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Estado de Minas ARMENIA

Fipronil é apontado como causa da morte de milhares de abelhas na Colômbia


25/02/2021 13:27

Quando o "veneno" chega às colmeias, as mãos de Gildardo Urrego não conseguem remover as abelhas mortas. É a segunda vez que ele enfrenta uma perda dessas, e ele suspeita de que, por trás ela, estão os agrotóxicos que impulsionam o "boom" no campo na Colômbia.

Centenas de colmeias desapareceram nos últimos anos em Quindío, um departamento no oeste da Colômbia, onde as investigações oficiais apontam para o fipronil, um pesticida proibido na Europa e com uso restrito nos Estados Unidos e na China.

Mais ao norte, no departamento de Antioquia, Urrego tem uma empresa de mel perto de plantações de maracujá. Em 2019, perdeu 10 de suas 19 colmeias.

"Talvez eles não têm feito um bom manejo dos agroquímicos", diz o apicultor, de 38 anos.

Desta vez, desapareceram quatro colmeias, cada uma com cerca de 50.000 abelhas.

Na última década, apicultores de Estados Unidos, Canadá, Uruguai, França, Rússia, Austrália, entre outros, denunciaram a morte de abelhas por agrotóxicos.

Urrego não identifica o pesticida que as matou, mas a 280 quilômetros de distância, em Quindío, Abdón Salazar calcula os danos em sua empresa Apícola de Oro e aponta o fipronil como o veneno responsável.

"Nos últimos dois anos, foram mais de 80 milhões de abelhas mortas", lamenta este apicultor, enquanto 300 colmeias vibram atrás dele.

Outros apicultores como ele se acostumaram a remover montanhas de insetos mortos nesta área onde, em volta das colmeias, as plantações de abacate e de cítricos ficam verdes, em um dos países mais diversos do planeta.

- Vizinho tóxico -

O fipronil é altamente tóxico para as abelhas. Seu uso nos cultivos de milho e de girassol - que atraem esses insetos - foi proibido em 2013 pela União Europeia (UE), que também decidiu não renovar as licenças para seu uso em outras plantações.

Em Quindío, a destruição das colmeias coincide com a expansão das monoculturas, afirma Faber Sabogal, presidente da Asoproabejas, entidade que reúne os apicultores.

De acordo com o governo local, entre 2016 e 2019, cinco empresas multinacionais compraram grandes extensões de terra no segundo menor departamento da Colômbia para se somar ao "boom" do abacate.

As exportações saltaram de 1,7 tonelada, em 2014, para 44,5 toneladas em 2019. No início de 2021, o governo comemorou ter-se tornado o maior fornecedor de abacates da Europa.

Segundo os agricultores, essas culturas são altamente vulneráveis às pragas e requerem fumigação intensiva. Assim, as abelhas são borrifadas com fipronil enquanto voam pelo verde.

"Elas trazem esse veneno para a colmeia e ele mata completamente todo o resto", aponta Salazar.

- Veda em discussão -

Os apicultores da Asoproabejas registraram em vídeo dezenas de mortandades em várias regiões, principalmente no oeste da Colômbia. Segundo eles, a perda vai além da indústria, já que as abelhas são um polinizador crucial para a reprodução de muitas plantas silvestres e de um terço das colheitas agrícolas.

Estudos reunidos pela UE alertaram para o declínio da população desses animais em todo mundo.

Em 2020, o Instituto de Agricultura da Colômbia (ICA) foi notificado pelos apicultores sobre 256 intoxicações em colmeias somente em Quindío. Dez milhões de abelhas morreram. O ICA coletou amostras de seis apiários afetados.

As pesquisa "mostraram que a molécula do fipronil é uma das causadoras da mortalidade", disse à AFP Jorge García, gerente regional do ICA.

García enviou um "alerta" aos escritórios do ICA em Bogotá, e o instituto está trabalhando em um regulamento para "a suspensão da molécula". Enquanto isso, o fipronil continua a ser comercializado.

Retirar o produto do mercado como aconteceu na Europa "não foi possível, porque as empresas produtoras de agroquímicos vão ser afetadas economicamente", explica Salazar.

Os fabricantes se defendem.

A proibição do fipronil implicaria "uma situação muito negativa para a estrutura produtiva" das 33 lavouras que fazem uso dele por sua "eficácia", afirma a porta-voz do sindicato de agroquímicos da Colômbia, María Latorre.

Embora negue que o fipronil seja prejudicial para as abelhas, "o sindicato vê com bons olhos" uma "revisão" de seu uso "nos cultivos que sofreram incidentes".

Fernando Montoya, da Associação Hortifrutícola da Colômbia, argumenta que o produto químico pode ser substituído por "bioprodutos à base de fungos", armadilhas para insetos e operações manuais.

O ICA nega que haja uma ligação entre a expansão do plantio de abacate no Quindío e o desaparecimento das colmeias.

"Tentaram dizer que a culpa é dos cítricos, do abacate, ou do café. Simplesmente nenhuma safra pode ser demonizada", enfatiza García.

Diante da destruição das colmeias, porém, a Apícola de Oro, que produz 36 toneladas de mel por ano, decidiu se mudar. Salazar tirou de Quindío a maior parte de suas abelhas - cerca de 1.200 colmeias - e as levou para uma área remota a 400 quilômetros de distância.


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