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Estado de Minas SAÚDE

Após 40 anos de pesquisa sobre a Aids, em que ponto está a vacina?

Apesar de avanços, o HIV ainda não tem uma vacina para combater a infecção antes que a doença se desenvolva


07/06/2021 18:03 - atualizado 07/06/2021 18:32

(foto: AFP)
(foto: AFP)

Quatro décadas de pesquisas sobre a Aids permitiram que pesquisadores de todo o mundo fizessem avanços imensos, transformando o que era uma longa sentença de morte em uma doença com a qual podemos viver.

Mas, apesar desses avanços, o HIV (vírus da imunodeficiência humana), que causa a Aids (da mesma forma que o Sars-CoV-2 causa a COVID-19), ainda não tem uma vacina para combater a infecção antes que a doença se desenvolva.

A seguir, um resumo dessa busca no combate a esse vírus que atinge 38 milhões de pessoas em todo o mundo.

Por que uma vacina?


O acesso aos medicamentos anti-retrovirais, que ajudam a manter baixa a carga viral no corpo das pessoas infectadas e mantê-las saudáveis, tornou-se generalizado. Eles também ajudam a prevenir a transmissão do HIV aos seus parceiros.

Pessoas com alto risco de infecção também podem fazer a chamada profilaxia pré-exposição (PrEP), uma pílula que é administrada diariamente e reduz o risco de infecção em 99%.

"Mas o acesso aos medicamentos não está estabelecido em todas as partes do mundo", disse Hanneke Schuitemaker, diretora de descoberta de vacinas da Johnson&Johnson (J&J), à AFP.

Mesmo os países desenvolvidos têm grandes disparidades socioeconômicas no acesso a esses tratamentos, e as vacinas têm sido, historicamente, as ferramentas mais eficazes para erradicar doenças infecciosas.

A J&J está atualmente conduzindo dois testes clínicos em humanos para sua vacina candidata, e os primeiros resultados de um deles podem surgir "ainda este ano", diz Schuitemaker.


Por que é tão difícil de desenvolver?


As vacinas contra a COVID-19, desenvolvidas em tempo recorde e demonstrando notável eficácia e segurança, tornaram possível reduzir drasticamente as infecções em países com acesso a doses suficientes.

Muitos desses medicamentos usam tecnologias que foram testadas pela primeira vez para HIV. Então, por que eles não funcionaram contra a AIDS até agora?

"O sistema imunológico humano não se recupera do HIV, embora tenha ficado muito claro que poderia se recuperar muito bem da COVID-19", disse à AFP Larry Corey, principal investigador da Rede de Testes de Vacinas contra o HIV (HVTN), organização que financia o desenvolvimento de vacinas contra esse vírus em todo o mundo.

As vacinas contra a COVID-19 funcionam criando anticorpos que se fixam na proteína do pico do vírus e evitam que ele infecte células humanas.

O HIV também tem as chamadas proteínas de pico, mas embora conheçamos apenas algumas dezenas de variantes bem identificadas de COVID-19, o HIV mostra centenas, até milhares de variantes em cada pessoa infectada, explica William Schief, imunologista chefe do desenvolvimento de uma vacina de RNA mensageiro contra o HIV no Scripps Research Institute.

O HIV, um "retrovírus", é integrado ao DNA do organismo contaminante, que funciona como um "hospedeiro". Portanto, para ser eficaz, a vacina deve interromper a infecção completamente, não apenas reduzir a quantidade de vírus que o HIV libera no corpo.

Em que estágio estão as pesquisas?


Até agora, décadas de tentativas de desenvolver uma vacina contra o HIV não tiveram sucesso.

A única vacina candidata que já forneceu proteção contra o vírus foi considerada muito ineficaz no ano passado em um ensaio clínico chamado "Uhambo", conduzido na África do Sul.

A da J&J está sendo testada atualmente com 2.600 mulheres da África Subsaariana, e os primeiros resultados desse ensaio, batizado de "Imbokodo", são esperados nos próximos meses.

A eficácia desse remédio também foi avaliada no ensaio "Mosaico" em 3.800 homens que fazem sexo com outros homens ou pessoas trans nos Estados Unidos, América do Sul e Europa.

A vacina da J&J contra o HIV usa a mesma tecnologia da COVID-19, a do "vetor viral": um tipo de vírus muito comum chamado adenovírus é modificado para carregar no corpo informação genética para combater o vírus alvo, produzindo neste processo moléculas capazes de induzir uma resposta imune contra um amplo espectro de cepas de HIV.

Os reforços nesta vacina incluem diretamente proteínas sintéticas.

Outra abordagem promissora é gerar "anticorpos neutralizantes de amplo espectro", que aderem a áreas que muitas variantes do HIV têm em comum.

A organização International AIDS Vaccine Initiative e o Scripps Research Institute publicaram recentemente os resultados de uma etapa preliminar de um ensaio que mostra que sua vacina candidata estimula a produção de células imunes raras, que produzem exatamente esse tipo de anticorpo.

Essas instituições esperam dar o próximo passo no desenvolvimento de sua vacina utilizando a tecnologia de RNA mensageiro, em parceria com a Moderna.

Esse remédio visa, por meio de várias doses, "educar" aos poucos os linfócitos B que produzem os anticorpos. Os pesquisadores também esperam treinar outros linfócitos, as células "T", para matar células que foram infectadas.

A vacina candidata ainda está longe de ser capaz de reivindicar um ensaio clínico adequado, mas William Schief diz que espera que o imunizador, que transforma células em fábricas de vacinas e cuja tecnologia foi testada contra a COVID-19, estabeleça um antes e depois de um depois contra o HIV.


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