(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas CAPURGANÁ

Travessia na selva: 700 migrantes retomam sua jornada após ficarem bloqueados na Colômbia


05/02/2021 18:52

Depois de fugir do Haiti, Cuba, África ou Índia, eles chegaram a uma praia colombiana onde ficaram bloqueados por semanas no meio da pandemia. Mas chegou a hora de retomar sua viagem sem visto para a América do Norte. São 700 migrantes que agora precisam superar a selva hostil que os separa do Panamá.

O bloqueio do lado colombiano terminou nesta sexta-feira (5), mas a incerteza continua. Lázaro Fundicelli, um cubano de 45 anos, sua esposa Dayami e uma dezena de outros compatriotas caminham por uma das colinas que circundam a vila turística de Capurganá, no extremo oeste da Colômbia.

Eles estão ansiosos, com medo. Ali termina a aventura em território colombiano. Na frente deles abre-se o Tapón del Darién, um corredor de selva de 266 quilômetros que conecta a Colômbia ao Panamá. Com sorte, eles vão superar o ambiente hostil à frente e cruzarão o continente até o México, Estados Unidos ou Canadá.

"Se este foi o começo do pior, não quero nem imaginar o resto", sussurra Fundicelli.

Vindo de pontos muito distantes, já ouviram falar do inferno do Darién, dos cinco ou seis dias de caminhada exaustiva entre a vegetação densa e a umidade.

Não é segredo entre os habitantes locais que os coiotes estão esperando por eles nas montanhas, cobrando entre 2.000 e 3.000 dólares para "atravessá-los para o outro lado". Ninguém se atreve a identificá-los.

- Todos "para o norte" -

Antes de fazer essa rota, Fundicelli tentou três vezes cruzar o estreito da Flórida para chegar nos Estados Unidos, sem sucesso. Depois, diz ele, viajou para a Guiana, cruzou o Brasil, Peru e Equador de ônibus e chegou à Colômbia.

Em Necoclí, uma cidade de 40 mil habitantes próxima à fronteira com o Panamá, ficou bloqueada devido à pandemia - que forçou o fechamento das fronteiras - junto com outros cubanos, africanos, indianos e uma grande maioria de haitianos.

Ele então se uniu a um grupo de 700 migrantes que viveram semanas em barracas em um cais abandonado em Necoclí. Alguns completaram até quatro meses vivendo em péssimas condições no local.

Durante esse tempo, não puderam embarcar para Capurganá, a uma hora e meia de distância, porque a empresa que opera a única rota decidiu não vender passagens para migrantes sem documentos, apenas para turistas.

A pequena cidade de 4.000 habitantes que os separa do Panamá temia uma invasão de suas praias, antes do fechamento da passagem de fronteira. "Não queremos ficar aqui, vamos todos para o norte", diz Eric Cadete com a mulher.

Ambos deixaram o Haiti há vários anos rumo ao Brasil e agora estão migrando por via terrestre para os Estados Unidos. Em três meses, a mulher dará à luz seu primeiro filho.

Os 700 migrantes sem documentos decidiram aguardar o levantamento do veto, com medo de travessia em barcos ilegais como o que naufragou no dia 4 de janeiro, deixando 7 mortos.

Finalmente, na quinta-feira, eles receberam luz verde para continuar sua jornada. Antes da emergência sanitária, as autoridades panamenhas interceptaram entre 1.500 e 2.000 pessoas por mês na selva de Darién.

O número caiu para 100 a 400 pessoas por mês, segundo dados oficiais, devido ao fechamento das fronteiras que a Colômbia e o Panamá ordenaram para conter a disseminação do coronavírus.

Em Necoclí, eles sobreviveram com a ajuda dos colonos. "As pessoas nos ajudaram muito com a comida", diz Lázaro Fundicelli.

Ele e sua esposa receberam um sofá velho de um local que tornou seu acampamento precário à beira-mar mais suportável. Eles não passaram fome, mas sofreram com a falta de banheiros e de acesso a água potável.

- Promessa humanitária -

Em 30 de janeiro, o Panamá reabriu suas fronteiras terrestres e três dias depois a empresa de navegação e as autoridades de Necoclí anunciaram aos migrantes que entre quinta e sexta-feira partiriam de barcos com destino a Capurganá.

A empresa definiu o preço da passagem em 65 dólares, três vezes mais do que a tarifa normal. Com maços de dólares e passaportes nas mãos, centenas de migrantes se amontoaram contra o único balcão para garantir um lugar.

"Nos cobraram caro (...) alegando que em Capurganá vamos seguir uma rota humanitária até o Panamá", diz o cubano.

O Panamá negou a promessa. Mesmo assim, Juste Calisthene, de 33 anos, que emigrou do Haiti devido à pobreza e insegurança, reativou os planos de entrar nos Estados Unidos.

Alto e com músculos fortes, ele lidera um grupo de quase 30 compatriotas - metade deles menores ou mulheres com bebês nos braços - que pretendem cruzar a selva juntos.

"Tenho um amigo que passou por Capurganá (para o Panamá), ele disse que é difícil", diz o haitiano.

Na chegada ao cais, eles mediram a temperatura e borrifaram desinfetante. Em seguida, montaram em motocicletas.

Vários homens os dão as boas-vindas e indicam a estrada íngreme à frente. "Até aqui jornalistas", alertam aos repórteres da AFP.


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)