Os promotores do tribunal federal de Manhattan garantem que Juan Orlando Hernández, presidente de Honduras, foi sócio no tráfico de drogas do réu, Geovanny Fuentes Ramírez, e de seu irmão Tony Hernández, condenado por tráfico de drogas em larga escala em Nova York no ano de 2019. Embora não o tenham indiciado, ao longo do processo de duas semanas insistiram na participação do mesmo na conspiração.
"Juan Orlando Hernández não queria apenas o dinheiro do réu (em propina), ele queria ter acesso à cocaína do réu (...) para que pudesse exportá-la" para os Estados Unidos através de Puerto Cortés, o maior porto hondurenho, próximo ao laboratório de cocaína instalado em Cerro Negro, disse o promotor Lockard em suas alegações finais. Segundo ele, o intermediário entre o presidente e Fuentes era o irmão do primeiro.
"Tony Hernández, como Juan Orlando Hernández, era um dos sócios do réu no narcotráfico. É o homem que dirigia o narcotráfico de Juan Orlando, que aceitava suborno com dinheiro do tráfico de drogas do Los Cachiros, é o homem que mandava quilos de cocaína com suas iniciais ", disse Lockard.
"Já ouviram como o Los Cachiros pagou enormes somas de dinheiro a presidentes e candidatos à presidência: a Juan Orlando Hernández; ao seu antecessor Pepe Lobo; ao seu antecessor Manuel Zelaya; a Ricardo Álvarez, que se tornou vice-presidente, e a muitos outros", lembrou o promotor ao júri, dizendo que o acusado seguiu o seu exemplo e usou "os poderosos contatos" do empresário Fuad Jarufe "para comprar proteção". O presidente de Honduras nega todas as acusações.
- 'Muito dinheiro em jogo' -
O promotor Lockard afirmou que o laboratório de cocaína, localizado próximo à cidade de Choloma, no norte de Honduras, não foi fechado após a operação policial de 2011, como se presumia na época, e que continuou funcionando depois de 2013.
Ele lembrou que nenhuma droga foi encontrada em 2011, uma vez que o réu foi avisado sobre a operação, e que, em seguida, Fuentes sequestrou, torturou e assassinou, juntamente com seu parceiro Melvin "Metro" Sandres, o policial que o abordou.
"O laboratório não fechou porque o réu chegou a um acordo com Juan Orlando Hernández e seu irmão (...) para mantê-lo funcionando", disse Lockard. "Havia muito dinheiro em jogo."
- Defesa -
Em suas considerações finais, o advogado de defesa Avi Moskowitz atacou a credibilidade das testemunhas do governo americano, principalmente do ex-chefe do cartel Los Cachiros Leonel Rivera, que enfrenta uma pena de prisão perpétua. Também assinalou que o governo não apresentou vídeos, fotos, relatórios policiais e da perícia ou outras provas da culpabilidade do acusado.
O advogado lembrou ainda que uma testemunha do governo, o historiador Darío Euraque, declarou que, desde 2013, o tráfico de cocaína colombiana através de Honduras caiu mais de 80% em consequência de medidas tomadas pelo presidente Hernández. "Que presidente tão narcotraficante e corrupto!", ironizou.
Os promotores afirmaram que o acusado apagou provas como mensagens de texto e de aplicativos, mas destacaram que ele tinha o contato de Hernández e de outros políticos e policiais em seu celular, e que, em duas oportunidades, fez uma busca no aplicativo Waze que tinha como destino a casa presidencial, logo depois que promotores americanos apresentaram à Justiça documentos-chave do caso contra Tony Hernández.
"As provas no julgamento mostraram que o acusado é exatamente quem dissemos que era, um narcotraficante violento, que distribuiu grandes montantes de cocaína e cometeu atos de corrupção e assassinatos", assinalou o promotor Jacob Gutwillig.
Fuentes, preso há um ano em Miami, enfrenta três acusações de narcotráfico e posse de armas. O júri começou a deliberar hoje sobre seu veredito. Já a sentença de Tony Hernández, acusado de traficar 185 toneladas de cocaína para os Estados Unidos, está prevista para o próximo dia 30.
NOVA YORK