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Estado de Minas PARIS

A luta de militares traumatizados por guerras para curar feridas invisíveis


12/07/2021 13:18

Há uma década, o transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) afeta fortemente a vida de Omar, um ex-comandante da Marinha francesa, de 35 anos. Ele se separou de sua companheira, foi várias vezes internado e continua um tratamento pesado.

"Dá vontade de atirar em si mesmo", resume este mexicano, que chegou na França ainda adolescente.

O ex-oficial das forças especiais prefere não comentar as causas de seus "ferimentos invisíveis". Menciona apenas um destacamento muito difícil na Guiana Francesa, em 2012, e uma passagem pelo "Afeganistão" sobre a qual nada dirá, emocionado.

Seu longo caminho de reabilitação foi marcado por acampamentos esportivos para feridos. Mas "há uma tremenda descompensação (psicológica) quando terminam", diz.

Na busca por um melhor atendimento a esses soldados, as Forças Armadas francesas estão experimentando uma nova abordagem, já aplicada com sucesso no Canadá, em Israel e nos Estados Unidos.

O princípio é oferecer uma estrutura "psicossocial" a esses militares para que possam reaprender, passo a passo, como voltar à vida normal e se projetar no futuro.

"Era algo necessário", disse à AFP o general Patrice Quevilly, chefe do projeto.

- Ajuda mútua -

No sul da França, a "casa Athos" acolhe uma dezena de veteranos afetados por terem visto a morte de muito perto.

Na parede da sala está a programação da semana: atividades esportivas, refeições em grupo, pintura, artesanato, entre outros.

"Os feridos se ajudam mutuamente", aponta Luc de Coligny, ex-oficial da Marinha que dirige esta casa na cidade de Toulon.

Aqui, não há jaleco nem uniforme. Apenas um instrutor de esportes, uma enfermeira e um ex-psicólogo do Exército para acompanhar os feridos, todos voluntários.

O Exército francês se inspirou nos "Clubhouses", centros criados em 1948 nos Estados Unidos para oferecer atividades a pessoas psicologicamente fragilizadas (depressão, esquizofrenia...), a fim de romper seu isolamento e acostumá-las aos gestos da vida cotidiana.

"Atende a uma necessidade confirmada por nossos psiquiatras", disse o médico Xavier Desruelles, conselheiro de saúde do chefe do Estado-Maior do Exército francês.

Aqui, Omar melhorou: "Estamos cercados de colegas com experiências semelhantes, nos entendemos", afirma.

Desde que chegou, voltou a praticar esportes, perdeu peso e recuperou o sorriso. Ele está se preparando para finalmente virar a página do Exército, treinando em sistemas de aquecimento.

Na raiz desta doença insidiosa que causa ataques de ansiedade, raiva, hipervigilância, insônia, depressão e somatização, está um confronto brutal com a morte, que causa uma intrusão no cérebro e danos cerebrais que impedem o córtex e a amígdala de se comunicarem, explica o coronel Antoine Brûlé, comandante da Célula de Assistência às Vítimas do Exército (CABAT).

Foi o que aconteceu com Christophe, de 35 anos, ex-integrante do 3º Regimento de Fuzileiros Navais. Em 2009, seu veículo blindado foi atingido por uma bomba caseira em Tagab, no Afeganistão. Três de seus companheiros morreram. Ele se salvou, mas sofreu queimaduras do pescoço à coxa.

Seu transtorno de estresse pós-traumático eclodiu quatro anos depois, quando o suicídio de um colega soldado, um veterano do Afeganistão, "trouxe tudo à luz".

"É difícil não ser compreendido por seus entes queridos. Como resultado, você se isola", diz.

- "Baixas" -

Esse mal é tão antigo quanto a própria guerra, mas demorou muito para ser identificado.

Com a Grande Guerra, os exércitos modernos enfrentaram pela primeira vez o problema das "baixas psíquicas": soldados fisicamente ilesos, mas incapazes de lutar, o que deixou os cientistas perplexos.

Por muito tempo, foi erroneamente equiparado à covardia.

Em 1943, o general americano George Patton deu um tapa em dois soldados, sem ferimentos aparentes, hospitalizados por "fadiga".

Esses distúrbios gradualmente atraíram a atenção de psiquiatras que tratavam de soldados que voltavam da Indochina ou do Vietnã. Mas foi somente no final do século XX que o fenômeno foi realmente levado em consideração nos exércitos ocidentais.

No entanto, embora esforços tenham sido feitos para detectar e tratar, as vítimas de TEPT ainda precisam passar por uma corrida de obstáculos administrativos para reivindicar seus direitos.

"Quando esses direitos não são reconhecidos, é um trauma que se soma aos demais", diz Jérôme, ex-militar das forças especiais, que descreve a situação de "feridos afogados na papelada" e com "dificuldades na defesa de seus direitos" após deixar o Exército.


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