Quando em 2012 este jornalista abandonou a televisão para lançar seu partido Yesh Atid ("Há um futuro"), seus críticos o acusaram de usar sua 'imagem de galã de cinema' para seduzir a classe média.
Quase dez anos depois, Lapid continua de pé e alcançou seu objetivo: tirar do poder Netanyahu, o primeiro-ministro mais antigo da história de Israel e acusado de corrupção em vários casos.
Em 2 de junho, ele assinou um acordo de coalizão com partidos de direita, esquerda e centro e uma formação árabe, pacto que foi posteriormente aprovado pelo Parlamento.
O texto, baseado em um rodízio, prevê que o líder da direita radical, Naftali Bennett, assumiria o governo nos primeiros 18 meses e depois Lapid tomará as rédeas.
Durante as eleições legislativas de março de 2020, Lapid integrou seu partido à coalizão centrista "Azul-Branco" do general Benny Gantz.
Mas quando Gantz chegou a um acordo para formar um governo com "Bibi", apelido de Netanyahu, Lapid fez as malas.
"Eu disse a (Gantz) 'já trabalhei com Netanyahu (...), ele não deixará que você coloque as mãos no volante'", contou Lapid há alguns meses à AFP.
"Gantz me disse: 'confiamos nele, ele mudou'. E eu respondi 'o homem tem 71 anos, não vai mudar'. E infelizmente para o país, eu tinha razão", acrescentou Lapid, ministro das Finanças durante 20 meses (2013-2014) no governo de Netanyahu.
Nas legislativas de 23 de março, o partido centrista do Lapid alcançou a segunda posição, com 17 deputados, atrás do Likud (direita) de Netanyahu.
- Imprensa e romance policial -
Nascido em novembro de 1963 em Tel Aviv, cidade onde concentra sua base eleitoral, Lapid é filho do falecido jornalista Tommy Lapid, ex-ministro da Justiça.
Sua mãe, a escritora Shulamit Lapid, é uma das mestres dos romances policiais israelenses, com uma série de obras cuja protagonista é uma jornalista.
O jornalismo impregnou a juventude de Lapid, que assinou suas primeiras matérias para o jornal Maariv, antes de passar ao Yedioth Aharonot, o mais vendido do país, o que deu a ele uma grande notoriedade.
Paralelamente, Lapid continuou suas atividades: lutou boxe, praticou as artes marciais, escreveu romances policiais e séries de televisão, compôs e interpretou canções e até atuou no cinema.
Mas foi na televisão - nos anos 2000 se tornou o apresentador de talk shows mais seguido do país - onde se impôs como a encarnação do israelense comum, fazendo sempre a mesma pergunta aos seus convidados: "O que é ser israelense na sua opinião?"
Patriota, liberal, laico, insultado pelos judeus ortodoxos - aliados-chave de Netanyahu -, Lapid conseguiu se posicionar no centro.
- "Humildade" -
"Ele se abstém de se vangloriar (...) e é o mais 'não-candidato' de todos os candidatos ao cargo de primeiro-ministro", afirmou antes das eleições de março o jornalista Yuval Karni no Yediot Aharonot, destacando que os israelenses "apreciam" a sua humildade.
Quando milhares de israelenses protestavam contra Netanyahu semanalmente, por causa das acusações de corrupção, Lapid mantinha a discrição.
"Tinha a sensação de que não conseguiria me manifestar como líder da oposição em frente à residência do primeiro-ministro", disse.
Dizia que não buscava ser primeiro-ministro e sim aliar-se a outros partidos para expulsar o "rei Netanyahu" de seu trono e "romper barreiras que dividem a sociedade israelense".
Recentemente, o centrista desejou "um governo que diga: não nos odiamos".
Com Bennett, representante de uma direita radical oposta em muitos pontos às suas visões centristas, forma uma aliança que não é natural, mas guiada pelo mesmo objetivo de mudança no comando do país.
JERUSALÉM