Em Belém, em dezembro do ano passado, uma multidão de ônibus climatizados levava dezenas de milhares de turistas para esta pequena cidade palestina, a menos de 10 km de Jerusalém, atrás de um muro de concreto construído por Israel.
Na caverna próxima à Basílica da Natividade, quatro monges quase em transe recitam suas orações em armênio. Suas vozes reverberam na cavidade, em meio a fumaça de incenso.
"Às vezes, mais de meio milhão de pessoas vinham à Basílica durante as festas, mas este ano com o coronavírus há muitas restrições sanitárias (...). Há menos comércio, porém mais religião", disse Rami Asakrieh, o padre da paróquia de Belém na Cisjordânia ocupada.
Neste ano, na noite de 24 de dezembro, não haverá missa com público na Basílica, nem a presença de dirigentes palestinos, liderados pelo presidente Mahmud Abbas. A missa de Natal apenas com os sacerdotes será transmitida em todo o mundo.
- "Luto e dor" -
Nos últimos dias antes do Natal, a capela de Santa Catarina foi aberta ao público local, assim como a Basílica da Natividade.
"O Natal é a festa da alegria e da paz para todos os povos, mas este ano, por causa da pandemia (...) predomina a depressão", lamenta Nicolas al-Zoghbi ao sair da missa, falando do "luto e dor" pelos que, como seu filho, perderam por exemplo seu trabalho.
Nas ruas, a economia local está por um fio.
"Faz 60 anos que estou neste negócio e nunca na minha vida vi algo assim, nem mesmo durante as revoltas palestinas na Cisjordânia" - território ocupado por Israel desde 1967 -, conta desesperado Georges Baboul, sentado em frente à sua loja.
- Sem presentes em Gaza -
Sem turistas estrangeiros, os comerciantes de Belém também não podem contar com as centenas de cristãos da Faixa de Gaza, território palestino sob bloqueio israelense, que cruzam o território israelense para visitar Belém.
"Neste ano, não tivemos a permissão devido à pandemia de coronavírus", explica o padre Yusef Asad, do monastério latino de Gaza.
Assim como as mesquitas deste enclave, sob controle do Hamas, a igreja latina também está fechada ao público e as missas são transmitidas online.
Isa Abu Georges, que não pôde comprar presentes para seus filhos, assiste as missas pela internet.
No Natal, "minha família e eu rezaremos a Deus para que a pandemia acabe e a paz prevaleça na Terra Santa e no mundo".
BELÉM