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Estado de Minas

Iraque fecha seus campos de deslocados, último refúgio para famílias vulneráveis


13/11/2020 10:55

Restam apenas alguns toldos e barras de metal soprados pelo vento do grande campo de deslocados iraquianos, instalado há cinco anos no complexo turístico de Habbaniyah e que foi evacuado nesta semana em menos de 48 horas, com uma rapidez que preocupa muitas ONGs.

O governo iraquiano parece disposto a evacuar todas essas cidadelas compostas por barracas, que se multiplicaram com a emergência do grupo Estado Islâmico (EI) em 2014. Vários deslocados e ONGS consideram, no entanto, que não há garantia de condições de um retorno seguro.

Em um ônibus que leva os deslocados de Habbaniyah, no oeste do Iraque, Zainab, seu marido e seus seis filhos tiveram de abandonar a vida que haviam construído no acampamento para serem enviados... para outro acampamento!

"Não podemos voltar para casa", diz a mulher à AFP.

Sua tribo, uma instituição essencial no Iraque, acusa-os de ter apoiado o EI. Injustamente, diz ela, mas agora eles estão sob ameaça de prisão, ou de serem vítimas de um massacre.

Ali, por sua vez, vai voltar para sua cidade de Al Qaim, a 250 km de distância. Mas terá de pagar aluguel até que tenha os meios para reconstruir sua casa.

O responsável local do Ministério dos Deslocados, Mustafa Serhan, afirma que "essas famílias não estão submetidas a retornos forçados, nem a saídas precipitadas: os campos de Anbar (província onde está Habbaniyah) foram abertos há cinco, seis, ou sete anos. De qual precipitação que eles falam?".

- Milhões de deslocados -

Em 2016, 3,2 milhões de iraquianos foram deslocados. Três anos após a vitória sobre o EI, são 1,3 milhão, dos quais 20% vivem nesses campos, e o restante, em casas de aluguel.

Embora o Iraque tenha anunciado várias vezes sua intenção de fechar os campos, o processo acelerou em outubro.

Entre 18 e 30, cinco acampamentos - nas províncias de Bagdá, Kerbala e Diyal - foram fechados. Mais da metade de seus habitantes não conseguiram voltar para suas casas, segundo a Organização Mundial para as Migrações (OIM).

Entre 5 e 11 de novembro, mais de 6.000 dos 8.000 deslocados de Hammam al Alil foram obrigados a sair das instalações, para voltarem para suas casas em ruínas, ou para outros acampamentos.

"Com esses fechamentos precipitados, há o risco de que tenhamos mais de 100.000 pessoas sem teto no início do inverno e em plena pandemia de covid-19", alerta o Conselho Norueguês para Refugiados.

"O Iraque se comprometeu a tornar os retornos viáveis, transparentes e que sejam feitos de forma digna, mas todas essas condições não são respeitadas", acusa o voluntário de uma ONG.

No ano passado, vários deslocados já disseram que foram ameaçados. Deles, 60% afirmaram que voltaram contra sua vontade, e 44% deles foram levados para outro campo, segundo um estudo recente.

As autoridades alegam que esses retornos permitirão redirecionar a ajuda humanitária e internacional dos acampamentos para a reconstrução.

A intenção é boa, diz Belkis Wille, da Human Rights Watch, "mas não é por isso que se deve forçar as pessoas a retornarem contra sua vontade para regiões onde são mais vulneráveis".

Quando os primeiros anúncios de fechamento dos campos foram feitos, a chefe de assuntos humanitários da ONU no Iraque, Irena Vojackova-Sollorano, destacou em um comunicado que essas medidas foram "adotadas independentemente da ONU".

Seu escritório chegou a aceitar conceder uma entrevista à AFP, à medida em que os campos eram fechados, mas desistiu, repentinamente, de concedê-la.


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