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Estado de Minas Eleições nos EUA

Silêncio presidencial respaldado

Aliados mais próximos de Bolsonaro avaliam que decisão do Planalto de não emitir nenhuma mensagem reconhecendo a vitória de Joe Biden é a mais correta no momento


09/11/2020 04:00 - atualizado 09/11/2020 09:17

O presidente Jair Bolsonaro não cumprimentou Joe Biden e, como Trump não reconhece derrota, aguarda um resultado oficial para se pronunciar(foto: Edu Andrade/Fotopress/Estadão Conteúdo - 28/08/20)
O presidente Jair Bolsonaro não cumprimentou Joe Biden e, como Trump não reconhece derrota, aguarda um resultado oficial para se pronunciar (foto: Edu Andrade/Fotopress/Estadão Conteúdo - 28/08/20)

 

A despeito da manifestação de uma série de líderes internacionais sobre a eleição de Joe Biden como presidente dos Estados Unidos, inclusive de chefes de Estado que mantinham uma postura mais alinhada a Donald Trump, o presidente Jair Bolsonaro continua sem emitir nenhuma mensagem em reconhecimento da vitória do democrata. Como a contagem dos votos em alguns estados norte-americanos ainda não terminou, apesar de as projeções já indicarem a derrota de Trump, e diante das alegações do republicano de que houve fraude no processo eleitoral, o brasileiro não quer se precipitar com o posicionamento do Palácio do Planalto até que o martelo esteja batido.

 

Ontem à tarde, Bolsonaro deixou o Palácio do Alvorada para uma visita fora da agenda à Granja do Torto, onde atualmente reside o ministro da Economia, Paulo Guedes. Bolsonaro não falou com a imprensa. Ele continua mantendo suspense sobre uma possível congratulação ao democrata por sua vitória nas urnas contra o atual presidente dos EUA, o republicano Donald Trump. Nem a assessoria da Presidência nem a do ministro da Economia confirmaram, até o momento, o motivo do encontro.

 

Mais do que o apoio a Trump, o silêncio pode ser estratégico. Com a eleição de Biden, analistas avaliam que haverá mudança na política exterior norte-americano, com favorecimento do multilateralismo e retomada da agenda climática, temas que podem pressionar o Brasil uma vez que o próprio democrata, ainda como candidato mandou um recado ao afirmar que colocaria US$ 20 bilhões à disposição do Brasil para preservar a Amazônia, podendo impor sanções se não houver controle sobre desmatamento e queimadas. Para o analista político da consultoria Dharma, Creomar de Souza, “a pressão será sobre o Ministério do Meio Ambiente, de Ricardo Salles, e o Itamaraty, de Ernesto Araújo, escolhidos da ala ideológica do governo. A expectativa é que Bolsonaro resista a demiti-los, mas terá que mudar a política exercida”, diz Creomar.

 

“Com um resultado tão apertado e os ânimos ainda à flor da pele, fica evidente que o processo eleitoral ainda não acabou. mas se faz necessário projetar o cenário de como o governo brasileiro vai lidar com essa mudança em um grande parceiro comercial, tanto na questão econômica, após um desastroso ano com pandemia, quanto na ideológica, agora que Jair Bolsonaro não tem mais seu exemplo mais poderoso de como governar um país”, afirma, em nota, a Universidade Presbiteriana Mackenzie. “Nas eleições americanas, o dilema é que, caso o Trump perca mesmo, o governo vai ficar isolado do ponto de vista simbólico e de narrativa, pois a realidade entre Brasil e Estados Unidos é maior que a de Bolsonaro e Trump. Se Biden ganhar, a política externa pode sofrer muita pressão. Não sei se troca o ministro, mas vai ter que mudar a política. E no Meio Ambiente, teria que reinventá-la”, acrescenta Creomar de Souza.

