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Estado de Minas BOGOTÁ

Ingrid Betancourt confronta seus ex-sequestradores das Farc na Colômbia


23/06/2021 19:56

A colombo-francesa Ingrid Betancourt confrontou pela primeira vez ex-guerrilheiros das Farc sobre seus mais de seis anos em cativeiro na selva da Colômbia, durante um encontro nesta quarta-feira (23) entre vítimas e ex-combatentes previsto pelo acordo histórico de paz.

"Aqui estamos, os que carregam feridas e mortos com a dificuldade de olharmos uns nas caras dos outros. Com a dor de nos ouvir e com o pudor de nossas emoções, mas com a decisão compartilhada de quebrar o círculo vicioso de violência", declarou uma comovida Betancourt, ex-candidata presidencial colombiana e símbolo internacional do sofrimento do sequestro.

Libertada em uma operação militar em 2008, Betancourt criticou as declarações anteriores dos ex-guerrilheiros por não falarem "de seu coração", mas "da política".

"Eu ouvi com emoção as histórias dos meus irmãos de dor, mas devo confessar que estou surpresa de que nós, neste lado do palco, estejamos todos chorando e que do outro lado não tenha havido uma única lágrima", lamentou Betancourt durante o evento organizado pela Comissão da Verdade, de natureza extrajudicial e decorrente do acordo de paz.

"Enquanto o nosso pesadelo for somente nosso, ainda ficaremos longe de sermos capazes de explicar à Colômbia o que realmente aconteceu", completou Betancourt, que voltou a ficar frente a frente com seus sequestradores depois de 13 anos.

Durante sua longa e fracassada luta pelo poder, as Farc recorreram ao sequestro de pessoas para fins econômicos e políticos.

Após o acordo de paz assinado em 2016, os líderes da ex-guerrilha mais poderosa do continente compareceram perante um tribunal especial para esclarecer este e outros crimes.

"Para aqueles que nunca retornaram do sequestro, para os que perderam suas vidas em nossas mãos, a seus próximos que sofreram por anos por causa de sua ausência, suplicamos que nos perdoem pela terrível agonia causada, falamos com uma sensação de vergonha", declarou Rodrigo Londoño, conhecido como Timochenko e último comandante desta guerrilha.

- "E o pedido de perdão?" -

Participaram do encontro vítimas, familiares de sequestrados, ex-guerrilheiros, o embaixador da União Europeia na Colômbia e integrantes do sistema de justiça de paz.

Depois de encerrar um conflito de pouco mais de cinco décadas por meio de um acordo negociado em Cuba, ex-integrantes das Farc e hoje membros do novo partido de esquerda Comunes respondem à Jurisdição Especial para a Paz (JEP).

Oito líderes das Farc foram indiciados em janeiro por crimes contra a humanidade ocorridos entre 1990 e 2016, período em que sequestraram 21.396 pessoas.

Em documento, os ex-guerrilheiros reconheceram sua responsabilidade e pediram desculpas ao JEP, que avalia se houve "reconhecimento total dos crimes denunciados e contribuições à verdade".

Já o senador Carlos Lozada lamentou que dos 13 mil ex-guerrilheiros que aderiram ao processo de paz, 275 tenham sido assassinados em quase cinco anos, em meio ao recrudescimento da violência no país, alimentado pela expansão de grupos armados em regiões remotas da Colômbia.

No final do encontro, o público presente perguntou: "E o pedido de perdão?".

Lozada respondeu que já havia se desculpado em outras ocasiões e não queria fazer uma declaração imposta para uma manchete de imprensa.

Ingrid Betancourt também perguntou como vão "reparar as vítimas" e "onde estão os recursos do narcotráfico?".

Os ex-guerrilheiros que prestam contas ao JEP devem confessar os seus crimes e reparar as suas vítimas para não serem presos e receberem penas alternativas. Caso não cumpram, podem ser condenados a penas de até 20 anos de prisão.


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