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Estado de Minas CABUL

Governo Talibã enfrenta receio internacional e protestos no Afeganistão


08/09/2021 17:01 - atualizado 08/09/2021 17:01

O novo governo do Afeganistão, de linha dura apesar das promessas do talibãs de que seria representativo, enfrenta a partir desta quarta-feira (8) o desafio de convencer o mundo sobre suas boas intenções, em meio a protestos organizados nas grandes cidades do país.

O secretário de Estado americano, Antony Blinken, advertiu o novo governo talibã que deve conquistar a legitimidade perante a comunidade internacional, à qual os Estados Unidos mobilizaram nesta quarta-feira para oferecer uma resposta coordenada à crise afegã.

"Os talibãs buscam uma legitimidade internacional. Toda legitimidade, todo apoio, deverá ser conquistado", destacou em coletiva de imprensa ao lado de seu colega alemão, Heiko Maas, na base aérea norte-americana de Ramstein, no sudeste da Alemanha, ao final de uma reunião virtual em nível ministerial entre 20 países sobre a crise afegã.

Como nos últimos dias, a quarta-feira registrou vários protestos contra o regime talibã, após a morte na véspera de duas pessoas durante uma manifestação em Herat (oeste).

Um pequeno grupo de manifestantes foi rapidamente dispersado por combatentes talibãs em Cabul. O mesmo aconteceu em Faizabad (nordeste), segundo a imprensa local.

No poder desde meados de agosto, duas décadas após o regime fundamentalista e brutal que governou o Afeganistão entre 1996 e 2001, o Talibã anunciou na terça-feira a formação de um governo interino.

Todos os membros do Executivo, liderado por Mohammad Hasan Akhund, um ex-colaborador próximo ao fundador do movimento, o mulá Omar, são talibãs. E quase todos pertencem à etnia pashtun.

Vários novos ministros, incluindo alguns que foram muito influentes no regime Talibã anterior, figuram nas listas de sanções da ONU. Quatro deles passaram pela prisão americana de Guantánamo.

Abdul Ghani Baradar, cofundador do movimento, é vice-primeiro-ministro e o mulá Yaqub, filho do mulá Omar, titular da pasta da Defesa.

O ministério do Interior foi atribuído a Sirajuddin Haqqani, líder da rede Haqqani, a facção mais violenta do Talibã e considerada terrorista por Washington.

- Sem mulheres -

Durante o anúncio do governo, o porta-voz dos fundamentalistas, Zabihullah Mujahid, disse que o gabinete "não está completo" e que o grupo vai tentar "incluir pessoas de outras partes do país".

O governo dos Estados Unidos destacou imediatamente a ausência de mulheres e expressou "preocupação com as filiações e os antecedentes de vários indivíduos". E insistiu que avaliará o regime "por suas ações, não por suas palavras", de acordo com o secretário de Estado, Antony Blinken.

Nesta quarta-feira, na Alemanha, Blinken terá uma reunião virtual com os ministros de 20 países aliados para tentar estabelecer uma estratégia comum diante deste governo.

"Queremos ver como alcançar uma forma comum de agir diante do Talibã que também sirva aos nossos interesses: respeito aos direitos humanos fundamentais, manutenção das vias de saída do país, acesso humanitário e luta contra grupos terroristas como a Al-Qaeda e o Estado Islâmico", disse o ministro alemão das Relações Exteriores, Heiko Maas.

Se o Executivo Talibã desperta preocupação na maior parte da comunidade internacional, a China considera o novo governo o "fim da anarquia" e uma "etapa importante para restabelecer a ordem no país", segundo um porta-voz do ministério das Relações Exteriores.

A União Europeia (UE) lamentou que o novo governo não seja um grupo "inclusivo e representativo" do país, como havia sido prometido.

No Catar, no centro das negociações diplomáticas, a vice-ministra e porta-voz das Relações Exteriores do emirado, Lolwah al-Khater, afirmou que o Talibã "mostrou uma boa dose de pragmatismo" e deve ser julgado por suas ações.

Desde que chegou ao poder, o movimento Talibã deseja demonstrar mais abertura e moderação, mas as promessas não conseguem convencer e muitos temem o retorno do regime fundamentalista dos anos 1990, especialmente cruel com as mulheres.

Pramila Patten, diretora da ONU Mulheres, agência sobre a Igualdade de Gênero e o Empoderamento da Mulher, declarou que a ausência de mulheres no governo "coloca em dúvida o recente compromisso (dos talibãs) para proteger e respeitar os direitos das afegãs".

Em um comunicado, o líder supremo do Talibã, Hibatullah Akhundzada, afirmou que o governo "trabalhará de maneira forte para defender as regras do islã e da sharia", a lei islâmica, o que aumentou a inquietação.

- Protestos "ilegais" -

Mas o país que o movimento fundamentalista governa agora não é o mesmo dos anos 1990 e os talibãs são confrontados com manifestações inimagináveis há duas décadas.

Na terça-feira foram registradas as primeiras vítimas fatais nos protestos: duas pessoas morreram e oito ficaram feridas em Herat.

Para o porta-voz Zabihullah Mujahid, as manifestações são "ilegais", enquanto leis não tenham sido proclamadas. Ele pediu à imprensa que não faça a cobertura das mesmas.

Na terça-feira, os combatentes talibãs atiraram para o alto em Cabul para dispersar os protestos contra a repressão dos fundamentalistas em Panjshir, um reduto de resistência, e a suposta interferência do Paquistão no Afeganistão.

A Associação Afegã de Jornalistas Independentes (AIJA) informou que 14 repórteres, afegãos e estrangeiros, foram detidos por algumas horas na terça-feira durante as manifestações, protagonizadas em sua maioria por mulheres.

A rebelião no vale de Panjshir, tradicional reduto anti-Talibã, é liderada pela Frente Nacional de Resistência (FNR) e seu chefe Ahmad Masud, filho do famoso comandante Ahmed Shah Masud, assassinado em 2001 pela Al-Qaeda.

O Talibã afirma que controla todo o território, mas a FNR afirma que prossegue com sua luta.

A FRN declarou que o novo governo Talibã é "ilegítimo" e em breve anunciará um gabinete próprio, depois de consultas a "importantes personalidades afegãs".

O ex-presidente Ashraf Ghani, cuja fuga em 15 de agosto abriu as portas de Cabul e do poder ao Talibã, pediu desculpas nesta quarta-feira ao povo afegão por não ter conseguido oferecer um futuro melhor.

"É com profundo pesar que meu próprio capítulo terminou com uma tragédia similar a de meus antecessores, sem garantir a estabilidade nem a prosperidade (do Afeganistão). Peço desculpas ao povo afegão por não ter conseguido que as coisas terminassem de maneira diferente", declarou


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