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Estado de Minas PARÍS

Janeiro de 1973: um Reino Unido dividido se soma à Europa "com pompa"


24/12/2020 13:21

Em 1º de janeiro de 1973, o Reino Unido ingressou oficialmente na Comunidade Econômica Europeia (CEE) "com pompa" após 10 anos de duras negociações, mas a opinião pública britânica se mostra relutante em acabar com "mil anos de história".

O governo conservador prometeu marcar com grande pompa este momento descrito como "muito emocionante" pelo primeiro-ministro Edward Heath, um europeu fervoroso e o principal ator da adesão.

Durante vários dias, e no contexto de um festival denominado "Fanfare for Europe", 300 eventos desportivos e culturais em todo o país celebram os méritos e glórias dos nove países associados a uma CEE ampliada.

Uma seleção de jogadores de futebol dos três novos membros (Dinamarca e Irlanda também aderiram à CEE) enfrentou uma equipe composta por atletas de seis países que já eram parte do bloco (França, Itália, Holanda, Bélgica, Luxemburgo e Alemanha) e ganha 2-0.

A Itália emprestou um Michelangelo para uma exposição e a Holanda, um Rembrandt. O Louvre, no entanto, se recusou a ceder a Monalisa.

- Hastings e Waterloo -

Na véspera do dia "D", a imprensa dedicou suas primeiras páginas a este evento que, para o Sunday Times, encerrava "um capítulo de mil anos de história para os britânicos" e "mais tarde apareceria tão decisivo para a história britânica quanto as batalhas de Hastings e Waterloo", de acordo com o Sunday Telegraph.

A mídia também se divertia com recomendações bem-humoradas para os insulares que "enfrentariam" os "continentais".

"O Daily Mail alertou seus leitores especialmente contra o uso inoportuno de expressões populares que pudessem chocar os habitantes de outros oito países", escreveu a AFP. O jornal expressou suas "maiores reservas" quanto ao uso da "expressão médica 'coroa francesa' que se referia à calvície por sífilis".

Por outro lado, os oponentes mais ferrenhos da adesão organizaram seu último protesto. No dia 31 de dezembro, ao som de gaita de foles, 500 pessoas participaram de um desfile de tochas em frente ao Palácio de Westminster, sede do Parlamento.

- Bombas fétidas -

No dia 2 de janeiro, um jantar "europeu" com 258 lugares organizado pelo conselho britânico do movimento europeu no Castelo de Hampton Court, uma antiga residência real, deu início às festividades.

No dia seguinte, a Rainha Elizabeth II, o Príncipe Philip e Edward Heath compareceram à primeira grande noite de gala no Covent Garden Opera House. Eles foram recebidos com bombas com mau cheiro lançadas por cerca de 200 militantes da Frente Nacional, um partido nacionalista.

A AFP reportou, então, uma opinião pública "duvidosa" e "profundamente dividida". A adesão havia sido decidida em 1972 por votação do Parlamento e os eleitores não foram consultados por referendo, ao contrário do que aconteceu nos outros dois países que ingressaram em 1º de janeiro de 1973, Irlanda e Dinamarca.

- "Paraíso para idiotas" -

Em busca de compreender o "homem comum", o repórter da agência, Basile Tesselin, encontrou em um pub de Londres um gráfico que disse: "Temos um governo que é nosso, um Parlamento que elegemos. Não queremos ser dirigidos por não sabemos quem em Bruxelas. Tudo o que temos é melhor que o seu."

"Não confio em você (...), vejo você chegando. Você nos bajula. E então, quando estivermos na sua maldita armadilha, seu paraíso para idiotas, você nos fará lutar com nossos verdadeiros amigos, os americanos, os canadenses, os australianos. E vocês todos se tornarão comunistas e nos arruinarão com vocês", disse um motorista de táxi escocês ao seu lado.

O bar estava cheio de recriminações: sobre o IVA, o peso dos caminhões, a entrada gratuita de europeus ...

Um caminhoneiro escocês cortou o clima: "Gosto de ir para a Europa. Sinto-me em casa lá. Não confio nos ingleses".

Por sua vez, a oposição trabalhista já havia comunicado sua intenção de renegociar o tratado de adesão. Seu líder, Harold Wilson, acusava o governo de ter "abdicado" para Bruxelas.

De volta ao poder, e após ter obtido uma renegociação, em 1975 organizou um primeiro referendo sobre a manutenção do país na CEE, aprovada com 67% dos votos.

Quarenta e um anos depois, em 23 de junho de 2016, os britânicos decidiram deixar a UE com 51,9% de votos favoráveis. Um Brexit que mergulhará o Reino Unido em uma sucessão de crises e foi finalmente concluído em 31 de janeiro de 2020.

Nesta quinta-feira (24) o círculo se fechou em definitivo, com o acordo comercial que vai administrar as relações entre Reino Unido e União Europeia a partir de 1 de janeiro de 2021.


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