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Estado de Minas BUENOS AIRES

Argentina enfrenta segunda onda de covid com uma economia esgotada


08/04/2021 20:52

Em 2020, a Argentina decidiu enfrentar a pandemia de covid-19 com um confinamento severo e longo, a fim de evitar a saturação do sistema de saúde. Mas agora, diante da segunda onda, a fragilidade econômica dificulta a aplicação de medidas drásticas.

Com uma curva ascendente de infecções nas últimas duas semanas, que já posiciona a Argentina entre os 10 países com maior número de novas infecções diárias, o governo do presidente Alberto Fernández aplicará novas restrições a partir da meia-noite desta quinta-feira (8). A principal medida é o toque de recolher noturno, que alguns especialistas consideram insuficiente para impedir a propagação da doença.

"As medidas são muito leves. Estamos na segunda onda e teríamos que tomar medidas mais profundas em prol da saúde. Entendo a pressão da economia e que seu motor é o trabalho, mas isso faz com que as infecções aumentem", analisou Alicia Cámara, especialista em coronavírus da Universidade de Córdoba, à AFP.

O uso do transporte público também ficará restrito, as reuniões serão limitadas e as boates, salões de festas e locais de jogos serão fechados.

Fernández, 62 anos, isolado por estar com Covid, disponibilizou no ano passado ajudas e subsídios a empresas e trabalhadores, para sustentar o confinamento. "Felizmente eu o fiz. Acredito que salvamos dezenas de milhares de vidas", afirmou o presidente.

No entanto, agora esses subsídios não são propostos em uma Argentina que já acumula três anos de recessão e cujo Produto Interno Bruto (PIB) recuou 9,9% em 2020, uma das piores marcas da região.

Além disso, uma eleição parlamentar de meio de mandato deve ser realizada em outubro, na qual o partido no poder aspira manter a maioria no Congresso.

"O governo não orçou a assistência social este ano como fez no ano passado. O governo tenta ser prudente com restrições porque a economia tem impacto na decisão do voto e o governo precisa de uma eleição decente que lhe dê legitimidade para os dois próximos anos" de mandato, explicou à AFP o analista Carlos Fará.

- Dilema -

O dilema entre saúde e economia domina o debate público. "Este dilema é enfrentado por todos os governos hoje", disse Fernández. "É muito difícil para os governos imporem restrições maiores porque as pessoas não as cumprem. As pessoas estão muito relutantes em voltar a ficar em suas casas. Há muitas pessoas que precisam voltar a trabalhar. É muito difícil contê-las", reconheceu o presidente.

Para a maioria da população, a principal preocupação é a subsistência no dia a dia. "Nos grupos focais percebe-se que a pandemia preocupa na medida em que afeta a questão econômica", disse Fara.

A pobreza atingiu 42% da população e o desemprego chegou a 11% no fim de 2020. Centenas de membros de organizações populares se manifestaram hoje em frente ao Ministério do Desenvolvimento Social para exigir mais ajuda. "Somos essenciais, somos os que passam esta pandemia na periferia, dando de comer aos vizinhos que ficam sem trabalho", disse à AFP Nahuel Orellana, um dos manifestantes.

Para a maioria da população, a maior preocupação é a sobrevivência dia após dia. Especialistas, no entanto, acreditam que será necessário aplicar mais restrições, como já aconteceu na Europa e em outros países da região, como o Chile, enquanto o processo de vacinação avança lentamente.

- Primeiras medidas -

"As medidas estão no caminho correto. Elas marcam um começo, apenas um começo. Nos próximos dias o número de casos vai continuar aumentando, e a situação irá se complicar", indicou à AFP Jorge Geffner, imunologista do Conselho Nacional de Pesquisas Científicas e Técnicas. "Se os casos evoluírem, e não se trata de 20 mil novos casos, e sim de 30 mil novos casos por dia, é evidente que essas medidas irão significar o primeiro degrau, e terá que haver mais restrições."

Com mais de 23 mil novos casos, a Argentina bateu um novo recorde de infecções em um único dia. O país, de 45 milhões de habitantes, acumula 2.473.000 casos e mais de 57 mil mortos pela covid.

Embora nos últimos dias o ritmo de vacinação tenha acelerado, até esta quinta-feira apenas 4.771.214 pessoas, pouco mais de 10% da população, haviam recebido a primeira dose. "As vacinas não chegam na velocidade esperada e a imunização vai demorar mais um pouco. Por mais que estejamos fartos da pandemia, a pandemia ainda não passou", alertou Cámara.


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