão aos opositores é a principal causa dessa onda de migração da Nicarágua, um país de 6,5 milhões de habitantes.

Mas também entra em cena uma crise econômica - o país atravessa o quarto ano consecutivo de recessão - e uma retomada da pandemia de covid-19, denunciada na Nicarágua pela rede de médicos independentes do Observatório do Cidadão.

A chegada do democrata Joe Biden à Casa Branca e sua promessa de uma política migratória "mais humana" também contribuem, aponta.

Uma perigosa viagem pela América Central e pelo México aguarda aqueles que decidem deixar a Nicarágua. É uma jornada marcada por abusos dos coiotes - contrabandistas de migrantes que pedem milhares de dólares por seus serviços -, corrupção policial e medo de ser sequestrado pelos cartéis, denuncia Welles.

Rocha fez a viagem com outro jovem até a fronteira com os Estados Unidos. Ele diz que não pagou coiotes e que contou com a ajuda de nicaraguenses ao longo de sua jornada.

"O medo de ser preso antes de sair da fronteira duplica ao sair do país. A incerteza é muito grande", lembra.

Ele foi entregue a uma patrulha de fronteira dos Estados Unidos em 12 de julho, às 23h. Registraram suas impressões digitais, perguntaram se ele se sentia em perigo em seu país e o levaram para um centro de detenção no Texas.

De lá, o enviaram para outro centro e depois para um terceiro. Ele passou cerca de dois meses antes de ser liberado.

"No centro, às vezes chorava de alegria. Mas também tinha medo de ser deportado, porque tinha certeza de que estava infringindo a lei ao entrar nos Estados Unidos".

Um colega ativista nicaraguense pagou uma passagem de avião para Miami, lugar onde vive a maior comunidade nicaraguense dos Estados Unidos desde o início da revolução sandinista em 1979.

Agora, Rocha tenta se acostumar com sua nova situação, deixar suas ambições políticas para trás e seguir em frente.

"Estou praticamente pagando uma pena, porque tenho que começar do zero", diz. "Estou sozinho e sempre tem alguma coisa que falta: a família, os companheiros".

Enquanto espera para resolver seu pedido de asilo, não pode trabalhar e tem o apoio financeiro de sua comunidade.

"As pessoas que vêm aqui são pessoas de classe média, classe trabalhadora, estudantes", explica Welles.

"Quando chegam ficam decepcionados, porque não vão direto para a universidade", avisa. "Aí tem trabalhar. Era médico lá e aqui vai fazer jardinagem".

Apesar de tudo, Rocha espera estudar nos Estados Unidos e um dia voltar à Nicarágua.


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