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Estado de Minas YANGON

Ano Novo budista ofuscado em Mianmar pelo golpe de Estado militar


12/04/2021 10:02

A crise desencadeada pelo golpe de Estado militar em Mianmar ofusca o Festival das Águas, início do Ano Novo budista, com armas de verdade substituindo as de esguicho e uma repressão violenta no lugar das grandes celebrações habituais.

Este é o segundo ano consecutivo que o período de recesso pelo festival de Thingyan, previsto entre terça e sexta-feira, é prejudicado. No ano passado, as restrições de combate à pandemia de coronavírus obrigaram as autoridades a cancelarem as batalhas de água em público, as festas nas ruas e os espetáculos de dança.

O golpe militar de 1º de fevereiro, que expulsou do poder a líder civil Aung San Suu Kyiy, provocou uma rígida repressão que deixa até o momento mais de 700 mortes civis e que acabou com a vontade de qualquer comemoração.

O médico Nyi Nyi Lwin, de 26 anos e morador de Yangon, explica: "O período de Thingyan é o momento mais feliz para todos os birmaneses. Faz calor, mas as pessoas não sentem o calor porque se joga água, e todo mundo está de bom humor", explica este homem, que forneceu um nome fictício por motivos de segurança.

As batalhas de águas fazem parte de um ritual de purificação para receber o novo ano budista, também festejado na Tailândia, Camboja e Laos. Segundo a tradição, a água afasta os espíritos malignos e fornece, para quem é borrifado com ela, paz, felicidade e prosperidade no novo ano que chega.

"Mas não podemos comemorar esta festa neste período sombrio", afirma o médico. "Nossas esperanças ficaram arruinadas com este golpe de Estado. Os birmaneses não estão felizes porque há centenas de pessoas mortas e milhares detidas. Como poderíamos estar felizes?", questiona.

- Festa "revolucionária" -

Os opositores ao golpe de Estado pediram o boicote das celebrações organizadas pela Junta.

"Não existe motivo algum para participar de qualquer festa enquanto a democracia não for restaurada", escreveu um internauta no Facebook. "Participar do festival de Thingyan é uma falta de respeito com os detidos, com os cidadãos e os heróis que morreram como mártires", concordou outro internauta.

A repressão das forças de segurança contra os manifestantes pró-democracia em Mianmar tem aumentado e, além dos mais de 700 civis mortos, cerca de 3.000 pessoas foram detidas, segundo um balanço da Associação de Assistência aos Presos Políticos (AAPP).

Em Nyaung-U, na região de Mandalay (centro), militantes penduraram folhetos amarelos no topo das estátuas de bailarinas tradicionais, pedindo à população para não participar do Festival das Águas.

No estado de Môn, na costa do mar de Andaman, os habitantes consideram que participar das celebrações é uma falta de respeito com as minorias deslocadas pelas forças de segurança.

"Eles vivem uma situação tão difícil que nossa atitude poderia inclusive ridicularizá-los", disse uma mensagem no Facebook.

Há 15 dias, as autoridades instalaram palcos para o festival em Mandalay, a segunda cidade do país, e na capital Naypyidaw, que depois foram removidos.

Lynn Thant (nome fictício), de 30 anos, quer celebrar essas festividades em modo de protesto: recitando poesia satírica, fazendo arte de contestação e se manifestando nas ruas.

"Vamos criar o nosso próprio Thingyan revolucionário, não um Thingyan festivo", promete.

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