Lasso, de 65 anos, anticorreista que superou duas derrotas anteriores pela esquerda, venceu no duelo final com Andrés Arauz, 29 anos mais jovem, e pupilo de Correa. O novo candidato concedeu a derrota antes do final da votação,ue marca uma tendência irreversível a favor de seu rival (52,5% contra 47,4%).
"Começa uma nova etapa para o Equador", proclamou Lasso nesta segunda-feira.
A seguir algumas chaves e desafios do triunfo do líder do movimento Criando Oportunidades (CREO) após suas derrotas em 2013 e 2017.
- Anticorreísmo -
Lasso perdeu no primeiro turno com uma diferença de quase 13 pontos contra Arauz, até então um ex-assessor econômico desconhecido pela maioria.
Quase ficou de fora do segundo turno, registrando uma vantagem mínima sobre o indígena ambientalista Yaku Pérez, que denunciou um suposto roubo de votos.
Apesar do desgaste desta batalha, mobilizou o anticorreísmo sob a bandeira de uma direita que estava em crise antes mesmo do surgimento do chamado socialismo do século XXI liderado por Correa.
"Venceu a candidatura que conseguiu conectar com o eleitor desencantado com o correísmo e desencantado com a política", afirma Wendy Reyes, consultora política e professora da Universidade de Washington.
Para o cientista político Esteban Nichols, a antipatia pelo ex-presidente pesou mais do que as propostas ou o carisma de Lasso. Em uma década de governo (2007-2017), Correa modernizou o Equador com os recursos do boom do petróleo, mas às custas, segundo seus críticos, de corrupção e um estilo autoritário.
Correa não deu trégua aos partidos tradicionais e ambientalistas, que ele classificou de infantis, assim como à imprensa. Ele costumava se referir a seus adversários como corruptos.
"A aversão supera a simpatia e a aversão a Correa era muito mais forte", diz Nichols, da Universidade Andina Simón Bolívar.
- Margem apertada -
O presidente eleito terá "uma margem de ação muito estreita", já que seu partido terá uma representação mínima no legislativo, argumenta Nichols.
Ele terá que negociar com o Pachakutik, partido indígena que ficou em segundo lugar nas eleições legislativas de fevereiro, atrás da União pela Esperança (Unes). O futuro presidente não teve o apoio unânime dos indígenas.
O conservador passa a governar um país dividido e seriamente atingido pela crise econômica e de saúde desencadeada pela pandemia, que deixou mais de 17.000 mortos em pouco mais de um ano.
No Equador, "há uma crise de governança que se aprofundou no governo Moreno; há uma crise econômica e há uma crise de saúde e isso implica desafios muito grandes", diz o analista Reyes.
Lasso, concordam os analistas, não receberá exatamente uma carta em branco para os próximos quatro anos.
O voto nulo também ganhou destaque, chegando a 16%, superando o teto histórico de 11%.
Esse percentual é "um pouco mentiroso. Acho que tem ainda mais gente que não se identificou com nenhum dos dois candidatos e que no último minuto foi forçada a escolher um", diz o cientista político Paolo Moncagatta, da Universidade San Francisco de Quito.
- Declínio de Correa -
O ex-banqueiro sucederá o impopular Lenín Moreno, que se envolveu em uma disputa acirrada com Correa assim que chegou ao poder com seu apoio em 2017.
Moreno, que era vice-presidente de Correa, derrotou Lasso por pouco, no que parecia um triunfo que deu continuidade à esquerda socialista. Mas já no governo, alinhou-se com outras forças e até contou com o apoio de Lasso para acabar com a reeleição presidencial por tempo indeterminado promovida por Correa por meio de um referendo.
Com Lasso, o Equador passará da "transição" para "uma importante virada à direita em termos de abertura aos mercados, consolidando as relações com os multilaterais", estima Moncagatta.
A mudança de rumo e a derrota eleitoral ameaçam seriamente o futuro da esquerda nacionalista que proclama seu líder. Condenado por corrupção, Correa evitou a prisão enquanto estava na Bélgica, onde se instalou logo após seu mandato de dez anos e antes que os juízes o julgassem em um caso que ele alega ser preconceito político.
Sem Arauz no poder, "Correa pode se esquecer de voltar ao país nos próximos quatro anos, pelo menos, e isso significará mais um duro golpe para o correismo", diz Moncagatta. "O que não se vê são lideranças importantes que possam reunir o correismo", acrescenta.
QUITO