Questionado pelos adversários republicanos, mas também por algumas vozes dentro do Partido Democrata, Biden inicia uma semana delicada, na qual falará pela primeira vez em coletiva de imprensa nesta quinta-feira.
"Apesar de seu governo não admitir que trata-se de uma crise, os americanos estão começando a entender a gravidade da situação", declarou nesta segunda-feira o senador republicano Ted Cruz, que viajará à fronteira esta semana com outros 14 colegas.
Cruz acusa a Casa Branca de tentar "ocultar a verdade" ao denunciar a proibição à presença de jornalistas nos centros de detenção de migrantes, especialmente os que albergam menores de idade desacompanhados.
O fluxo de milhares de migrantes da América Central rumo aos EUA deu aos republicanos, que ainda não haviam encontrado um ângulo de ataque para lidar com a pandemia, uma oportunidade de serem ouvidos. Em uníssono, a oposição agora acusa o presidente de ter atraído viajantes ilegais para a fronteira com o México e de ter sido muito ingênuo.
Dois senadores, o republicano John Cornyn e a democrata Kyrsten Sinema -que representam Texas e Arizona, dois estados fronteiriços com o México, pediram ao presidente uma resposta contundente.
"É uma loucura e não é nada comparado ao que será nos próximos meses", criticou Donald Trump no podcast da apresentadora americana Lisa Boothe, que fio ao ar nesta segunda-feira de manhã.
"Eles virão aos milhões", previu o ex-presidente republicano, gerando polêmica e retomando o tom de sua campanha após ter permanecido muito discreto desde que deixou a Casa Branca e se mudou para a Flórida.
- Biden discreto -
Biden evitou em grande parte o problema até agora, permitindo que sua equipe tomasse a dianteira, mas quando for confrontado com perguntas dos repórteres na quinta-feira, sabe que precisará ir direto ao ponto.
Questionado na noite de domingo em seu retorno de um fim de semana em Camp David, o presidente foi evasivo: O senhor pretende visitar a fronteira? "Em algum momento, sim." O senhor não sente a necessidade de ver por si mesmo o que está acontecendo? "Eu sei o que está acontecendo", respondeu.
Outro detalhe revelador é que os últimos dez tuítes de Biden falam sobre máscaras, vacinação, Dia de São Patrício, plano de estímulo econômico, mudanças climáticas, violência contra os asiático-americanos, mas não há menção da situação na fronteira com o México.
Esta crise afeta os planos da Casa Branca, que pretendia continuar fortalecendo a campanha "Help is here" (Ajuda está aqui) para sublinhar os méritos do gigantesco plano de ajuda à economia (de 1,9 trilhão de dólares) aprovado pelo Congresso e muito popular entre a população americana.
O único deslocamento presidencial da semana está marcado para esta terça-feira, em Ohio, para destacar o impacto positivo do "American Rescue Plan" (Plano de Resgate Americano) no setor sanitário.
Mas enquanto legisladores de ambos os campos multiplicam suas idas à fronteira e as primeiras fotos de menores desacompanhados - o centro da polêmica - são divulgadas, a presidência não consegue explicar como pretende agir.
Biden prometeu acabar com "uma vergonha moral e nacional" herdada de seu antecessor, referindo-se à separação de milhares de famílias de migrantes, algumas das quais ainda não foram reunidas.
Apesar das crianças não serem mais separadas das famílias, a chegada de um número significativo de menores desacompanhados é uma realidade.
"A fronteira não está aberta. A maioria das pessoas está sendo recusada", garantiu nesta segunda-feira a porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki. "Em relação às crianças, estamos trabalhando para que o processo seja o mais rápido possível", completou.
- Sem acesso -
O chefe do Departamento de Segurança Interna (DHS), Alejandro Mayorkas, amplamente criticado por suas mensagens às vezes confusas, não desmentiu a informação de que há 5.200 crianças atualmente detidas em centros para adultos nas fronteiras, bem acima do pico registrado durante a presidência de Trump.
O senador democrata Chris Murphy afirmou na última sexta-feira, depois de visitar um desses centros polêmicos, que "centenas de crianças" foram "amontoadas em grandes salas abertas".
Em um artigo de opinião publicado no The Washington Post, o fotógrafo John Moore, autor de um livro sobre a fronteira dos Estados Unidos com o México, se mostrou indignado com a mudança da política de "tolerância zero" (para com os imigrantes) de Trump para o "acesso zero" (dos jornalistas) com Biden.
"O atual governo veio com a promessa de tornar a política de imigração dos Estados Unidos mais humana e transparente. Mas está falhando nesse segundo ponto, então é difícil ter uma ideia do primeiro", escreveu.
WASHINGTON