O líder da oposição israelense, o centrista Yair Lapid, ligou para o presidente israelense, Reuven Rivlin, à noite para anunciar que ele havia garantido o apoio necessário (61 de 120 deputados) para uma coalizão que acabará com o governo do primeiro-ministro que ocupou o cargo por mais tempo no país.
Lapid, que tinha até 23h59 (17H59 no horário de Brasília), fez este anúncio depois de formalizar o apoio dos partidos de direita e da formação árabe Raam durante a noite para seu futuro governo, segundo seu gabinete.
Sua equipe divulgou uma imagem deste acordo de coalizão, assinado pelos líderes de oito partidos israelenses - dois de esquerda, dois de centro, três de direita e um árabe - que poderia marcar um ponto de inflexão na história política de Israel.
A última vez que um partido árabe israelense apoiou um Executivo - sem participar dele - foi em 1992, durante o "governo de paz" de Yitzhak Rabin.
Desta vez, o partido Raam, do islamita Mansur Abbas, assinou o acordo sem informar se participaria ativamente do governo.
"Este governo estará a serviço de todos os cidadãos de Israel, inclusive aqueles que não são membros, respeitará aqueles que se opõem e fará tudo o possível para unir" a sociedade israelense, declarou Lapid ao presidente.
- Manifestações contra e a favor -
"Parabenizo você e os chefes dos partidos por este acordo governamental. Esperamos que o Parlamento se reúna o mais rápido possível para ratificá-lo", reagiu Rivlin.
Por coincidência, os deputados elegeram nesta quarta-feira o sucessor de Rivlin na presidência, o trabalhista Isaac Herzog, de 60 anos, para este cargo essencialmente honorário.
Netanyahu, seu partido de direita, o Likud, e seus advogados estão lutando para impedir que o primeiro acordo de coalizão sem ele em dois anos obtenha a aprovação parlamentar.
De acordo com a imprensa israelense, o presidente do Parlamento, Yariv Levin (Likud), poderia adiar em uma semana o voto de confiança no Parlamento com a esperança de, neste período, dividir o campo anti-Netanyahu.
Em frente ao hotel onde acontecem as discussões, centenas de manifestantes a favor ou contra a "coalizão de mudança" se reuniram com bandeiras israelenses, em meio a forte vigilância policial, apurou a AFP.
"Não acho que este governo seja uma coisa boa. Não representa as pessoas que votaram na direita. É terrível", comentou Meir Cohen, um apoiador do Likud de 24 anos, em Jerusalém.
- Rotação -
Em meados de maio, o Lapid recebeu a missão de formar um governo após o fracasso do atual primeiro-ministro com base nos resultados das eleições de março, as quartas em dois anos.
A negociação passou quase despercebida durante a espiral de violência entre manifestantes palestinos e a polícia israelense em Jerusalém Oriental e em cidades judaico-árabes em Israel, e a guerra de 11 dias entre o exército israelense e o movimento islâmico Hamas em Gaza.
Mas Lapid conseguiu convencer o líder radical de direita Naftali Bennett a embarcar neste projeto com base na rotação do chefe de governo.
A coalizão é tão heterogênea e improvável que discorda em quase todos os temas, da relação com os palestinos à recuperação econômica, passando pelo espaço ocupado na religião na política.
Seu único ponto em comum é o desejo de acabar com a era Netanyahu, que chegou pela primeira vez ao poder há 25 anos e governou de 1996 a 1999, antes de ser reeleito em 2009, desde quando atua como o primeiro-ministro. Atualmente, está sendo julgado por corrupção.
Netanyahu está sendo julgado por "corrupção" em três casos, o que faz dele o primeiro chefe de Governo israelense que enfrenta acusações penais enquanto está no cargo. Se deixar o poder, ele voltará a ser um simples de deputado e perderá a influência para tentar aprovar uma lei que o proteja de seus problemas legais.
JERUSALÉM