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Estado de Minas VÄSTERÅS

Herança patriarcal sobrevive na Suécia, apesar da igualdade de gênero


06/08/2021 10:34

Carl Johan Cronstedt, de 75 anos, pertence à nobreza sueca e é a décima geração a legar sua propriedade aos herdeiros. Mas neste país porta-estandarte da igualdade de gênero, um "vestígio feudal" permite que a herança seja transmitida em sua totalidade a um único filho, geralmente um homem.

A cerca de dez quilômetros de Västerås, fortaleza da classe operária do país, fica Fullerö, uma propriedade de 700 hectares que abriga um castelo cor de tijolo cercado por pilastras brancas.

A propriedade, construída em 1656 de acordo com os planos do arquiteto franco-sueco Jean de la Vallée, é um dos maiores patrimônios históricos da Suécia e foi passada de pai para filho desde 1739, quando o conde Johan Cronstedt decidiu transformá-la em um "fideikommiss" (fiduciário).

O princípio deste sistema é tornar indivisíveis os bens, terras e propriedades de uma família por meio de um testamento, que só pode ser herdado pelo irmão mais velho, em detrimento dos demais irmãos.

"Os 'fideikommiss' foram importados da Alemanha pela nobreza sueca em meados do século XVII. Era uma maneira das famílias ricas manterem sua posição forte na sociedade", explica Martin Dackling, historiador da Universidade de Lund.

Embora ao longo da história algumas filhas herdaram, na grande maioria dos casos essa forma de herança recaiu sobre os filhos, reconhece o especialista.

"A Suécia é um dos últimos países do mundo onde isso ainda existe. É surpreendente que em um país onde a igualdade de gênero e a igualdade econômica são as principais prioridades, esse vestígio feudal continue existindo", analisa o pesquisador.

- Carta escrita por Rousseau -

Carl Johan Cronstedt, um homem carinhoso e jovial, adora falar sobre a história de sua propriedade, que apresentou à AFP.

Na ala esquerda do castelo, mostra com orgulho uma carta escrita pelo escritor e filósofo do século XVIII Jean-Jacques Rousseau, endereçada ao seu avô.

"Sou a décima geração a administrar Fullerö. Tenho um filho, uma filha e cinco netos", disse o conde, olhando para o filho mais velho, Carl, de 45 anos.

"Se o Governo aceitar o nosso pedido de prorrogação do 'fideikommiss', tudo corresponderá a ele", explica Carl, que espera que o espólio possa assim "ficar na família".

Em 1963, ressaltando o caráter obsoleto dessa forma de herança, o governo social-democrata aprovou uma lei para desmantelar as poucas centenas de "fideikommiss" que restavam. Mais de quarenta anos depois, apenas dez permanecem.

Mas, na década de 1990, alguns puderam ser prorrogados graças a uma exceção na lei.

"Se o valor histórico e cultural da propriedade não pode ser preservado de uma geração para outra, o governo pode conceder uma extensão do fideikommiss, mas apenas para uma geração de cada vez", explica Martin Dackling.

A propriedade Fullerö abriu um precedente em 1995, quando o governo de esquerda concordou em prorrogar este fideikommiss pela primeira vez, argumentando que a propriedade se fragmentaria se passasse a vários herdeiros, perdendo assim seu valor histórico.

Como resultado dessa decisão, vários fideikommiss no país usam esse argumento para manter seu patrimônio intacto.

O conde Cronstedt agora quer que a exceção seja válida sem uma data.

"Continuamos querendo que o descendente mais velho herde, mas sem distinção de gênero", diz ele, reagindo ao alvoroço que seu pedido de prorrogação causou na mídia sueca.

Caminhando por gramados recém-cortados em um dia de verão excepcionalmente quente, Carl Cronstedt espera manter a casa, como seu pai fez, para que ele possa cuidar de "uma velha fazenda que tem muito valor cultural e histórico".


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