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Estado de Minas PARIS

Entre dor e resiliência, o dilema das homenagens às vítimas de terrorismo


10/03/2021 12:36

Uma questão ressurge nos países ocidentais depois de cada ataque terrorista: como homenagear as vítimas, relembrar seu sofrimento e demonstrar a resiliência da sociedade sem dar aos autores dos ataques a visibilidade que buscam?

De Madri a Oklahoma, de Nova York a Bruxelas, Oslo ou Manchester, os governos e a opinião pública estão cada vez mais conscientes da necessidade de ter espaços físicos, museus ou memoriais, que permitam recordar os atentados terroristas e ajudar as vítimas a lidar com sua dor.

"A construção de memoriais de recordação dos ataques terroristas se tornou uma espécie de norma cultural não escrita", constata Jeanine de Roy van Zuijdewijn, pesquisadora da Universidade de Leiden (Holanda).

Esses espaços, no entanto, não têm o mesmo significado para os sobreviventes e suas famílias do que para os historiadores, vizinhos ou as forças de segurança.

"Qual é o propósito de um memorial nacional? Homenagear as vítimas, refletir o trauma e as emoções vividas, mostrar resiliência, destacar valores nacionais, ou outras coisas?", questiona Roy van Zuijdewin.

Segundo ela, "alguns desses objetivos podem ser contraditórios. Às vezes, o local é deixado como estava para não dar visibilidade ao ato terrorista".

- Utoya, seis anos de polêmicas -

Na Noruega, após os atentados cometidos em 2011 pelo ultra-direitista Anders Behring Breivik, que deixaram 77 mortos, a ideia de construir um memorial nacional na ilha de Utoya (onde morreram 69 pessoas) provocou a oposição dos vizinhos, que não queriam continuar carregando o peso da lembrança traumática.

Após seis anos de litígios, um tribunal decretou em fevereiro a construção do monumento de homenagem.

Em Nova York está um dos maiores memoriais do mundo, que lembra as 3.000 vítimas do atentado terrorista d aAl-Qaeda contra as Torres Gêmeas, em 11 de setembro de 2001.

Outros chefes de Estado e de governo, como a primeira-ministra neozelandesa, Jacinda Ardern, buscam alternativas para não reviver a dor.

Após o atentado de Christchurch em 2019, que deixou 51 mortos, Arden se recusa a pronunciar o nome do autor do atentado, o ultra-direitista Brenton Tarrant. "Uma das coisas que ele queria era a fama, por isso nunca vão me ouvir dizer seu nome".

- Trabalho pedagógico -

No entanto, parece impossível imaginar um museu memorial que não aborde as motivações e a identidade dos autores dos atos terroristas.

O vice-presidente executivo do memorial de Nova York, Clifford Chanin, explica que os terroristas do 11 de setembro estão expostos em fotos carimbadas com o logo do FBI, uma iconografia muito diferente da usada com as vítimas do atentado.

Na França, o presidente Emmanuel Macron encarregou um comitê a refletir sobre a possibilidade de criar um museu memorial do terrorismo em Paris, estimado para abrir em 2027.

Chanin, que participa do comitê francês, reivindica o trabalho pedagógico do projeto, já que abordará os atos terroristas desde 1974, tanto da extrema esquerda como dos extremistas islâmicos.

"Independente dos seus motivos, os atentados buscam sempre dificultar a reflexão e provocar emoções como o medo. Por isso, respondemos com outras como a empatia, mediante os depoimentos das vítimas", explica o responsável do projeto francês, Henry Rousso.

Rousso não está de acordo com a decisão de Jacinda Ardern. "Não se pode fazer um museu sobre o nazismo sem mencionar Hitler", disse à AFP.


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