A reta final das negociações sobre o Brexit, que parecem estagnadas, está na agenda lotada da reunião de cúpula europeia que teve início nesta quinta-feira (10) e também deve abordar o bloqueio do plano de recuperação, o clima e possíveis sanções à Turquia.
A sessão presencial na sede do Conselho Europeu começou com um minuto de silêncio em homenagem ao ex-presidente francês Valéry Giscard d'Estaing, falecido na semana passada.
O destino da relação pós-Brexit provavelmente será definido até domingo. Esta foi a decisão do primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, e da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, durante um jantar de trabalho na quarta-feira (9) em Bruxelas. Nele, ambos constataram, mais uma vez, as profundas divergências.
A presidente do Executivo europeu vai apresentar um relato das discussões aos chefes de Estado e de Governo, mas nenhuma decisão sobre o tema deve ser anunciada na reunião, que seguirá até sexta-feira.
O ministro britânico das Relações Exteriores, Dominic Raab, afirmou que considera "improvável" que as negociações comerciais pós-Brexit entre Londres e Bruxelas se prolonguem além do domingo, caso a UE não mostre flexibilidade.
"Não acredito que possamos continuar a este ritmo sem algum progresso e flexibilidade por parte dos europeus", disse o chanceler à BBC.
Em Bruxelas, a Comissão Europeia apresentou o plano de emergência em matéria de direitos de pesca e para proteger o transporte aéreo e terrestre, dada a possibilidade de não se chegar a um acordo com o Reino Unido.
"Nossa responsabilidade é estarmos preparados para todas as eventualidades, inclusive não termos um acordo com o Reino Unido em 1º de janeiro. Por isso, apresentamos essas medidas", disse Von der Leyen.
No outro grande obstáculo, o do plano de recuperação pós-covid (750 bilhões de euros, 908 bilhões de dólares) e do orçamento da UE 2021-2027 (1,074 trilhão de euros, 1,2 trilhão de dólares), paralisados por um veto da Hungria e da Polônia, o horizonte parece mais limpo.
Os 27 países do bloco devem se pronunciar sobre um compromisso alcançado na quarta-feira pela presidência alemã da UE com Budapeste e Varsóvia, contrários a um mecanismo que condiciona a liberação de fundos europeus ao respeito pelo Estado de direito.
O mecanismo, que não foi alterado, foi acompanhado de uma declaração "explicativa" destinada a responder as preocupações dos dois países. Consultado pela AFP, o texto menciona a possibilidade de se recorrer ao Tribunal de Justiça Europeu sobre a legalidade do mecanismo antes de sua aplicação.
Ao chegar nesta quinta-feira à reunião, o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orban, disse que "estamos a apenas um centímetro do consenso".
Em sua opinião, chegar a um acordo é a "vitória de sentimo comum".
Já o primeiro-ministro da Polônia Mateusz Morawiecki afirmou que o mecanismo de condicionalidade abriria a porta para "premissas politicamente motivadas" que permitiriam que "qualquer país seja atacado".
"Na atualidade, sentimos que podemos ser atacados de forma injustificada", disse, e no futuro "qualquer outro país" passaria pelo mesmo.
- Relações com a Turquia -
Outro tema delicado é o da ameaça de sanções contra a Turquia, devido a seus trabalhos de exploração de gás em zonas marítimas do Mediterrâneo oriental disputadas com Grécia e Chipre.
"Os interesses divergem, e as discussões devem ser difíceis", prevê uma fonte europeia.
Vários Estados, incluindo Alemanha, Itália e Polônia, recusam-se a impor sanções econômicas, ou um embargo, a um país-membro da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).
Um acordo mais fácil deve ser alcançado sobre a necessidade de coordenação diante da covid-19 para evitar a terceira onda contágios e organizar futuras campanhas de vacinação.
Outra questão a ser abordada é o clima: os países do bloco devem se pronunciar sobre a nova meta de emissões de gases causadores do efeito estufa até 2030.
A proposta da Comissão de uma redução de "pelo menos 55%" em comparação a 1990, contra a meta de 40% atualmente, não é questionada, mas sim as modalidades.
"A distribuição dos esforços não pode ser ser baseada apenas no PIB, nem vinculada mecanicamente ao crescimento econômico", adverte um diplomata.
A Polônia, por exemplo, ainda muito dependente do carvão, rejeita qualquer meta nacional, por temer duras consequências econômicas.
Para evitar um veto de Varsóvia, os membros do bloco poderiam se ater a um objetivo "coletivo", fruto de um "esforço que levará em consideração a imparcialidade e a solidariedade, não deixando ninguém para trás", segundo uma versão provisória das conclusões da reunião obtida pela AFP.
Na sexta-feira, será abordada a luta contra o terrorismo, após os recentes atentados extremistas na França e na Áustria, em especial com o pedido de regras para se exigir que as plataformas digitais retirem os conteúdos de caráter terrorista no prazo de uma hora.