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Estado de Minas LIMA

Vítimas de 'esterilizações forçadas' no Peru esperam que Fujimori peça perdão


05/03/2021 16:00 - atualizado 05/03/2021 16:02

Para milhares de mulheres pobres e indígenas peruanas vítimas de "esterilizações forçadas" durante o governo de Alberto Fujimori, o início do julgamento por este questionado programa de controle da natalidade é uma fonte de esperança para reparações, mas também para que o ex-presidente peça perdão a elas.

"Esperamos há mais de 20 anos que nos façam justiça. Eu quero que reconheçam, que peçam desculpas a todas as mulheres" esterilizadas sob ameaças ou enganos, disse à AFP Gloria Basilio Huamán, de 48 anos.

Basilio tinha 27 anos e vivia na região de Huánuco quando, "por engano", ligaram suas trompas de Falópio como parte do Programa Nacional de Saúde Reprodutiva e Planejamento Familiar - teoricamente voluntário -, que Fujimori implementou em seus últimos quatro anos no poder.

O ex-presidente, de 82 anos, cumpre uma pena de 25 anos por crimes contra a humanidade e corrupção. Ele não compareceu à abertura do julgamento penal na segunda-feira, que ocorreu virtualmente por causa da pandemia.

Fujimori, que governou de 1990 a 2000, e seus colaboradores são acusados de serem "perpetradores indiretos de danos contra a vida e a saúde, lesões graves e violações graves dos direitos humanos".

"Brincaram com as vidas e a saúde reprodutiva das pessoas, sem se preocupar com os danos", disse o promotor Pablo Espinoza.

Os outros processados são os ex-ministros da Saúde Alejandro Aguinaga, Eduardo Yong Motta e Marino Costa Bauer, e dois ex-funcionários locais.

- "Mulher que não servia" -

Assim como milhares das 272.038 vítimas, Basilio fala a língua indígena quíchua e no julgamento escuta o juiz, o promotor e os defensores com a ajuda de um intérprete.

Ela pede "justiça". "Somos peruanos, sei que economicamente sou humilde, mas não pobre".

Arquivado várias vezes, o caso reúne 2.074 vítimas deste programa que buscava reduzir a taxa de natalidade para impulsionar o desenvolvimento econômico. Nessas cirurgias morreram 18 mulheres, de acordo com dados oficiais.

Em um país tradicionalmente machista, algumas delas sofreram também a rejeição de seus parceiros.

"A vida ficou complicada para mim com a esterilização sem consentimento. Desde que isso aconteceu, eu comecei a ficar muito deprimida. Meu companheiro me dizia que nenhum homem iria me querer, porque era uma mulher que não servia, porque não podia ter filhos. Me abandonou", relata à AFP Nancy Sánchez Guerrero, de 48 anos.

- "Somos humanas" -

Sánchez Guerrero espera que Fujimori, que nunca se desculpou pelas esterilizações, "nos peça perdão publicamente. Que ele e seus ministros reconheçam que erraram conosco, que somos humanas".

Durante a campanha eleitoral de 2016, a candidata presidencial Keiko Fujimori prometeu compensar as vítimas, mas sem admitir a responsabilidade de seu pai.

O vencedor dessa eleição, Pedro Pablo Kuczynski, não cumpriu em seus 20 meses de mandato com a promessa de reparar as vítimas, e indultou Fujimori, o que ele garantiu que não faria. Seu perdão foi anulado depois pela Justiça.


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