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Estado de Minas BOGOTÁ

Mercenários: a exportação sinistra do conflito colombiano


09/07/2021 21:10 - atualizado 09/07/2021 21:13

Eles lutam no Iêmen ou no Afeganistão, monitoram oleodutos nos Emirados Árabes e até conspiram no Haiti. Endurecidos por meio século de conflito interno, militares colombianos da reserva e combatentes ilegais alimentam o mercado sinistro de mercenários no mundo.

Vinte e seis colombianos são acusados pelas autoridades haitianas de terem participado do assassinato do presidente Jovenel Moise na madrugada de quarta-feira em sua residência.

Bogotá disse que pelo menos 17 de seus ex-militares estão supostamente envolvidos no ataque, 15 dos quais foram capturados e dois foram mortos por forças haitianas.

A suposta participação de mercenários colombianos destaca um lucrativo mercado transnacional.

"Há uma grande experiência em termos de guerra irregular (...) o soldado colombiano é treinado, tem experiência em combate e também é uma mão de obra barata", explicou à AFP Jorge Mantilla, pesquisador de fenômenos criminais da Universidade de Illinois, em Chicago.

Não são apenas os soldados que deixaram o exército que cruzam as fronteiras da Colômbia, o maior exportador mundial de cocaína, para praticar atos de violência por encomenda.

Em maio de 2004, as autoridades venezuelanas prenderam "153 paramilitares colombianos" acusados de fazer parte de um plano para assassinar o então presidente Hugo Chávez.

- Treinados, empobrecidos e numerosos -

A Colômbia é uma fonte inesgotável de soldados. Cerca de 220.000 militares integram as Forças Armadas e milhares deles estão deixando o exército por falta de possibilidades de promoção, má conduta ou porque cumpriram 20 anos de serviço.

Todos os anos "entre 15.000 e 10.000 soldados deixam nossas fileiras do exército (...) é um universo humano muito difícil de controlar", observou o coronel John Marulanda, presidente da Associação Colombiana de Oficiais da Reserva das Forças Militares (Acore), em entrevista à W Radio.

Eles deixam o exército relativamente jovens com pensões baixas e isso os torna "vítimas de melhores oportunidades econômicas", acrescentou.

Em sua opinião, o que aconteceu no Haiti é um "caso típico de recrutamento" de ex-militares colombianos por empresas privadas para realizar operações em outros países.

Segundo autoridades colombianas, havia quatro empresas envolvidas no assassinato do presidente. Uma mulher que se apresentou como companheira de Francisco Eladio Uribe, um dos colombianos capturados, disse que uma empresa fez ao marido uma proposta de US$ 2.700 para ingressar no grupo.

Uribe deixou o Exército em 2019 e está vinculado a um processo judicial pelo escândalo conhecido como "falsos positivos", no qual oficiais uniformizados executaram mais de 6.000 civis entre 2002 e 2008 para fazê-los passar de vítimas de combate em troca de benefícios.

- Negocio global -

Em maio de 2011, o jornal The New York Times revelou que um avião com dezenas de ex-soldados colombianos pousou em Abu Dhabi para se juntar a um exército de mercenários contratados pela empresa norte-americana Blackwater para proteger ativos importantes para os Emirados Árabes Unidos.

O mesmo jornal revelou, em 2015, que centenas de colombianos lutavam contra rebeldes houthis no Iêmen, agora contratados diretamente pelos Emirados.

Para Mantilla, por uma década "houve um boom nessa indústria".

Naquela época, os Estados Unidos começaram a substituir suas tropas no Oriente Médio por "empresas de segurança privada porque envolvem um custo político menor em termos de baixas e se encontram em uma área cinzenta no direito internacional".

Diante de eventuais violações de direitos humanos, "a responsabilidade legal será assumida pelos autores materiais" e não pelo Estado ou empresa que os contratou, observa o analista.

Hoje, existe um mercado global onde empresas americanas, inglesas, francesas, belgas ou dinamarquesas recrutam mercenários principalmente na América Latina ou em países que tiveram conflitos armado como Zimbábue e Nepal.

"As empresas são legais, mas isso não significa que todas as atividades que essas pessoas fazem sejam estritamente legais", concluiu Mantilla.

THE NEW YORK TIMES COMPANY


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