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Estado de Minas BRASÍLIA

À beira do colapso, Brasil enfrenta a fase mais mortal da pandemia


04/03/2021 16:17 - atualizado 04/03/2021 16:19

Com recordes de mortes, hospitais à beira do colapso e uma campanha de vacinação lenta, o Brasil vive a fase mais letal da pandemia do coronavírus sem uma estratégia nacional para contê-la.

O país registrou 1.641 mortes por covid-19 na terça-feira e 1.910 na quarta-feira, dois recordes consecutivos desde o primeiro caso registrado em fevereiro de 2020. O número total de vítimas fatais da doença é próximo a 260 mil, saldo superado apenas pelos Estados Unidos, em meio a 10,7 milhões de infecções.

"Pela primeira vez desde o início da pandemia, verifica-se em todo o país o agravamento simultâneo de diversos indicadores", afirmou esta semana a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), vinculada ao Ministério da Saúde.

Trata-se de um "cenário alarmante" com o aumento de casos e óbitos, altos índices de síndrome respiratória aguda grave (SARS) e uma ocupação de mais de 80% dos leitos das unidades de terapia intensiva (UTI) em 19 dos 27 estados e o Distrito Federal, explicou a instituição.

O presidente Jair Bolsonaro, cético em relação à pandemia, lamentou as mortes, mas mais uma vez foi irônico nesta quinta-feira em relação à000s novas medidas de isolamento social impostas por vários governadores.

"Chega de frescura, de mimimi. Vão ficar chorando até quando? ", Disse o presidente de extrema direita, de olho nas eleições de 2022.

"Até quando vamos ficar dentro de casa? Até quando vai se fechar tudo? Ninguém aguenta mais isso. Lamentamos as mortes, repito, mas tem que ter uma solução".

Nos últimos sete dias, a média foi de 1.331 mortes diárias, cifra que até fevereiro se mantinha próxima a 1.100. Desde janeiro, o país não consegue ficar abaixo de mil mortes por dia, como aconteceu entre junho e agosto do ano passado, durante a primeira onda.

O pico é resultado, segundo os especialistas, da falta de distanciamento social durante as festas de fim de ano e das aglomerações do verão e do Carnaval, apesar da folia ter sido formalmente proibida.

Alguns estudos também apontam para a nova variante do coronavírus que surgiu em Amazonas, chamada de P.1, duas vezes mais contagiosa, que já foi detectada em 17 estados e está causando alarme no mundo todo.

- "A ponta do iceberg" -

O Brasil, um país de 212 milhões de habitantes, vem há um mês e meio realizando lentamente a imunização contra a covid, mas sofre com a falta de doses: até agora, 7,4 milhões de brasileiros já foram vacinados, apenas 2,3 milhões deles com a segunda dose.

Essa emergência "não é uma surpresa, é a gente não ter se preparado, porque o cenário de aumento de casos estava previsto. Sabemos que temos uma variante entre nós. Teria que ter havido 'lockdown' antes", disse à AFP a vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunologia (SBI), Isabella Ballalai.

Nesta quinta-feira, o Rio de Janeiro voltou a impor restrições a bares, restaurantes e praias a partir de sexta-feira para, segundo o prefeito Eduardo Paes, "evitar uma repetição do genocídio" de 2020 na capital carioca.

O estado de São Paulo voltará neste sábado, por duas semanas, à "fase vermelha" das restrições, que proíbe a abertura de centros comerciais, restaurantes e salas de espetáculo.

"Estamos em São Paulo à beira de um colapso na saúde", alertou nesta quarta o governador paulista João Dória. A cada dois minutos, um paciente com covid é internado no estado.

Em Brasília, Mato Grosso, Pernambuco, Rondônia e Acre, entre outros, as atividades já foram reduzidas a serviços essenciais ou o horário de funcionamento do comércio foi limitado, com alguns toques de recolher noturnos.

Mesmo os estados mais ricos e com mais infraestrutura, como Paraná e Santa Catarina, estão em "alerta crítico" devido à alta ocupação de leitos de UTI.

No entanto, a Fiocruz advertiu que o cenário atual "representa apenas a ponta do iceberg de um patamar de intensa transmissão" do coronavírus no país.

- Autogestão -

A situação de emergência e a falta de coordenação por parte do governo federal levaram prefeitos e governadores a se articularem para comprar vacinas.

Secretários estaduais de Saúde pediram na segunda-feira a implementação de um toque de recolher noturno a nível nacional e um "lockdown" nas áreas mais críticas.

Essa postura, porém, se choca com a de Bolsonaro, que promove aglomerações com seus apoiadores, questiona o uso de máscaras e a eficácia das vacinas.

Na semana passada, Bolsonaro afirmou que os governadores que decretarem a suspensão de atividades "terão que pagar" com seus próprios orçamentos as ajudas econômicas à população mais pobre.

"Essa discordância federal e estadual tem sido um dos grandes problemas, de posicionamentos diferentes, muita politização da pandemia e isso sem dúvida nenhuma faz o país estar num dos piores lugares em relação ao gerenciamento da pandemia", concluiu Ballalai.


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