O artista Kacey Wong recuperou centenas de pedaços de velas consumidas em vigílias anteriores e que quer voltar a distribuí-los nesta sexta-feira. "Cada vela consumida leva em si o reconhecimento de uma pessoa que se sacrificou pela democracia (...)", declarou.
Durante décadas, Hong Kong e Macau foram os únicos lugares da China onde se relembravam em 4 de junho os acontecimentos da praça Tiananmen, em Pequim. Mas pela primeira vez em 30 anos, a vigília não foi aprovada em 2020 pelas autoridades, que usaram como pretexto a pandemia. Isso ocorreu em um contexto de crescente influência do poder central da China nesta ex-colônia britânica, agora território semiautônomo.
Apesar disso, milhares de pessoas ignoraram a proibição em 2020 e se reuniram pacificamente em um parque no coração da ilha de Hong Kong.
- Sob a ameaça da lei -
Este ano, a polícia se recusou novamente a autorizar a manifestação. A conhecida ativista pró-democracia de Hong Kong Chow Hang-Tung foi detida nesta sexta-feira do lado de fora de seu escritório por quatro oficiais, por suspeita de promover uma reunião ilegal.
No ano passado, o clima político se degradou consideravelmente em Hong Kong, com a implacável repressão do movimento pró-democracia, que mobilizou massivamente a população em 2019 contra as interferências de Pequim.
Desta vez, a pandemia é novamente o pretexto para proibir a vigília de sexta, apesar de há um mês o território não registrar nenhum caso de contaminação local de origem não identificada.
No entanto, as autoridades alertaram que a lei de segurança nacional -- draconiana lei adotada para impedir qualquer forma de dissidência -- será aplicada a quem se reunir para relembrar Tiananmen.
Os militantes pró-democracia esperam que o poder não consiga impedir todos os atos de homenagem.
O ex-deputado preso Albert Ho, um dos organizadores da vigília, convidou os habitantes de Hong Kong a acenderem velas, ou seus celulares, em seus bairros. "Podemos considerar que toda Hong Kong está no Parque Vitória", declarou ele na semana passada ao South China Morning Post.
O artista Pak Sheung-chuen pediu a todos os habitantes para escreverem os números 4 e 6, pela data de 4 de junho, nos interruptores de suas casas, para transformar o gesto de acender a luz em um gesto de homenagem. "Protejam a verdade e se recusem a esquecer", escreveu no Facebok.
Tradicionalmente, 08h09 é a hora simbólica em que se acendem as velas na vigília, em referência ao ano de 1989.
Publicidade
HONG KONG
Hong Kong se prepara para lembrar Tiananmen apesar da proibição de Pequim
Publicidade
