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Estado de Minas

O duro combate judicial das famílias afetadas pela covid-19 contra o Estado chinês


17/09/2020 08:55

As autoridades da China celebram a contenção da pandemia de covid-19 no país, mas, quando as famílias de vítimas do coronavírus decidem reclamar na Justiça, elas sofrem tentativas de silenciamento.

Zhong Hanneng viveu o pior pesadelo para uma mãe quando a doença matou seu filho em fevereiro na cidade de Wuhan, onde o novo coronavírus foi detectado pela primeira vez.

A aposentada de 67 anos deseja levar as autoridades locais à Justiça, as quais acusa de demora na resposta após os primeiros indícios de contágios.

O caminho para alcançar sua meta está, no entanto, repleto de obstáculos. As denúncias de Zhong e de outros familiares de vítimas foram rejeitadas, e dezenas de pessoas sofrem intimidações para não apresentarem qualquer recurso.

Os advogados que pretendem defender as famílias recebem ameaças de represálias.

E do que as famílias acusam as autoridades? Elas afirmam que o governo dissimulou o início da epidemia.

A covid-19 matou quase 3.900 pessoas em Wuhan e provocou mais de 900.000 vítimas fatais em todo mundo.

"Dizem que a epidemia foi uma catástrofe natural. Mas as consequências graves foram provocadas pelo homem, e as responsabilidades devem ser determinadas", afirma Zhong Hanneng.

"Hoje, minha família está quebrada. Nunca mais poderei ser feliz", desabafa.

Ao menos cinco ações foram apresentadas no Tribunal Intermediário de Wuhan, de acordo com Zhang Hai, que perdeu o pai para a covid-19 e que coordena o grupo de famílias das vítimas.

- "Repletos de vírus" -

Os demandantes pedem dois milhões de iuanes (295.000 dólares) cada e exigem desculpas públicas.

O tribunal rejeitou as ações, porém, por razões obscuras de procedimento, denuncia Yang Zhanqing, um ativista chinês para os direitos das vítimas. Morador dos Estados Unidos, ele coordena 20 advogados que aconselham as famílias secretamente.

O tribunal de Wuhan se negou a responder as perguntas da AFP.

O coronavírus foi detectado em dezembro. As autoridades não divulgaram as informações rapidamente e os médicos que começaram a alertar sobre a situação foram reprimidos pela polícia.

O Partido Comunista minimiza sua responsabilidade e insiste em que a origem chinesa do vírus ainda não está comprovada cientificamente. Ao mesmo tempo, não para de alardear a vitória contra a pandemia no país.

Mas Zhong Hanneng não pensa da mesma maneira.

Ela recorda que, em meados de janeiro, as autoridades já haviam registrado vários pacientes, mas, sem uma confirmação oficial de transmissão humana, não emitiram um alerta na cidade.

Por este motivo, Zhong e o filho Peng Yi, um professor de 39 anos, fizeram tranquilamente as compras para o Ano Novo Lunar, a principal festa chinesa, que aconteceu alguns dias depois.

"Não sabíamos que os ônibus estavam repletos de vírus. Saíamos todos os dias, sem máscara", conta ela à AFP, em uma casa de chá de Wuhan.

Em 23 de janeiro, as autoridades anunciaram o confinamento da população de Wuhan. Zhong e o filho ficaram doentes.

- Boatos -

Ela se recuperou rapidamente, mas o estado de saúde do filho piorou. Durante dez dias, eles procuraram desesperadamente um leito em um dos hospitais da cidade. Todos estavam lotados, e ele foi internado apenas em 6 de fevereiro.

A família nunca mais o viu com vida. Ele faleceu duas semanas depois.

"Ele teve tanto medo, sozinho, sem a família ao lado", conta a mãe, sem conter as lágrimas. "Ele chamou o pai, ou por mim? Nunca saberemos", completa.

Zhang Hai afirma que está convencido de que seu pai foi infectado em um hospital de Wuhan onde estava internado por outra doença. Se a prefeitura tivesse alertado a população antes, nunca o teria internado, explica.

Atualmente, as autoridades fazem o possível para desacreditá-lo, afirma Zhang. Um boato começou a circular de que ele deseja enganar as famílias das vítimas.

"Sabem que se eu conseguir apresentar uma ação judicial, muitas famílias apresentarão suas demandas", afirma.

A prefeitura de Wuhan também se recusou a fazer comentários à AFP.

Após a rejeição da primeira ação, Zhang Hai pretende apresentar outra à Justiça provincial. Apesar dos riscos, está disposto a seguir até a Corte Suprema Popular em Pequim, a principal jurisdição nacional.

"Minha motivação é o meu pai", conclui.


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