 

Para a indústria, a expectativa da Confederação Nacional da Indústria (CNI) é que a vitória de Biden não interrompa as negociações dos acordos bilaterias entre Brasil e Estados Unidos. “A indústria brasileira tem histórico de bom relacionamento com governos Democratas. Durante o mandato do ex-presidente Barack Obama, do qual Joe Biden foi vice, Brasil e Estados Unidos avançaram em importantes agendas comuns, com a assinatura dos acordos Céus Abertos, previdenciário e de cooperação econômica e comercial. Foi Biden, como vice-presidente, quem assinou protocolos de intenção dos dois países referentes a acordos de facilitação de comércio e de boas práticas regulatórias, que estão atualmente em negociação” lembra o presidente da CNI, Robson Braga. “Esperamos que essa agenda seja acelerada nos próximos anos”, afirma o presidente da CNI, Robson Braga de Andrade.

 

Comportamento Mas longe do risco de mudanças nas relações entre os dois países, o comportamento de Trump diante do resultado divulgado pela mídia é o que mais influencia Bolsonaro a manter o silêncio. O agora ex-chefe da Casa Branca não admite que perdeu as eleições e já prometeu acionar a Suprema Corte dos Estados Unidos e o Judiciário de alguns estados para que a apuração dos votos seja refeita. Nas redes sociais, Trump continua contestando a eleição de Biden, mesmo sem apresentar provas que sustentem as suas acusações. Dessa forma, Bolsonaro vai esperar ou o veredito da Justiça americana ou que o republicano aceite o triunfo de Biden para se posicionar.

 

Aliados do presidente no Congresso acreditam que a postura do chefe do Executivo tem sido correta até o momento. Parlamentares da ala mais ideológica pontuam que, enquanto não houver a confirmação oficial de autoridades judiciais dos Estados Unidos, o melhor que Bolsonaro pode fazer é esperar. “As eleições não terminaram ainda. Nós temos que ter respeito ao processo. Existem ações judiciais que foram ajuizadas pelo lado republicano que merecem apreciação”, diz o deputado Major Vitor Hugo (PSL-GO).

 

Assim como Trump e a equipe dele têm declarado, Vitor Hugo opina que “existem suspeitas graves de fraude eleitoral” e que, por isso, emitir alguma declaração reconhecendo a eleição de Biden por agora “não é prudente para ninguém”. “As pessoas que estão se manifestando estão antecipando e, até, desrespeitando o processo eleitoral norte-americano, que não se findou. É importante ter cautela nesse momento, porque nós temos que esperar todas as definições por parte do poder judiciário dos Estados Unidos para, só depois, alguém poder dizer que é vitorioso”, analisa.

 

Na mesma linha dele, a deputada Bia Kicis (PSL-DF) frisa que o governo brasileiro precisa “aguardar a Justiça decidir se houve ou não fraude nas eleições americanas e quem é o vencedor”. “Até lá, toda manifestação, inclusive de autoridades brasileiras, é precipitada e desrespeita a Justiça e o povo americano”, pondera.

 

Futuro Assim como os dois colegas, o deputado Bibo Nunes (PSL-RS) defende que Bolsonaro tem de aguardar o resultado oficial. Para o parlamentar, o presidente não está errado por não ter se manifestado até o momento. “Um posicionamento oficial só deve vir com o resultado oficial. Um presidente tem que se portar dessa maneira, é o que a liturgia do cargo exige. Ele não pode sair oficializando algo que não está oficializado ainda”, diz.

