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Estado de Minas

Calma e ansiedade na única estrada entre Karabakh e Armênia


27/11/2020 08:55

Um soldado russo aponta em um enorme caderno para o número da placa dos veículos que circulam pelo corredor de Lachin, a única estrada que une Nagorno Karabakh com a Armênia, um lugar estratégico onde a presença de forças de paz russas tranquiliza, mas a população teme que isso acabe na próxima terça-feira, quando o Azerbaijão assumirá o controle da zona.

"Quando as forças de paz (russas) chegaram, a situação se acalmou em relação aos combates. Estamos tranquilos", afirma Erik Tovmassian, passageiro de um automóvel que viajava de Stepanakert, a capital de Nagorno Karabakh, para Yerevan, a capital da Armênia, para passar por uma cirurgia nos olhos.

Tovmassian ficou em Stepanakert durante a guerra com o Azerbaijão e sua família retornou à cidade depois de 9 de novembro, quando foi assinado o acordo de cessar-fogo, mediado por Moscou, e que concretizou a derrota armênia após seis semanas de intensos combates.

Com trajes militares camuflados, capacetes e fuzis, os russos estão presentes em meia dúzia de postos de controle ao longo dos 60 km que separam Stepanakert da fronteira com a Armênia, no sentido sudoeste, passando pelo corredor de Lachin.

"Estamos fazendo turnos de cinco horas, temos que ficar acordados", diz um dos soldados na saída de Stepanakert.

O contingente de cerca de 2.000 soldados russos encarregado de supervisionar o cessar-fogo ficará implantado na região por cinco anos, de acordo com o acordo que encerrou o conflito.

Oito quilômetros adiante, a estrada passa em frente a Shusha, uma cidade estratégica, na qual o Azerbaijão se impôs à força no início de novembro.

- Situação "tranquila" -

A pequena estrada de acesso à cidade está bloqueada pelos soldados de Baku, posicionados atrás dos soldados russos.

Os jornalistas da AFP ouviram músicas azerbaijanas por um alto-falante. "Eles fazem isso com frequência", comenta um soldado russo.

A estrada que leva a Shusha faz uma curva e, no cruzamento seguinte, o posto de controle do Azerbaijão está sob a responsabilidade de um capitão das forças especiais.

"A situação está calma", diz este homem, que deseja manter o anonimato, à AFP.

"Há apenas soldados em Shusha. Alguns civis (azerbaijanos) vêm de vez em quando apenas para consertar a infraestrutura" da cidade, palco de intensos combates, acrescenta o oficial.

"A estrada (entre Stepanakert e Lachin) tem um papel muito importante (para nós), é vital, e talvez a partir de 1º de dezembro também possamos utilizá-la", afirma.

Shusha é um dos quatro distritos tomados pelas armas por Baku. Dois outros, Aghdam e Kalbajar, foram entregues pela Armênia ao Azerbaijão.

O último, Lachin, será entregue no dia 1º de dezembro, ideia que preocupa seus habitantes.

Na cidade de Lachin, no centro desse corredor, o gerente de uma mercearia não esconde sua preocupação.

"Não sabemos se devemos partir. Como a loja fica na beira da estrada, espero poder ficar com ela", afirma o homem que não quis se identificar.

- Sem lugar para ir -

Na frente da loja, com uma bengala e uma bolsa preta, Margarita Khanaghian, de 81 anos, não consegue acalmar sua raiva.

"Eu saí durante a guerra, aí nos disseram para voltarmos e eu voltei. Agora temos que ir de novo, mas para onde?", pergunta.

A preocupação também prevalece em Aghavno, cujo nome azerbaijano é Zabukh, a última aldeia antes da fronteira com a Armênia.

Quase 60 casas foram construídas aqui há menos de dez anos e na cidade ainda há homens armados com fuzis, como na guerra, quando queriam se defender.

"Não os quero (os azerbaijanos) em minha casa. Eles estão destruindo nossas cruzes, nossos túmulos", diz Andranik Chavushian, chefe do vilarejo.

Nasrin Rassoian, uma mãe de cinco e filhos e que está grávida novamente, escuta. Está chorando. Seu marido morreu na guerra.

"Nunca saí de casa. Não tenho para onde ir com os meus cinco filhos. Se me derem uma casa eu saio" da aldeia, afirma


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