(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas

Antiga reivindicação mapuche sobre terras e autonomia surge frente a plebiscito no Chile


22/10/2020 16:55

A velha reivindicação dos mapuches pela restituição de terras e por uma maior autonomia voltou à tona diante do plebiscito constitucional que ocorrerá neste domingo no Chile, com setores que acreditam no processo eleitoral e outros que defendem seus próprios métodos para reconstruir a "Nação Mapuche".

Em sinal de resistência, a bandeira "Wenufoje" - ou bandeira Mapuche - tem estado presente nas manifestações que eclodiram no Chile em 18 de outubro de 2019 e que tiveram como resultado o acordo político que possibilitou a realização do referendo histórico sobre uma possível mudança da Constituição herdada do ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990).

Nesse processo, está em jogo pela primeira vez a possibilidade de designar "cadeiras reservadas" para os indígenas e garantir o caráter plurinacional do Chile em uma possível nova Constituição, incluindo os mapuches, aimarás e rapanui, entre outras etnias originárias não reconhecidas no texto vigente.

No entanto, os mapuches - que representam cerca de 7% da população chilena, embora com níveis de pobreza que dobram os do resto da população - têm visões diferentes a respeito desse processo.

"Eu reconheço como um ato democrático que não havia acontecido com relação a que tipo de sociedade se construir, mas tenho algumas dúvidas. Com certeza eles vão reconhecer nossa língua e cultura, mas nunca vão entrar no (assunto do) território e o grande problema é o território", explica à AFP o líder mapuche, Juan Pichún.

- "Não é o caminho" -

Juan é lonko - líder - da comunidade Temulemu, em Traigén, no sul do Chile. Em 2011, junto a outras duas comunidades, assinou um acordo para recuperar 2.500 hectares das mãos da empresa florestal Mininco.

Isso finalizou um período de 15 anos de confrontos marcados por um violento despejo em 1998, além da prisão por terrorismo do falecido líder do comunidade, Pascual Pichún, detido por cinco anos referente a um caso que levou a Corte Interamericana de Direitos Humanos a condenar o Estado chileno.

Em terrenos já recuperados, Juan Pichún acredita que o plebiscito "não é o caminho" para os mapuches terem acesso às suas terras. Acredita nas ações de resistência ou sabotagem às empresas florestais, que já lhes permitiram recuperar alguns dos seus antigos territórios, no desejo de reconstruir a "Nação Mapuche" e de então poder resgatar as suas tradições e espiritualidade.

Ele se uniu à Coordinadora Arauco Malleco (CAM), grupo que organiza ações de sabotagem contra empresas florestais em terras onde hoje há "controle territorial efetivo", ou seja, onde os mapuches vivem e trabalham no campo.

No entanto, para o governo e os agricultores locais, o CAM faz parte dos grupos radicais ou "terroristas" por trás de algumas das centenas de ataques incendiários a escolas, caminhões e máquinas agrícolas ocorridos nos últimos meses nas regiões de Araucanía e Biobío, aumentando o terror entre a população.

"Não somos um grupo de criminosos. Não somos vândalos, mas sim um grupo de militantes", ressalta Pichún.

- Outra forma de convivência -

Há também mapuches que acreditam que o processo do plebiscito é o começo de um necessário debate no Chile.

"A nova Constituição é apenas o início do processo para começar a debater a interculturalidade", explica à AFP o historiador mapuche Fernando Pairican, que também afirma compreender o medo e a desconfiança de algumas comunidades.

Para o advogado e especialista em questões indígenas Salvador Millaleo, "estar fora do processo constitucional é uma posição muito mais limitada" dentro do mundo mapuche.

"A maioria das organizações indígenas aumentou", acrescenta Millaleo, professor da Universidade do Chile, à AFP.

O objetivo dos indígenas é alcançar, por meio desse processo, uma nova convivência com os demais chilenos.

"A ideia não é construir um estado diferente, mas ter uma outra forma de convivência onde não haja domínio do Chile, mas sim tratamento igualitário", acrescentou.

No entanto, as cadeiras indígenas ainda não estão asseguradas na eventual "Convenção Constitucional", que seria aberta caso a opção a favor de uma nova Constituição seja a mais votada no domingo, como mostram todas as pesquisas.


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)