 

De todo modo, caso a vitória de Biden venha a ser corroborada pela Justiça, o deputado espera um distensionamento entre o democrata e Bolsonaro. “Acredito que, com o tempo, o relacionamento será normal, pois o maior parceiro dos Estados na América Latina é o Brasil. Essa parceria tem que continuar, porque é bom para ambos os países. Depois de passado o momento de empolgação eleitoral, tudo vai para o seu devido lugar, onde quem manda é a razão”, prevê Nunes. (Com Marcílio de Moraes)

 

 

Análise da notícia
 
Relação de importância estratégica

 

Marcílio de Moraes

 

Independentemente do sucesso ou não da estratégia do presidente Donald Trump e da confirmação da eleição do democrata Joe Biden para a Presidência dos Estados Unidos, será importante para o Brasil manter um bom relacionamento com o seu principal aliado no Ocidente e segundo maior cliente comercial. Brasil e Estados Unidos são parceiros de longa data, com o intercâmbio entres os dois países superando os US$ 100 bilhões anuais e os investimentos diretos das empresas norte-americanas passando de US$ 70 bilhões no ano passado. Além desses números, Brasil e Estados Unidos iniciaram negociações para um acordo de redução de barreiras não tarifárias com a promessa do governo norte-americano de alocar US$ 20 bilhões no Brasil para o desenvolvimento da rede 5G, cujo leilão será no próximo ano. A própria Amazônia pode se beneficiar dos recursos dos Estados Unidos, que se posicionam contra o desmatamento e as queimadas, não contra o desenvolvimento sustentável com preservação da floresta. A própria afirmação do ministro da Economia, Paulo Guedes, de que “nós queremos dançar com todo mundo”, mostra que o governo está ciente da importância de manter um bom relacionamento com o governo norte-americano. Nesse caso, para não melindrar interesses, a avaliação seria de que é melhor aguardar um resultado oficial para que o país tenha uma posição oficial.

 

Presidente do México, Lopez Obrador disse que vai esperar a decisão da Justiça dos EUA(foto: Presidência do México/AFP)
Presidente do México, Lopez Obrador disse que vai esperar a decisão da Justiça dos EUA (foto: Presidência do México/AFP)

 

Outras nações aguardam

 

Numerosos dirigentes mundiais parabenizaram Joe Biden após o anúncio de sua vitória nas eleições presidenciais dos Estados Unidos, que encerrará o mandato de Donald Trump, mas como o republicano não reconheceu a derrota e o resultado não é oficial, um grupo de países assim como o Brasil ainda aguarda uma definição, que pode demorar e chegar até 14 de dezembro, quando os delegados de cada estado se reunirão para confirmar o eleito. O presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, disse que aguardará a resolução das “questões jurídicas” das eleições presidenciais dos Estados Unidos para estabelecer sua posição e garantiu que mantém uma relação muito boa "com os dois candidatos".

 

“Não queremos ser imprudentes, não queremos agir levianamente e queremos respeitar a autodeterminação dos povos”, disse o presidente. Na Rússia, o líder da oposição russa Alexei Navalny parabenizou Biden por “definir a nova liderança em uma eleição livre e justa”. Mas o presidente Vladimir Putin manteve o silêncio em relação à eleição norte-americana.

 

O presidente turco,  Recep Tayyip Erdogan também não reconheceu a declaração de que Joe Biden é o novo presidente dos Estados Unidos. “Do ponto de vista da Turquia, alguma coisa mudará? Não, não mudará”, disse o vice-presidente turco Fuat Oktay em entrevista ao canal Kanal 7, acrescentando que a “boa comunicação” entre Trump e o presidente turco ajudou os aliados da Otan a resolver problemas “muito sérios”. Na Ásia, Coreia do Norte e China, que trava uma guerra comercial com os Estados Unidos também não se pronunciaram.

 

Felicitações No grupo dos que parabenizaram Biden pela vitória, reconhecendo o resultado da apuração, estão o Reino Unido, a França, a Alemanha, o Japão e Israel. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu parabenizou Joe Biden e o chamou de “grande amigo de Israel”. “Parabéns a Joe Biden e Kamala Harris. Joe, nos conhecemos há quase 40 anos, nosso relacionamento é cordial e sei que você é um grande amigo de Israel. Estou ansioso para aprofundar ainda mais a parceria especial entre os Estados Unidos e Israel”, escreveu Netanyahu no Twitter.

 


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