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Estado de Minas CABUL

Talibãs comemoram retirada americana e Biden defende decisão


31/08/2021 20:15 - atualizado 31/08/2021 20:19

O presidente Joe Biden defendeu firmemente sua decisão de retirar as tropas dos Estados Unidos do Afeganistão como a melhor para os interesses nacionais, durante um discurso à nação sobre o fim da guerra mais longa do país.

"Não tínhamos mais um propósito claro no Afeganistão", disse Biden em seu pronunciamento, um dia após a retirada final. "Esta é a decisão certa. Uma decisão sábia. E a melhor decisão para os Estados Unidos", afirmou.

O presidente democrata, que assumiu o poder em janeiro, disse que tinha duas opções após o acordo que seu antecessor republicano Donald Trump fez com os talibãs em 2020: seguir o compromisso assumido pelo governo anterior ou enviar mais tropas e seguir lutando.

"Essa foi a escolha: entre sair ou escalar (o conflito). Eu não iria estender essa guerra para sempre, e não iria estender uma saída para sempre", explicou Biden na Casa Branca.

A operação de retirada de civis americanos e aliados afegãos antes da retirada final das tropas foi ofuscada por um ataque na quinta-feira passada reivindicado pelo grupo jihadista Estado Islâmico Khorasan (EI-K), que matou cerca de 100 afegãos, 13 soldados americanos e dois britânicos perto do aeroporto de Cabul.

"Seguiremos combatendo o terrorismo no Afeganistão e em outros países", prometeu Biden. "E para o EI-K: ainda não terminamos com vocês", avisou, anunciando que liderará "uma estratégia dura, implacável, focada e precisa".

Durante seu discurso desta terça-feira, Biden elogiou o "sucesso extraordinário" da missão de evacuação dos americanos e seus aliados no Afeganistão.

Desde 14 de agosto, um dia antes de Cabul voltar às mãos do Talibã, os aviões dos EUA e seus aliados evacuaram mais de 123 mil civis a partir do aeroporto de Cabul em um período de 17 dias, segundo o Pentágono.

"Nenhum país conseguiu algo assim em toda a história", disse o presidente dos Estados Unidos. "O sucesso extraordinário desta missão se deve à incrível habilidade, bravura e coragem altruísta dos militares dos Estados Unidos e de nossos diplomatas e profissionais de Inteligência".

Os talibãs aclamaram a saída dos últimos soldados americanos do Afeganistão, uma imagem que encerrou 20 anos de uma guerra devastadora e abre um novo capítulo, marcado por grande incerteza.

A retirada americana foi considerada um êxito "histórico" pelo grupo Talibã, que assumiu o controle de Cabul em 15 de agosto e derrubou o governo afegão após uma ofensiva relâmpago em todo país.

As tropas dos Estados Unidos invadiram o Afeganistão em 2001, na liderança de uma coalizão internacional, para derrubar os talibãs, que se recusavam a entregar o líder da Al-Qaeda, Osama Bin Laden, após os atentados do 11 de Setembro nos Estados Unidos.

"Parabéns ao Afeganistão (...) Esta vitória pertence a todos nós", declarou o porta-voz dos radicais islâmicos, Zabihullah Mujahid, no aeroporto de Cabul, que foi controlado até segunda-feira (30) pelas forças americanas. "Esta é uma grande lição para outros invasores", afirmou.

Na cidade de Kandahar (sul), segunda maior do país e berço do movimento talibã, milhares de pessoas saíram às ruas para festejar.

- Futuro -

Os olhares se voltam agora para o comportamento dos talibãs no comando do país, especialmente se permitirão a saída dos que assim desejarem, incluindo estrangeiros.

Os Estados Unidos informaram que menos de 200 americanos permaneciam no Afeganistão, enquanto o Reino Unido estimou em "poucas centenas" o número de britânicos.

Milhares de afegãos que trabalharam durante anos para o governo apoiado por Washington e temem retaliações também desejam deixar o país.

Conversas estão em andamento sobre quem irá controlar o aeroporto de Cabul, que a chanceler alemã, Angela Merkel, assinalou ser de "importância existencial" para a ajuda humanitária ao Afeganistão.

O secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), Jens Stoltenberg, também disse que é "essencial" manter o aeroporto de Cabul aberto e prometeu não esquecer os que tentam fugir do regime talibã.

O movimento islamista herda um país devastado, apesar dos bilhões de dólares investidos pelos Estados Unidos, em meio a uma pobreza extrema, seca e ameaça jihadista.

Além disso, os novos governantes terão de enfrentar os receios de grande parte da população, que teme um novo regime fundamentalista como o imposto entre 1996 e 2001. Este período é tristemente lembrado pelo tratamento reservado às mulheres, pela proibição das liberdades básicas e pela brutalidade de seu sistema judicial.

Desde que assumiram o poder, os islamitas se esforçam para passar uma imagem conciliadora, e prometeram ser mais tolerantes em sua aplicação da lei islâmica. "Queremos boas relações com os Estados Unidos e com o mundo", garantiu Zabihullah Mujahid nesta terça-feira.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, advertiu hoje sobre a possibilidade de uma "catástrofe humanitária" no Afeganistão, e pediu recursos para o país após a saída das tropas americanas.

O Catar, mediador do processo de paz entre o governo afegão e os talibãs antes do retorno destes últimos ao poder, pediu aos islamitas que lutem contra o terrorismo e formem um governo inclusivo. Alguns cidadãos afegãos também pediram ao movimento rebelde que envolva todos no governo.

- Gosto amargo -

Após duas semanas de retiradas precipitadas e em alguns momentos caóticas, o último avião de transporte militar C-17 decolou do aeroporto nesta segunda-feira (30) pouco antes da meia-noite em Cabul, anunciou em Washington o general Kenneth McKenzie, que dirige o Comando Central dos Estados Unidos. A retirada americana foi concluída 24 horas antes do prazo estabelecido pelo presidente Joe Biden.

Embora o objetivo de neutralizar Osama Bin Laden tenha sido concretizado em 2 de maio de 2011, quando as forças especiais americanas mataram o líder da Al-Qaeda no Paquistão, as tropas dos Estados Unidos permaneceram no Afeganistão - sobretudo, para formar um Exército afegão que rapidamente desapareceu diante do avanço dos talibãs.

No total, os Estados Unidos registraram 2.500 mortes e uma conta de US$ 2,3 trilhões em 20 anos de guerra, de acordo com um estudo da Brown University. Além disso, o país deixa o Afeganistão com a imagem abalada por sua incapacidade de prever a rapidez da vitória dos talibãs e pela maneira como a retirada foi organizada.

A grande operação de retirada a partir do aeroporto de Cabul foi manchada de sangue em 26 de agosto, com o atentado suicida reivindicado pelo grupo extremista Estado Islâmico de Khorasan (EI-K), que deixou mais de 100 mortos, incluindo 13 soldados americanos.

Grande inimigo dos talibãs, o EI-K pode continuar sendo uma ameaça e executar novos ataques no país. Joe Biden prometeu que os Estados Unidos darão prosseguimento à luta contra o terrorismo no Afeganistão e em outros países, e advertiu o EI-K: "Ainda não terminamos com vocês."


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