Lá, sua família o espera, a quem não vê desde que foi internado no Hospital del Mar de Barcelona. Recebe carícias e beijos que ele, com uma traqueostomia, responde com sorrisos ternos ou movendo os lábios tentando pronunciar palavras.
Sua esposa agarra sua mão, seu irmão e sua irmã acariciam seu rosto. Seu filho Hussnain, de 18 anos, não dá um passo para longe, certificando-se de que está bem e cobrindo-o com os lençóis quando a brisa do mar refresca o ambiente.
"Nunca estive tanto tempo longe do meu pai. Nos damos muito bem, temos uma ligação muito boa e tantos dias sem vê-lo, sem falar com ele ou ele comigo, foi muito difícil", diz o filho deste paquistanês de 52 anos, instalado em Barcelona há mais de trinta anos.
"Estávamos 24 horas por dia, sete dias por semana, aguardando a ligação do médico. Além disso, meu pai tem uma família muito numerosa e estávamos todos com saudade", insiste.
Embora separados por milhares de quilômetros de distância, a família que ele deixou em seu país não queria perder a oportunidade de vê-lo. Conectados por videochamada, sua mãe, irmãs e outros parentes desfilam na tela de um celular à sua frente.
A pesada maca branca cercada por vários profissionais em jalecos brancos e verdes chama a atenção dos transeuntes no passeio pela orla, onde antes da pandemia era comum encontrar turistas, skatistas e jovens com vontade de se divertir.
A iniciativa faz parte de um programa lançado neste hospital da segunda maior cidade espanhola para "humanizar" as internações em UTI e "influenciar o bem-estar físico e emocional dos pacientes", explica a Dra. Judith Marín, intensivista do hospital.
Para poder desfrutar desse privilégio, o paciente deve ter testado negativo para a covid-19 e ter feito um progresso significativo em sua recuperação. Mesmo assim, saem monitorados, presos ao respirador e com uma equipe de reanimação de emergência ao pé da maca.
O projeto, que futuramente ampliará o acesso de animais de estimação na UTI, nasceu antes da pandemia, mas tornou-se mais necessário do que nunca devido ao isolamento total do paciente.
"Não é apenas sair das quatro paredes do box da UTI, mas também fazê-lo em um ambiente natural como a orla e o encontro físico com os familiares", explica a médica.
BARCELONA