Pelo menos uma grande mobilização por ano desde 2019 colocou o presidente conservador em xeque. Após o fim do confronto armado com as Farc, guerrilha que se transformou em partido político, os manifestantes não só rejeitam a violência, mas exigem políticas que melhorem suas condições de vida.
Segue um relato dos três episódios:
- Protesto diferente -
A última vez que a Colômbia ouviu os sons das ruas em rejeição a algo diferente da violência foi em 1977. Na época, os sindicatos eram os protagonistas. Mas em novembro de 2019, centenas de milhares foram às ruas para mostrar sua insatisfação com o governante mais jovem da história recente do país, agora com 44 anos.
Reunidos pelo chamado Comitê Nacional de Desemprego - que continua liderando os protestos - sindicatos, estudantes, indígenas, ambientalistas e opositores fizeram quase três semanas de denúncias.
Foi uma manifestação polivalente: a favor do ensino público gratuito, rejeição da corrupção, contra o assassinato de ativistas sociais e ex-guerrilheiros que assinaram a paz em 2016 e em apoio ao pacto histórico do qual Duque é crítico.
Os protestos deixaram quatro mortos e cerca de 500 feridos.
- Brutalidade policial -
Em 2020, o descontentamento voltou junto com a rejeição à brutalidade policial. O assassinato de Javier Ordoñez (43 anos) em Bogotá, pelas mãos de agentes que o sujeitaram a punições violentas, desencadeou a ira dos manifestantes.
A polícia, que durante o prolongado conflito armado interno foi muito popular, foi desta vez o foco dos protestos.
As pessoas avançaram sobre mais de cinquenta postos policiais de bairro que foram destruídos.
Durante os dias de manifestação, 13 pessoas morreram na capital e arredores, a maioria jovens entre 17 e 27 anos que foram baleados.
Centenas foram feridas por balas. A prefeitura de Bogotá denunciou que os policiais uniformizados atiraram indiscriminadamente contra civis.
O governo pediu desculpas pelos excessos da força pública. Em abril de 2021, um dos policiais foi condenado a 20 anos de prisão pela morte de Ordóñez.
- Reforma tributária -
Uma proposta de reforma tributária, que segundo especialistas castiga a classe média, foi o ponto de partida para uma nova mobilização contra o presidente Duque.
Em meio à crise econômica gerada pela pandemia e com a pobreza e o desemprego em alta, o presidente apresentou ao Congresso uma iniciativa que buscava aumentar o ICMS sobre determinados produtos e ampliar a base tributária.
Dezenas de milhares protestaram nas ruas das principais cidades em 28 de abril. Uma semana depois, as manifestações continuam, em meio a confrontos que deixaram uma dezena de mortos e mais de 800 feridos.
A comunidade internacional denunciou os abusos da força pública durante os dias de protesto. Segundo ONGs e defensores dos direitos humanos, a polícia abriu fogo contra civis.
Embora o presidente tenha retirado a iniciativa de reforma tributária e o ministro das finanças renunciado, a agitação pós-conflito parece se instalar em um dos países mais desiguais do continente, com desemprego de 16,8% e pobreza chegando a 42,5% da população total.
BOGOTÁ