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Estado de Minas BEIRUTE

A oposição síria, debilitada por dez anos de guerra


09/03/2021 06:44

Debilitada por lutas internas e derrotas militares no terreno na Síria, a oposição política no exílio não conseguiu em dez anos de guerra unir fileiras para apresentar uma alternativa viável ao regime de Bashar al Assad.

Apesar dos esforços para se impor ao poder após o início da revolta popular, que reivindicava a saída do chefe de Estado, a realidade é que os opositores estão marginalizados e Assad, no poder há 21 anos, continua lá.

- Entidades, reuniões, grupos -

Os grupos de oposição, que participam de negociações apadrinhadas pela ONU e apoiados por potências estrangeiras, não conseguiram construir pontes sólidas com os do interior e chegaram a ser acusados de estar fora da realidade e de não representar os rebeldes que combatem o exército sírio.

A primeira reunião ampliada da oposição foi celebrada em junho de 2011 na Turquia, meses depois do início da revolta de 15 de março que o regime sufocou.

Participou dela um espectro de dissidentes: a Irmandade Muçulmana, proibida na Síria, intelectuais, jornalistas e personalidades da oposição que reivindicavam reformas democráticas, bem como tribos e jovens militantes.

O Conselho Nacional Sírio, o primeiro grande bloco opositor, foi criado em outubro de 2011, antes de se transformar um ano depois em uma "Coalizão Nacional das Forças da Revolução e da Oposição Sírias", que também reúne os opositores do interior.

A Coalizão, estabelecida em Doha, foi considerada na época como a mais representativa da oposição.

No fim de 2012, mais de uma centena de países, entre eles ocidentais e árabes, a consideraram como a "única representante do povo sírio". O regime estava, então, em apuros após uma série de reveses militares.

Mas a repressão era implacável e a militarização da "revolução" abriu as portas à implicação de vários países. Catar e Arábia Saudita armaram as facções rebeldes.

Desde 2014, sob a égide da ONU, a Coalizão realizou negociações infrutíferas com o regime. O principal entrave era a saída de Assad.

- Jihadistas, atentados -

As facções armadas proliferam, apoiadas por padrinhos estrangeiros com interesses divergentes. O apoio militar do Ocidente é tímido.

A chegada progressiva de organizações jihadistas, sobretudo o grupo Estado Islâmico (EI), a partir de 2014, monopolizou a atenção internacional. Milhares de combatentes estrangeiros chegaram à Síria e ao vizinho Iraque e se multiplicaram os atentados sangrentos, inclusive na Europa.

A comunidade internacional, liderada por Washington, pôs de pé uma coalizão que apoiaria com bombardeios aéreos uma milícia curda síria que lutava contra os jihadistas na Síria.

No entanto, os rebeldes que combatiam o exército de Assad não receberam apoio.

Mas a oposição no exílio continuava operando. Apadrinhado pela Arábia Saudita, o Alto Comitê de Negociações (ACN) viu a luz no fim de 2015 e foram criadas outras coalizões, como o Grupo do Cairo ou o Grupo de Moscou.

Na Síria, uma oposição política tolerada por Damasco prosseguia com uma atividade discreta: partidos de esquerda, curdos e nacionalistas, assim como militares que estiveram detidos pelo regime anteriormente.

Em 2017, o ACN, os Grupos do Cairo e de Moscou se aliaram para formar uma delegação única nas negociações com o regime.

- "Não estão à altura" -

No terreno, os rebeldes sofriam uma derrota atrás da outra e perderam seus redutos: primeiro Aleppo, no fim de 2016, e depois o leste de Guta, em abril de 2018.

Os países que apoiavam a oposição, para a qual a saída de Assad era uma condição inevitável, se deram conta de que ele era cada vez mais forte, após a série de vitórias militares que colheu graças ao apoio de seus aliados russo e iraniano.

Os dissidentes foram pressionados a adotar uma atitude mais conciliadora.

Ilustrando a evolução do conflito, as negociações de Genebra foram ofuscadas pelo denominado processo de Atana, promovido por Moscou e Teerã em conjunto com a Turquia, que apoia os rebeldes.

Atualmente, as negociações entre oposição e regime sob a égide da ONU se resumem a trabalhos de um comitê constitucional, que parece condenado à estagnação.

"A oposição é uma das nossas decepções", critica o militante Mazen Darwiche, preso por três anos nas masmorras sírias e atualmente exilado na Europa.

Ele critica os opositores que se comportam como "embaixadores" que defendem "os interesses" de um ou outro país.

Khaled Okacha fugiu do leste de Guta e se refugiou em Idlib (noroeste), último reduto rebelde e jihadista da Síria.

"No começo da revolução, sonhávamos com uma Síria que não fosse dirigida por um regime ditatorial", diz. "As conquistas da oposição não estiveram à altura do que esperávamos. Perdemos dez anos de nossas vidas, o país está destruído e o regime é ainda mais repressivo e criminoso".


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