Mya Thwate Thwate Khaing foi baleada na cabeça em 9 de fevereiro, em uma manifestação contra o golpe de Estado, em NaiPyidó, capital administrativa de Mianmar. Os confrontos explodiram nessa data, quando as forças de segurança começaram a atirar balas de borracha contra os manifestantes.
Os médicos do hospital da cidade disseram à AFP que pelo menos duas pessoas foram gravemente feridas por balas reais: uma delas, a jovem que faleceu nesta sexta.
Boa parte do país se rebelou quando a junta militar derrubou a então chefe do governo civil, Aung San Suu Kyi, em 1º de fevereiro. Desde então, ela é mantida em prisão domiciliar.
A organização dAmnistia Internacional concluiu, após análise das imagens à sua disposição, que "a polícia alvejou de forma imprudente os manifestantes".
A irmã da menina, Poh Poh, lançou um apelo emocionado aos jornalistas: "Por favor, juntem-se ao movimento de protesto para que triunfe."
"Eles podem derrubar uma jovem, mas não podem roubar a esperança e a determinação de um povo determinado", escreveu no Twitter o enviado especial da ONU para os direitos humanos em Mianmar, Tom Andrews.
As cerimônias fúnebres da jovem serão no domingo.
Por sua vez, os Estados Unidos pediram nesta sexta-feira para que Mianmar abstenha-se da violência, após a porte de uma manifestante.
"Condenamos toda violência contra o povo de Mianmar e reiteramos nossos pedidos ao exército birmanês para que não recorra à violência contra manifestantes pacíficos", afirmou à imprensa o porta-voz do Departamento de Estado, Ned Price.
- Sanções internacionais -
As pressões se multiplicaram sobre os militares, que até agora ignoraram as inúmeras condenações e sanções internacionais.
O Reino Unido, uma ex-potência colonial, anunciou na quinta-feira (18) que aplicará sanções a três generais birmaneses por "graves violações dos direitos humanos".
O Canadá, por sua vez, punirá nove oficiais militares birmaneses e acusou a junta de ter realizado "uma ação sistemática de repressão por meio de medidas legislativas coercitivas e do uso da força".
O chefe da junta, general Min Aung Hlaing, tornou-se um pária internacional, após a ofensiva contra os muçulmanos rohingya em 2017.
Na semana passada, o presidente americano, Joe Biden, anunciou que Washington bloqueará o acesso dos generais a um fundo de US$ 1 bilhão nos Estados Unidos.
- Cortes de Internet -
Apesar da dura repressão, continuam as convocações de desobediência civil com inúmeras manifestações e greves no país.
Na madrugada de sábado, o NetBlocks anunciou "uma sexta noite consecutiva de toque de recolher na Internet", com o serviço cortado às 01h00 (18h30 GMT da sexta-feira). Também relatou que a Wikipedia foi bloqueada em todas as línguas do país.
Na sexta, centenas de pessoas já estavam reunidas nas grandes avenidas de Yangon, a maior cidade do país, com retratos de Aung San Suu Kyi nas mãos, e clamando por "liberdade para nossa líder".
Na remota região de Sagaing, os manifestantes marcharam pela cidade de Monywa, com três dedos das mãos levantados, símbolo de rebelião.
A junta continua prendendo aliados da ex-chefe de governo, assim como funcionários que participam do movimento de protesto.
A Associação de Ajuda a Presos Políticos (AAPP), com sede em Yangon, relatou mais de 520 detenções desde o golpe militar de 1º de fevereiro.
Os militares justificam seu golpe, alegando que houve fraude nas eleições legislativas de novembro vencidas, em massa, pela Liga Nacional para a Democracia (LND), o partido de Aung San Suu Kyi.
A ganhadora do Prêmio Nobel da Paz, de 75 anos, que não é vista desde sua prisão domiciliar, está sendo acusada por motivos não políticos, como a importação ilegal de walkie-talkies e de ter violado "a lei sobre a gestão de catástrofes naturais". Deve comparecer à Justiça em 1º de março.
YANGON