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Estado de Minas SYDNEY

Austrália mergulha entre duas águas desconhecidas com submarinos nucleares


16/09/2021 12:47

O inesperado anúncio por parte da Austrália sobre a compra de submarinos nucleares e mísseis americanos fortalece seus laços com Washington, sob risco de aumentar ainda mais as tensões com a China, que classificou esta operação como "irresponsável".

Sem um debate público prévio, o primeiro-ministro australiano, Scott Morrison, optou pelo nuclear, não em relação ao armamento, mas com a criação de uma frota de pelo menos oito submarinos de última geração movidos a esse tipo de energia, em associação com Estados Unidos e Reino Unido.

"Até agora, talvez apenas 12 horas atrás", a ideia parecia "marginal", de acordo com Sam Roggeveen do Lowy Institute, um centro de estudos em Sydney.

A consequência imediata desta associação estratégica foi o rompimento de um contrato, envolvendo 56 bilhões de euros (em torno de 65,8 bilhões de dólares), da Austrália com a França para a compra de submarinos convencionais. A mudança de planos irritou Paris.

Com esta iniciativa, Morrison tocou em vários tabus políticos australianos, principalmente a velha proibição do uso de energia nuclear no país, mas também o grande cuidado com o risco de uma escalada das tensões militares com a China.

"Esta cooperação na questão de submarinos nucleares abala gravemente a paz e a estabilidade regionais, aumenta a corrida armamentista e afeta também os esforços internacionais sobre a não proliferação nuclear", declarou o porta-voz chinês das Relações Exteriores, Zhao Lijian.

Anunciado em conjunto pelo presidente americano, Joe Biden, pelo primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, e por seu homólogo australiano, este pacto permitirá que a imensa ilha-continente tenha acesso à potência de fogo militar americana, que é negada a aliados muito próximos, como Israel.

- No centro das tensões -

Desse modo, a Marinha australiana poderá atacar alvos muito afastados da sua costa.

Os submarinos nucleares "são mais silenciosos, mais rápidos e têm uma maior resistência, o que permitirá à Austrália destacar seus futuros submarinos para a região Indo-Pacífico durante períodos muito maiores", afirma Ashley Townshend, do Centro de Estudos Americanos da Universidade de Sydney.

A Austrália começou a prever um fortalecimento de sua capacidade militar em 2020, à medida que suas relações com a China se deterioravam.

Este acordo vinculará a Austrália com Estados Unidos e Reino Unido por várias décadas.

"Pode ser também o primeiro de uma longa série, incluindo a implantação de armas estratégicas de longo alcance americanas na Austrália, como mísseis e caças invisíveis", segundo Michael Sullivan, especialista em relações internacionais da Universidade Flinders.

"No longo prazo", acrescentou, isso também pode significar "a redistribuição para o norte da Austrália de parte das forças americanas de suas bases localizadas em Okinawa e Guam, cada vez mais vulneráveis a eventuais ataques militares chineses".

Esta aproximação com Washington e o fortalecimento da capacidade militar australiana colocam uma potência média no centro das tensões crescentes entre as superpotências Estados Unidos e China.

Alguns consideram esta iniciativa imprudente.

O ex-primeiro-ministro australiano Paul Keating lamentou que a Austrália esteja sendo obrigada a participar de "qualquer compromisso militar americano contra a China", encerrando décadas de diálogo com seus vizinhos asiáticos.

Cerca de "240 anos depois de sair da Grã Bretanha, (...) estamos novamente tentando encontrar nossa segurança na Ásia por meio de Londres", afirmou.

- "Grave escalada" -

Em telefonemas sigilosos feitos antes do anúncio deste acordo, Morrison tentou tranquilizar seus aliados regionais, de Singapura a Wellington, afirmando que quer garantir "a segurança e a prosperidade da região Indo-Pacífico".

Essas promessas não foram suficientes para acalmar as capitais da região do Pacífico, preocupadas com as consequências desta decisão no longo prazo.

"Trata-se de uma escalada grave", destacou Sam Roggeveen, e "é muito pouco provável que seja vista como apenas uma ação contra a China".

"Não me surpreenderá se (seus vizinhos mais próximos) não a receberem bem", alertou.

Este novo projeto também levanta muitas questões na Austrália, onde até então o uso da energia nuclear era proibido, assim como nos países vizinhos.

Morrison insiste em que a Austrália "não tenta adquirir armas nucleares, nem desenvolver energia deste tipo no setor civil".

"Continuaremos respeitando todas as nossas obrigações em relação à não proliferação nuclear", destacou.

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