Milhões de franceses se preparam nesta sexta-feira (16) para desfrutar de uma "última noite de liberdade" antes do toque de recolher noturno decretado pelo governo para impedir o avanço da covid-19 em Paris e em outras oito grandes cidades do país.
"Será nossa última noite de 'liberdade' antes do toque de recolher. Será muito difícil não ter uma vida social por várias semanas", disse Rafaela, uma jovem parisiense que planeja sair para jantar com seu grupo de amigos.
Esta noite haverá seis pessoas à mesa, limite imposto pelas autoridades nos restaurantes. E, diz ela, todos vão usar máscara enquanto esperam a bebida ser servida, após o término da refeição e no pós-jantar.
"Agimos com responsabilidade", garante.
Muitos franceses querem aproveitar a última noite sem restrições, antes do toque de recolher que entrará em vigor à meia-noite desta sexta-feira, para desfrutar de delícias culinárias e, ao mesmo tempo, apoiar a indústria da recuperação.
"Vai ser um período difícil para restaurantes, para a cultura, mas, em parte, não temos outra opção se quisermos barrar o aumento de casos e evitar a saturação nos hospitais", avalia Jacqueline, que fez reserva em seu restaurante preferido assim que o presidente Emmanuel Macron anunciou a medida na noite de quarta-feira (14).
Cerca de 20 milhões de pessoas em cidades como Paris, Marselha e Lille serão afetadas por esta medida, que proíbe circular pelas ruas entre 21h e 6h, exceto em casos excepcionais.
Ela entrará em vigor neste final de semana e por pelo menos um mês. Poderá ser prorrogada por até seis semanas, se o Executivo receber o endosso do Parlamento.
Mais de 30.000 casos de covid-19 foram diagnosticados na França nas últimas 24 horas, um recorde, em um país que registra mais de 33.000 mortes desde o início da pandemia.
Os franceses podem sair à rua apenas se forem para o trabalho, por motivos de saúde, para visitar um familiar dependente, ou para passear com o cão. Os infratores pagarão uma multa de 135 euros.
- "Nunca vi algo assim" -
A prefeita de Paris, Anne Hidalgo, está pressionando o governo para afrouxar as regras para teatros, cinemas e outros espaços culturais, que reabriram há poucos meses.
A ministra da Cultura, Roselyne Bachelot, apoiou a ideia, mas o primeiro-ministro Jean Castez se opôs veementemente.
Os donos de restaurantes também criticam a mudança, que eles dizem fazer pouco sentido, dadas as regras de distanciamento social já em vigor em seus estabelecimentos.
Segundo o Executivo, o toque de recolher terá impacto sobre a circulação do vírus em duas a três semanas.
Enquanto isso, o aumento das infecções levanta preocupações quanto à saturação dos hospitais.
A situação já é tensa em algumas regiões, como em Paris, onde a taxa de ocupação de leitos de terapia intensiva por pacientes com covid-19 já ultrapassa 40%.
Para o país como um todo, o número de pacientes internados atualmente em terapia intensiva aumentou acentuadamente nos últimos dias, para 1.741, de uma capacidade total de 5.800 leitos, segundo o ministro da Saúde, Olivier Véran.
As autoridades francesas também proibiram casamentos e outras festas em locais públicos, pedindo à população que limite as reuniões em casas particulares a seis pessoas.