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Estado de Minas AL HAYJANA

Rebanhos em perigo na Síria e não somente por causa dos extremistas


07/05/2021 14:44

Quando criança, Mohamed Saasaani acompanhava seu pai nas pastagens de Badiya para alimentar as ovelhas da família. Mas esta região síria devastada pela guerra está repleta de extremistas e minas, e a ração é muito cara.

A grande Badiya, uma área semidesértica que se estende dos subúrbios de Damasco ao extremo leste do país, na fronteira com o Iraque, foi uma das áreas de pastagem mais preciosas da Síria por muito tempo.

Mas os perigos obrigaram os fazendeiros a recorrer à ração industrial, que, no entanto, é muito cara em um país em pleno colapso econômico e que perdeu quase metade de seu rebanho em uma década de guerra.

"Temos medo de morrer com nossas ovelhas", resume Mohamed Saasaani, um dos criadores de ovinos mais famosos de Damasco, conhecido como Abu Kasem. "Temos medo das minas, dos extremistas e dos bandidos", acrescenta, referindo-se ao grupo Estado Islâmico (EI).

Agora, ele leva seus animais para pastar em Al Hayjana, próximo a Ghouta Oriental, considerado o jardim de Damasco. Sentado em uma rocha, ele conta sobre as longas peregrinações de sua infância, quando seu pai conduzia centenas de ovelhas aos portões da cidade de Palmira, a pérola do deserto. Hoje, uma ovelha pode morrer ao pisar em uma mina.

Desde a queda de seu "califado", em 2019, os extremistas do EI - que voltaram à clandestinidade - têm usado a área como base de retaguarda para lançar ataques mortais. Logo, os agricultores estão tendo que recorrer à ração importada, cujos preços subiram por causa da desvalorização da libra síria.

Assim como muitos pastores, Abu Kasem teve que vender grande parte do seu gado ovino, reduzindo-o de 500 ovelhas para menos de cem. Antes da guerra, os pastores se orgulhavam do tamanho de seus rebanhos, que eram suficientes para atender às necessidades do mercado local e até permitiam a exportação.

- Contrabando, seca e combates -

Em 2010, o país tinha 15 milhões de ovelhas e 10 milhões de vacas. Em dez anos, esses números diminuíram pela metade, explica Osama Hammoud, autoridade do Ministério da Agricultura, à AFP.

Há diversas razões. Em primeiro lugar, acontece o "contrabando para os países vizinhos, já que o gado da Síria é muito valorizado", explica Abdel Razzak Wayha, diretor de um centro veterinário.

"Mas também pelo ressecamento dos poços de água e pelos anos de seca com a diminuição das chuvas", acrescenta.

A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) também apontou como motivo a movimentação populacional ocasionada pelos combates.

"Quando as pessoas migram, não podem levar os animais com elas ou alimentá-los pelo caminho", explica o representante da FAO na Síria, Mike Robson.

Para ajudar os criadores a lidar com a crise, a FAO fornece ração e serviços veterinários, enquanto trabalha para aumentar o rebanho através da inseminação artificial.

"A ração é o ponto principal", reconhece Robson, elogiando a retomada da produção em algumas regiões.

Saleh Farrah, proprietário de uma fazenda de gado nos arredores de Damasco, foi forçado a vender sua vaca favorita, Saada, para alimentar o resto do rebanho.

"Só a forragem representa cerca de 75% dos custos", reconhece o agricultor de 59 anos. "Comer carne ficou muito caro. O mesmo vale para leite, iogurte e queijo", ressalta.


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