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Estado de Minas

Maioria dos argelinos dá as costas a referendo constuticional


01/11/2020 17:55

A maioria dos eleitores argelinos deu as costas neste domingo (1º) ao referendo constitucional, com o qual as autoridades querem virar a página do movimento de protesto popular Hirak, mas que teve uma participação muito baixa.

Sessenta e um mil seções eleitorais da Argélia fecharam às 19h locais (15h de Brasília) e teve início, então, a apuração dos votos de uma consulta que poderia registrar uma abstenção recorde, o que representaria um fracasso para o regime argelino.

Os níveis de participação, o fator mais importante em uma votação boicotada pela oposição, se situavam apenas em 18,44% às 17h GMT (14h de Brasília), segundo Mohamed Charfi, presidente da Autoridade Nacional Independente das Eleições (ANIE).

Nas eleições presidenciais de 12 de dezembro, também boicotadas pelo movimento de contestação, a participação foi de 39,93%, ou seja, a mais baixa de todas as eleições presidenciais pluralistas da história do país.

Um jornalista da AFP acompanhou a apuração em duas seções eleitorais na capital, Argel, nos quais a participação foi de apenas 11,5% e 12,5%, respectivamente;

Diante de uma população totalmente indiferente, ninguém duvida da vitória do 'Sim', após uma campanha na qual os partidários do 'Não' foram impedidos de organizar comícios.

O referendo deste domingo também foi marcado pela ausência de seu principal incentivador, o presidente Abdelmadjid Tebboune, que não estava na Argélia por ter sido hospitalizado no exterior, embora sua mulher tenha votado por procuração.

Em uma mensagem divulgada no sábado à noite pela agência oficial APS, Tebboune afirmou que "povo argelino comparecerá, de novo, ao encontro com a história (...) para instaurar uma nova era e realizar as aspirações de nosso povo para um Estado forte, moderno e democrático".

A data do referendo não foi escolhida ao acaso: o dia 1º de novembro marca o aniversário do início da Guerra de Independência contra a potência colonial francesa (1954-1962).

Tebboune, 74 anos, está na Alemanha desde quarta-feira para "exames médicos", depois da detecção de casos suspeitos de covid-19 em pessoas de sua equipe. A presidência afirma que sua condição é "estável e não é preocupante".

- "Mudança de fachada" -

Desde sua posse, Tebboune se comprometeu a reformar a Constituição de 1996, atendendo um pedido dos manifestantes do Hirak. Desta maneira, ele considera que cumpriu as reivindicações do movimento.

Mas os ativistas rejeitam "o conteúdo e a forma" de um texto que consideram uma "mudança de fachada". Eles desejam uma "mudança de regime" e convocaram um boicote da consulta.

O povo argelino "se levantou pela democracia, não por um enésimo regime presidencialista árabe", explicou à AFP Ghalem, de 40 anos, um professor residente em Sidi bel Abbès, no noroeste do país.

Surgido em fevereiro de 2019 com o cansaço dos argelinos que eram contrários ao quinto mandato do presidente Abdelaziz Buteflika, o Hirak reclama um "desmantelamento do sistema" que governa a Argélia desde 1962.

Buteflika renunciou em abril de 2019, mas o sistema prossegue em vigor.

De fato, a nova Lei Fundamental destaca uma série de direitos e liberdades para atender as aspirações dos "hirakistas", mas mantém o essencial do regime presidencial.

"Nada mudou, continuamos com um regime ultrapresidencialista", constata o constitucionalista Massensen Cherbi.

Durante a campanha, os partidários do 'Sim' insistiram que o projeto estabelece as bases para uma "nova Argélia".

Quase 20 meses depois da explosão dos protestos, o referendo constitui um teste para um Hirak enfraquecido pela repressão diária e a interrupção das manifestações devido à crise de saúde.

Neste domingo vários manifestantes foram detidos em Argel e em Tizi Uzu (norte), segundo o Comitê Nacional para a Libertação dos Detidos (CNLD).

Quase 90 pessoas, entre ativistas, blogueiros e jornalistas, estão na prisão por atos relacionados com os protestos, a maioria por publicações no Facebook, segundo o Comitê Nacional para a Libertação dos Detidos (CNLD).


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